Cinco Votos para Obter Poder Espiritual.

Primeiro - Trate Seriamente com o Pecado. Segundo - Não Seja Dono de Coisa Alguma. Terceiro - Nunca se Defenda. Quarto - Nunca Passe Adiante Algo que Prejudique Alguém. Quinto - Nunca Aceite Qualquer Glória. A.W. Tozer

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

DEUS CRIOU O MAL? - AUGUSTUS NICODEMUS

 






“Estes não têm raiz.” (Lucas 8.13)

 

 O minha alma, examina-te à luz deste versículo. Recebeste a Palavra com alegria. Teus sentimentos espirituais foram aguçados e uma impressão vívida foi criada. Lembra que receber a Palavra com os ouvidos é uma coisa e que receber a Jesus no íntimo é outra bem diferente. Sentimentos superficiais geralmente acompanham dureza de coração e uma intensa impressão da Palavra nem sempre é definitiva.

  Nesta parábola, a semente, em um caso, caiu no solo rochoso coberto por uma fina camada de terra. Quando a semente começou a criar raízes, seu crescimento para baixo foi obstruído pelas pedras. Por isso, ela utilizou as suas forças para empurrar as folhas a romperem, tanto quanto pudessem, em direção ao alto. No entanto, não possuindo seiva em seu interior, obtida do nutrimento das raízes, ela murchou.
  Será que este é o meu caso? Tenho feito uma exibição na carne, sem possuir uma vida interior correspondente? O crescimento excelente ocorre tanto para cima como para baixo, ao mesmo tempo. Estou arraigado em sincera fidelidade e amor para com o Senhor Jesus? Se meu coração permanece endurecido e não está sendo nutrido pela graça de Deus, a boa semente pode germinar por um tempo, mas murchará depois, visto que não pode florescer em um espírito não-quebrantado e não-santificado. Devo temer uma piedade que cresce tão rápido, que carece de firmeza, como a planta de Jonas. Tenho de avaliar o custo de seguir a Cristo. Devo sentir o poder do seu Espírito Santo; então, possuirei uma semente duradoura e permanente em minha alma. Se meu caráter permanecer obstinado como o era por natureza, o sol do julgamento queimará e meu duro coração ajudará o calor a atingir mais a semente mal coberta. Logo minha fé morrerá e meu desespero será terrível; portanto, ó Semeador celeste, ara-me primeiro e depois, coloca a verdade dentro de mim. Deixa-me produzir uma abundante safra para Ti.

Charles H. Spurgeon 

Via : Voltemos ao Evangelho 


sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Deus escolheu alguns porque previu a fé neles?




  

A teologia arminiana afirma que Deus escolheu os que seriam salvos com base em sua presciência. Segundo essa concepção, Deus olhou para o futuro e viu os homens que creriam, elegendo-os então. Isso levanta a seguinte pergunta: Quem fixou o futuro para o qual Deus olhou? Se foi ele mesmo (e ao crente não resta outra opção), por que teve que consultá-lo? E mais: Se foi o próprio Deus quem estabeleceu o futuro no qual poderia ver de antemão quem creria, isso não equivale a dizer que ele próprio estabeleceu quem creria? Ora, é exatamente isso o que os calvinistas afirmam. Então, por que não concordar com eles de uma vez? Dentro ainda dessa discussão, deve-se considerar que a Bíblia diz que a fé é dom de Deus (Ef 2.8 [o "isto" mencionado nesse versículo se refere ao processo todo que abrange a fé]; Fl 1.29; Hb 12.2). Se é, pois, o Senhor quem concede a fé, por que ele teria que “descobrir” quem creria e, então, escolhê-los?

A posição arminiana, contudo, nesse aspecto, não enfrenta dificuldades apenas por causa da falta de lógica em seus argumentos. A ideia de que Deus elege com base no que antevê também encontra problemas teológicos insolúveis. Por exemplo: se Deus escolhe o homem baseando-se em algum bem visto nele previamente, então a graça de Deus desaparece para dar lugar a uma forma disfarçada de retribuição. Com efeito, se a visão arminiana estivesse correta, a eleição divina deixaria de ser gratuita e incondicional, tornando-se a recompensa dada por Deus àqueles em quem anteviu algo que o agradou, a saber, a fé resultante do uso adequado da graça preveniente. No arminianismo, portanto, a gratuidade da eleição é demolida e, em seu lugar, é edificada uma escolha divina meritória. No fim das contas, o homem é salvo porque Deus o considera digno disso, ao descobrir previamente que ele, de si mesmo e por si mesmo, fará bom uso da graça capacitadora dada a todos.

Ora, o Novo Testamento não dá margem alguma para essa hipótese. De fato, Paulo ensina que a graça de Deus não procura homens dignos, mas sim cria homens dignos (Cl 1.12). A triste realidade é que se Deus procurasse homens dignos para então escolhê-los, ninguém seria salvo. Aliás, a beleza, infinitude e magnificência da graça de Deus é percebida precisamente no fato dele ter escolhido homens que mereciam somente a sua ira (Ef 2.3), pessoas em quem o Senhor não viu virtude alguma, mas sim pecado, maldade, rebelião e ódio contra ele (Rm 5.6-10).

Contrariando o ensino arminiano, o Novo Testamento também realça que a eleição não é a recompensa da fé, mas sim a sua causa (2Ts 2.13), de modo que o indivíduo não é eleito porque vai crer, mas sim vai crer porque é eleito. Realmente, o texto sagrado sempre coloca a eleição como a razão da fé e não o contrário. A escolha de Deus não depende, assim, da fé prevista. É a fé que depende da escolha prévia. É por isso que em Atos 13.48, Lucas afirma que entre os gentios que ouviam a pregação de Paulo em Antioquia da Pisídia, “creram todos os que haviam sido designados para a vida eterna”. Na dinâmica da frase de Lucas, a eleição é a causa, não o efeito da fé.

Como então lidar com Romanos 8.29 e 1 Pedro 1.2? Uma análise simples mostrará que esses textos, na verdade, não amparam em nada a concepção arminiana. Considere-se, a princípio, a frase, “aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou” encontrada em Romanos 8.29. Será que essa frase corrobora mesmo a tese de que Deus primeiro anteviu quais pessoas creriam e então as predestinou para a salvação? De modo nenhum! Para descobrir o verdadeiro significado da expressão “conheceu de antemão” basta observar a sua única outra ocorrência nos escritos de Paulo.

Essa expressão é, na verdade, a tradução do verbo grego proginósko e é usada outra vez pelo apóstolo somente em Romanos 11.2, onde escreve sobre Israel: “Deus não rejeitou o seu povo, o qual de antemão conheceu”. Ora, é evidente que aqui, conhecer de antemão não significa prever a fé, uma vez que Israel nunca creu na mensagem de Deus (At 7.51-53). Resta, pois, somente um sentido possível para a fórmula sob análise, a saber: Deus conheceu de antemão a quem mostraria seu favor. Esse é, portanto o modo como Romanos 8.29 deve ser entendido. Não se trata de Deus saber previamente quem creria, mas sim de Deus saber previamente a quem favoreceria. Esse entendimento, aliás, se harmoniza plenamente com outras passagens do Novo Testamento onde ser conhecido por Deus significa ser alvo do seu favor (1Co 8.3; Gl 4.9; 2Tm 2.19). Aliás, Em 1Pedro 1.20, existe a evidência de que o verbo proginósko também pode significar “fazer algo a fim de assegurar que um evento realmente ocorra”. Esse sentido também corrobora a tese defendida aqui (Veja-se ARICHEA, D. C.; NIDA, E. A. A handbook on the first letter from Peter. UBS handbook series. Helps for translators (42). New York: United Bible Societies, 1994.).

É assim também que o texto de Pedro deve ser interpretado na parte que diz: “escolhidos de acordo com o pré-conhecimento de Deus Pai”. Note-se que nesse versículo, Pedro usa a preposição grega katá, traduzida como “de acordo com”, indicando que a escolha de Deus foi feita conforme ele sabia previamente que iria fazer. É, portanto, como se Pedro dissesse: “Vocês foram escolhidos conforme Deus Pai havia previsto que vocês seriam”. Ora, isso indica que Deus não escolheu os crentes porque anteviu a fé neles, mas sim porque sabia previamente a quem mostraria favor.

 Na verdade, se Pedro quisesse indicar que Deus escolheu porque anteviu a fé, como ensinam os arminianos, ele certamente usaria a preposição diá, extremamente comum na língua grega e cujo significado, quando usada com o modo acusativo (como é o caso em 1Pe 1.2) é “por causa de”. A tradução, então, ficaria assim: “Vocês foram escolhidos por causa do pré-conhecimento de Deus Pai”. Isso sim indicaria que Deus previu a fé e, por causa disso, teria escolhido alguns. Porém, não é esse o caso aqui, de modo que a Bíblia permanece silente no tocante a qualquer suposta eleição divina alicerçada numa fé prevista.

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Autor: Pr. Marcos Granconato
Fonte: Perfil do autor no Facebook

Via: Bereianos 



“A iniquidade concernente às coisas santas.” (Êxodo 28.38)

 

  Que véu é levantado por estas palavras e que revelação elas nos fazem! Parar um pouco e contemplar esta cena desagradável nos traria humildade e proveito – as iniquidades de nossa adoração coletiva, sua hipocrisia, formalidade, indiferença, irreverência, negligência e esquecimento de Deus – quanta abundância temos aqui! Nosso trabalho para o Senhor, a rivalidade, o egoísmo que caracteriza esse trabalho, a falta de cuidado, a descrença – que multidão de profanação! Nossas devoções particulares, frieza, falta de zelo, indiferença, morosidade e vaidade – que montanha de lixo! Se observássemos com mais cuidado, essa “iniquidade concernente às coisas santas” pareceria muito maior do que quando a olhamos pela primeira vez. 
  O Dr. Payson, escrevendo ao seu irmão, disse: “Minha igreja, assim como o meu coração, parece o jardim do preguiçoso. E o que é pior, acho que muitos dos meus desejos referentes à melhora de ambos, procedem do orgulho, da vaidade ou da indolência. Procuro as ervas daninhas que arruínam meu jardim, exalando um desejo sincero de que elas sejam arrancadas. Mas, por quê? O que causa este desejo? Talvez, a vontade de poder sair e dizer para mim mesmo: ‘Em que excelente estado o meu jardim é mantido!’ Isto é orgulho. Pode acontecer que os meus vizinhos olhem por cima do muro e digam: ‘Ora, veja como o seu jardim está florescendo!’ Isto é vaidade! Ou talvez esteja desejando a destruição das ervas daninhas, porque estou cansado de arrancá-las. Isto é indolência!” 
  Até o nosso desejo por santidade pode estar contaminado por motivos errados. Sob o mais verde gramado, vermes escondem-se, não é preciso procurar muito para os encontrarmos. Quão reconfortante é o pensamento de que, quando o sumo sacerdote levava a iniquidade das coisas santas, ele tinha sobre a sua testa as palavras “Santidade ao SENHOR” (Êxodo 28.36). Quando o Senhor Jesus leva nosso pecado, Ele apresenta ao seu Pai não a nossa falta de santidade, e sim a sua própria santidade. Ó, quanto precisamos de graça para ver, com olhos de fé, o nosso Grande Sacerdote!

Autor:  Charles H. Spurgeon 

Via: Voltemos ao Evangelho 


quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Hebreus 6:4-6 Não Ensina Perda de Salvação" - Leandro Lima

 




Fonte: Canal do YouTube da Igreja Presbiteriana de Santo Amaro 



terça-feira, 8 de dezembro de 2015

O desserviço e a briga promovida pelas páginas do tipo "zueira" no Facebook










 
As Redes Sociais viraram um campo de batalha onde alguns em nome de suas percepções teológicas, resolveram promover dissenções, facções e desrespeito. Nessa perspectiva, tornou-se comum encontrar entre cristãos agressões "ad hominem", onde o achincalhe se faz presente. O triste disso tudo é que os defensores do deboche além de disseminarem o ódio, tem promovido mais rancor e divisão na já combalida igreja brasileira. 

Caro leitor, vamos combinar uma coisa? Você tem todo o direito de  discordar de arminianos e  de calvinistas, não é verdade? Todavia, você não tem o direito de ridicularizar aqueles que pensam diferente. 

Ora, como todos sabem eu sou calvinista. Creio nas doutrinas da graça. Acredito nos decretos do Eterno, creio em um Deus Soberano que governa tudo e todas as coisas! Creio na eleição incondicional dos santos, na depravação total, na graça irresistível, na expiação limitada e na perseverança dos santos. Entretanto, o fato de crer nisto não me torna inimigo ou adversário de irmãos em Cristo que pensam e creem diferentemente de mim, nem tampouco me concede o direito de "zoar" os que de mim divergem.  

À luz desse pressuposto penso que as páginas de "zoação" na internet tem produzido um "desserviço" a igreja brasileira é que do jeito que a coisa anda, não demorará muito para que os defensores da "zueira" tenham que responder judicialmente por seus achincalhes e desrespeito, o que com certeza será muito triste.

Na minha opinião essas páginas além de ferirem a unidade da igreja, revelam pelo menos três equívocos cometidos pelos seus articuladores, senão vejamos: 

1-)  Demonstram imaturidade espiritual, emocional e acadêmica, isto porque, seus interlocutores não sabem discutir doutrinas, sem permitir que a passionalidade conduza seus atos e atitudes.

2-) Demonstram infantilidade e meninice pelo fato de que os seus articuladores perdem tempo agredindo irmãos em Cristo,  quando deveriam JUNTOS, lutar pelo evangelho de Cristo

3-) Demonstram irresponsabilidade em "ferir a noiva", maculando a Igreja de Cristo com a criação de facções que com certeza nos fazem ruborizar de vergonha.

Que Deus tenha misericórdia da igreja brasileira, 

Renato Vargens

Via: Blog do autor. 



quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

A letra assassina e o ladrão destruidor: os perigos da superficialidade bíblica!

















Era pouco mais de 20 horas de uma sexta-feira chuvosa. Luizinho, recém convertido através do ENCONTRO com Deus” e com muita vontade de saber mais sobre a fé que lhe fora anunciada, chega para sua primeira aula na “escola de líderes” em uma grande igreja neopentecostal adepta ao G12.

Luizinho, muito empolgado e feliz por ter a oportunidade de aprender mais sobre a Bíblia, indaga ao professor:

– Estou louco para começar a estudar teologia com vocês, meus irmãos!

O professor, com ar de reprovação, responde:

– Luizinho, aqui nós não aprendemos teologia, pois você pode esfriar espiritualmente e desviar-se da fé, porque a Bíblia diz que a letra mata, mas o espírito vivifica.

Luizinho conferiu o versículo na Bíblia e convenceu-se do que o professor afirmou. A partir de então, não se preocupou em estudar a Bíblia a fundo, concentrando-se na "busca espiritual sobrenatural" e nos estudos dos manuais de estratégias G12, dos quais o transformou num produtivo multiplicador de células. Porém, depois de algum tempo não se teve mais notícias de Luizinho. Alguns dizem que o mesmo desviou-se da fé por não ter conseguido bater as metas de multiplicação, impostas pelo apóstolo líder da Igreja.

Outro dia, irmã Mariazinha dirigiu-se ao templo de sua Igreja para um círculo de oração, juntamente com o Pastor e demais irmãos. Logo, começaram uma oração forte pela restituição financeira. Mariazinha, de forma desesperada, pede uma oração ao Pastor afirmando que estava preocupada, pois além de desempregada, todo o dinheiro que ela tinha recebido de um acerto trabalhista havia se perdido em apenas um dia, gasto compulsivamente com roupas e eletrônicos. O Pastor, ao orar, proclamou:

– Satanás, devolva o dinheiro que você roubou da Mariazinha, em nome de Jesus!

– Pastor, então foi Satanás que roubou meu dinheiro? – de forma duvidosa a irmã pergunta.

– Claro irmã, você nunca leu, na Bíblia, que o diabo veio para roubar, matar e destruir? Está escrito lá em João 10:10 – responde o Pastor.

Essas são histórias fictícias, porém realísticas no sentido ilustrativo do que acontece em muitas igrejas. Trata-se de um dos maiores problemas enfrentados em muitas denominações brasileiras, principalmente neopentecostais: a falência da correta interpretação bíblica. Ou, se preferirem: a superficialidade bíblica!

Interpretar as Escrituras de maneira alegórica, pegando textos isolados de seus respectivos contextos, transformando-os em pretextos para justificar a espiritualidade mística particular, é o que podemos denominar de “neomisticismo herético”.[1] Trata-se de uma perniciosa prática de interpretação intuitiva que ignora totalmente a análiseteológica dos textos bíblicos, pois defende que o necessário para se ler a Bíblia é unicamente à oração e o jejum, posteriormente a iluminação do Espírito Santo virá sobre o texto como revelação. Em muitas igrejas contemporâneas, essa prática é defendida com afinco, embora não seja algo novo.

Esse método é errado e perigoso, pois ignora totalmente o entendimento correto dos textos bíblicos e exprime alegoricamente o significado segundo a interpretação particular de quem lê. Neste caso, a Bíblia deixa de ser a palavra de Deus para tornar-se palavra individual de quem interpreta, proporcionando assim as mais absurdas interpretações místicas.

Calvino defendia a hermenêutica “orare et labutare”, ou seja, a oração para buscar a iluminação do Espírito Santo, juntamente com o estudo diligente da Bíblia através do método gramático-histórico.[2] Para ilustrar esse método, Lutero empregou uma figura como exemplo: “um barco com dois remos, o remo da oração e o remo do estudo. Com um só destes remos, navega-se em círculo, perde-se o rumo, e corre-se o risco de não chegar a lugar algum.” [3]

Oração e estudo são princípios básicos fundamentais para compreender as Escrituras. Para tanto, você não precisa ser um exímio exegeta acadêmico, embora reconheça a grande importância do preparo teológico para todos. Em todo caso, para detectar os erros de interpretação bíblica, em primeira instância, basta analisar o contexto direto, ou seja, os versículos que precedem e os que seguem imediatamente nas passagens bíblicas.

O contexto imediato informa o verdadeiro entendimento consistente na passagem, bem como o pano de fundo em que o autor escreveu (tema, propósitos do autor, cenário histórico, tipo de literatura – parábola – poesia – apocalíptica – ensino, a quem foi escrito etc.). Deve-se levar em conta também o contexto amplo nas Escrituras (quais são as outras passagens na Bíblia que abordam sobre o mesmo assunto) e por último, caso seja necessário, incluir no estudo a identificação de termos chaves (palavras difíceis que necessitam de análise textual), nos quais um bom dicionário linguístico e uma concordância bíblica podem ajudar. Com estes importantes passos hermenêuticos, chegaremos ao correto entendimento bíblico.[4]

Depois dessa explicação básica, agora vamos pegar os exemplos das passagens bíblicas citadas no começo do artigo, para analisar o nível de gravidade que um texto mal interpretado pode ocasionar.

A primeira passagem citada de forma superficial é a segunda parte de 2Co 3:6, onde diz: "porque a letra mata, mas o espírito vivifica".

Conforme foi utilizado no caso fictício apresentado, muita gente cai no mesmo erro ao afirmar que a “letra” (o ensino teológico) “mata” a fé do crente, enquanto o “espírito” vivifica. Ou seja, o ensino teológico é amplamente marginalizado com essa afirmação, transformando-o em motivo para esfriamento de fé.

Neste caso, estaria o Apóstolo Paulo afirmando que o estudo das Escrituras seria um suicídio espiritual? Ou melhor: Estaria Paulo indo contra a sua própria erudição e conhecimento teológico, dos quais ele mesmo utilizou diversas vezes para pregar o evangelho (Atos 17, 18 e 19)?

Na verdade, o contexto direto desta passagem nos dá a resposta:

“3: Estando já manifestos como carta de Cristo, produzida pelo nosso ministério, escrita não com tinta, mas pelo Espírito do Deus vivente, não em tábuas de pedramas em tábuas de carne, isto é, nos corações. 4: E é por intermédio de Cristo que temos tal confiança em Deus; 5: não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós; pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus, 6: o qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o espírito vivifica. 7: E, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, se revestiu de glória, a ponto de os filhos de Israel não poderem fitar a face de Moisés, por causa da glória do seu rosto, ainda que desvanecente, 8: como não será de maior glória o ministério do Espírito!” 
(2 Co 3:3-8, negrito acrescentado)

Após a leitura do contexto direto, não é difícil perceber que Paulo estava falando da superioridade da nova aliança sobre a antiga! A “letra” que o apóstolo fala não é o ensino teológico, mas sim uma alusão à lei mosaica (vs 3 e 7), na qual a mesma “mata” pelo fato da necessidade de obediência irrestrita, algo inalcançável, devido o peso de glória contraposto ao corrompido ser humano em pecado, trazendo assim morte espiritual (Gl 3:10). Porém, o espírito vivifica pelo ato de escrever a lei de Deus nas “placas de carne”, ou seja, em nossos corações (vs 3).

Portanto, essa passagem não dá qualquer margem de interpretação para afirmar uma condenação ao ensino teológico. Na verdade, é importante colocar o significado da palavra Teologia: no grego théos = Deus + logos = conhecimento.[5] A teologia, então, simplesmente é uma forma de se organizar o estudo sobre Deus, sobre os ensinos bíblicos. Em outras palavras, quando você estuda a Bíblia, você está fazendo teologia!

A segunda passagem interpretada de forma superficial é: “O ladrão vem somente para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância.”(Jo 10.10)

Estaria Jesus afirmando nessa passagem que o ladrão que mata, rouba e destrói é Satanás? Embora eu reconheça que as intenções do adversário, de fato são essas, o contexto direto da passagem nos dá uma pista de quem é o “ladrão” que Jesus está se referindo, bem como no contexto amplo mostra com exatidão o sentido da metáfora de Jesus, vejamos:

“8:Todos quantos vieram antes de mim são ladrões e salteadores; mas as ovelhas não lhes deram ouvido. 9: Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim, será salvo; entrará, e sairá, e achará passagem. 10: O ladrão vem somente para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância. 11: Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas. 12: O mercenário, que não é pastor, a quem não pertencem as ovelhas, vê vir o lobo, abandona as ovelhas e foge; então, o lobo as arrebata e dispersa. 13:O mercenário foge, porque é mercenário e não tem cuidado com as ovelhas. 14: Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim, 15: assim como o Pai me conhece a mim, e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas.” 
(Jo 10:8-15, negrito acrescentado)

Juntando todo o contexto da passagem, notamos que Jesus não está especificando alguém em particular como “ladrão supremo”. Mas direciona um conceito genérico para aqueles que tomam o bem alheio de forma indevida, mesmo que tal atitude inclua matar e destruir. Ao contrário da obra de Cristo que é trazer vida em abundância (leia-se vida espiritual, vida eterna), os "falsos mestres" agiam como verdadeiros ladrões mercenários. O mercenário que pastoreia as ovelhas para fins lucrativos, no primeiro momento de perigo as abandona (vs 12). Ele não tem genuíno cuidado para com as ovelhas, pois é falso pastor (vs 13), dessa maneira o rebanho torna-se presa fácil para lobos. O bom pastor conhece as suas ovelhas e dá a vida por elas (vs 15). Este era o foco metafórico de Jesus.


Enfim, após o breve exame das duas passagens que pegamos como exemplo, podemos ver o quanto uma interpretação alegórica pode prejudicar o correto entendimento bíblico.

Precisamos corrigir esse problema de maneira urgente. A Hermenêutica deve ser matéria obrigatória em todas as escolas bíblicas dominicais e grupos de estudos, pois se não interpretarmos a Bíblia de maneira correta, como vamos conhecer a vontade de Deus através de sua Palavra? Para tanto, precisamos de preparo adequado para compreender corretamente os ensinos bíblicos. Isso é obrigação de todos, principalmente das lideranças da Igreja.

Sola Scriptura!

Notas:

[1] - Terminologia utilizada pelo Rev. Augustus Nicodemos Lopes em seu blog: 
[2] - Para mais informações sobre o método Hermenêutico Gramático-Histórico, clique aqui!
[3] - Citado por Paulo R. B. Anglada em Hermenêutica Reformada das Escrituras. Fides Reformata 02/01/1997: <http://www.monergismo.com/textos/hermeneuticas/hermeneutica_anglada.htm>, acesso em 28/07/2012.
[4] – Para um melhor entendimento sobre como fazer uma hermenêutica correta, veja este excelente guiaclicando aqui!
[5] - Dicionário Bíblico Strong - Léxico Hebraico, Aramaico e Grego - SBB 2002, págs. 1401 e 1488.

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Autor: Ruy Marinho
Fonte: Bereianos


terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Falsos crentes










Via: Canal do Youtube Luz para o Caminho




sexta-feira, 27 de novembro de 2015

TIRE ESSE PESO DAS COSTAS

 


Por André Storck


Ultimamente tenho parado para observar quão difícil é ser um cristão em nossos dias. Não que isso seja uma novidade, pelo contrário, há muito tempo todo cristão que se preze sente na pele o peso advindo da natural repulsa que um viver de acordo com princípios bíblicos gera nas pessoas que se consideram independentes de Cristo.

Contudo, de uns tempos para cá a coisa tem piorado. Acontece que, como se não bastasse a perseguição por parte de uma sociedade avessa à ética cristã, o peso sobre os ombros dos fiéis tem sido aumentado pelos próprios líderes religiosos mal preparados e por falsos mestres.

As chamadas igrejas (ou seitas, como queiram) neopentecostais são as principais responsáveis por esse fenômeno, elas armam uma verdadeira equipe de guerra para cortar pela raiz qualquer iniciativa dos crentes no sentido de estudarem mais a fundo a Bíblia, o que os levaria -por definição - a se libertarem do julgo de superstições e mentiras. A tática do medo e da ameaça é a principal arma dos falsos profetas.

Os ensinamentos não bíblicos espalhados pregam mais ou menos o seguinte para os crentes mais simples que geralmente frequentam esses tipos de igrejas:

“Você deve obedecer tudo que o pastor mandar, você deve votar em quem o pastor mandar, você deve dar o dízimo e ofertas todo mês e você não pode beber álcool ou fumar.”

Esses mandamentos criados e impostos sobre as pessoas são logo seguidos da ameaça de medo e promessa de prosperidade:


“Se você fizer isso o diabo não poderá atacar a sua vida e você irá prosperar na saúde e financeiramente.”

É claro que as regras impostas não são de todo ruins. Isso porque existem pastores que são verdadeiros servos de Deus e buscam apascentar as ovelhas com amor e zelo. Há pastores honestos que não colocam o dinheiro em primeiro lugar, ao contrário, querem cuidar dos fiéis e honrar a Deus. Pastores que disciplinam de acordo com a Palavra as ovelhas que se desviam, sejam elas grandes dizimistas ou desempregadas. A esses homens devemos respeito e reverência.

O princípio bíblico do dízimo também é algo que - de fato - subsiste até os dias de hoje. Cada crente tem o dever de colaborar de bom grado para a manutenção da igreja. Como afirmou o apóstolo Paulo, cada um deve dar de acordo com o que proposto no coração, não por tristeza nem por necessidade, mas porque Deus ama a quem dá com alegria.

E, por fim, os malefícios do fumo em qualquer quantidade e também da ingestão de álcool de forma desregrada são conhecidos de todos. Ensinar a evitá-los ajuda tanto a saúde física quanto financeira dos fiéis.

Então o leitor deve estar se perguntando, onde está o erro? Onde está o peso extra colocado nas costas do povo de Deus?

O erro acontece, na chantagem e na contraproposta oferecida. Acontece quando a igreja começa a acrescentar deveres não prescritos na Bíblia e impô-los aos crentes de maneira muito parecida como fez e ainda faz a Igreja Católica. Acontece ainda quando fazem promessas não bíblicas que não se concretizam,  gerando decepção e levando os mais fracos a cair. Pecam ao colocar sobre as costas das pobres e exploradas ovelhas um peso que Jesus nunca recomendou.

Vejo com tristeza, por exemplo, o ensinamento não bíblico da ideia de “brechas”, segundo a qual o crente teria “poder” de dar autoridade para que o diabo atuasse sobre sua vida. Ora bolas, Deus não abriu mão de sua soberania. Pelo contrário, ele sabia que mesmo após a conversão nós ainda continuaríamos sujeitos a cair em tentação e pecar e, por isso, disse: “a minha Paz vos dou”. Ora a paz que Cristo dá é a certeza da salvação e de sua soberania “Todo o poder me foi dado”. É por isso que a paz de Jesus não é como a paz que o mundo dá, pois a paz do mundo só existe enquanto você seguir certinho todas as regras do mundo (e olhe lá). Por outro lado, a paz de Cristo permanece mesmo depois que você caiu e pecou, porque Ele sabe que isso acontecerá enquanto não formos para o céu. Cristo não perde o controle sobre sua vida depois que você peca. Daí que ele não nos deu a paz como o mundo a dá, ou seja, de forma condicionada. Ele disse em seguida “não se turbe o vosso coração, nem se atemorize”. Você só precisa se arrepender, confessar e voltar a Cristo depois de ter caído.

Mas muitas igrejas usam a tática do medo para manter os irmãos mais simples presos ali, dando o dízimo todo mês e votos nas eleições de dois em dois anos. Dizem: “Se você sair ou mudar de igreja, se você não votar em quem o pastor mandar, se você não der o dízimo dará “legalidade” ou abrirá “brecha” para o diabo entrar em sua vida e acabar com você e sua família”.

São vários os exemplos de ensinamento não bíblicos usados nessa tática do medo: “maldições adquiridas”, “caça a demônios territoriais”, “maldições hereditárias”, “mensagens subliminares” etc.
           
Os crentes que poderiam estar estudando a Bíblia, dando respostas sábias ao mundo, evangelizando, influenciando as artes, as músicas, influenciando no trabalho, nas escolas, na mídia e em muitos outros lugares ficam alienados vivendo com um terrível peso nas costas, um peso de medo e superstição. Vivem por aí "amarrando" demônios de imagens, pessoas e objetos, vivem procurando algum objeto “consagrado” em sua casa que pode estar dando “legalidade” ao inimigo. Veem demônios em tudo ao invés de reconhecer os próprios erros. Vivem correndo e tapando os ouvidos ao ouvirem músicas feitas por não crentes, vivem correndo de festas e confraternizações que tenham álcool, enquanto Jesus fazia o contrário.

Já vi cristãos que deixam de evangelizar porque acham que primeiro tem que “amarrar o demônio que está tapando o ouvido da pessoa”.

Irmãos que tarefas e pesos são esses que Cristo nunca colocou sobre nós? Que coisas são essas que alguns dizem que temos que fazer sem mostrar a base bíblica para tal? Que regrinhas são essas que nem Cristo, nem os profetas e nem os apóstolos seguiram?

Ide e pregai o evangelho, batizai e ensinai. O Espírito Santo se encarrega de convencer o coração e os anjos são os que lutam as batalhas espirituais.

Deus tem levantado em todo o Brasil milhares e milhares de cristãos que em contato com os estudos bíblicos da reforma protestante têm buscado novamente a pureza da igreja, uma igreja que viva somente de acordo com o que a Bíblia diz.  Esses verdadeiros profetas por certo serão perseguidos e terão um peso extra da discriminação dentro da própria igreja, pois o verdadeiro Evangelho liberta e tal libertação não diz respeito só à alma, mas mexe também com a própria estrutura de poder criada por muitos líderes que são voltados para o seu próprio umbigo e precisam do falso evangelho para manter o estipêndio ($).

Mas é nesse contexto que escrevo a todo irmãozinho e irmãzinha em Cristo, para que entreguem esse peso que falsos mestres colocaram sobre suas costas para Jesus, descansem na Paz que só o Senhor pode dar, confira tudo o que te dizem com o que está escrito na Bíblia e meditem nos singelos versos do nosso Mestre:

Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomais sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve. MATEUS 11:28-30.

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quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Corazim, Betsaida e o Molinismo

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Considere este post como uma (longa) nota ao meu post anteriorUM DOS TEXTOS PREFERIDOS DOS MOLINISTAS É MATEUS11:21-24, porque o mesmo indica (1) que existem contrafactuais verdadeiros de liberdade, isto é, verdades sobre o que as criaturas livres teriam feito em diferentes circunstâncias, e (2) que Deus sabe destes contrafactuais. No post anterior eu apontei que, apesar de (1) e (2) apoiarem o Molinismo quando confrontado com pontos de vista como o Teísmo Aberto, eles não o favorecem se comparado ao Agostinianismo, já que o mesmo também afirma (1) e (2). (O ponto onde o Molinismo e Agostinianismo divergem, pelo menos, filosoficamente, está no que diz respeito à natureza da liberdade da criatura e como o conhecimento de Deus sobre os contrafactuais da liberdade se relacionam com seu decreto eterno.)

Neste post eu quero destacar um comentário feito por Dan como incentivo a um exame mais detalhado de Mateus 11:21-24 e sua relevância para o debate entre molinistas e agostinianos. Dan escreveu:

Um dos clássicos “textos de prova” em favor do conhecimento médio também parece resistente a uma leitura agostiniana/calvinista e parece favorecer a liberdade não-determinista. Mateus 11:21 diz: “Ai de ti, Corazim! ai de ti, Betsaida! porque, se em Tiro e em Sidom fossem feitos os prodígios que em vós se fizeram, há muito que se teriam arrependido, com saco e com cinza”.
No calvinismo, a graça irresistível (também conhecida como “regeneração monergista” ou “chamado eficaz”) determina a conversão de tal forma que qualquer pessoa, dada a graça irresistível de Deus, não pode resistir e irá eventualmente se arrepender. Além disso, sem a graça irresistível, ninguém pode se converter devido a sua depravação.
Por esse versículo, sabemos que o povo de Corazim não se arrependeu, mas o povo de Tiro teria se arrependido se as mesmas obras tivessem sido feitas lá. Tiro era notoriamente pecaminosa, então a comparação tem como propósito envergonhar as pessoas de Corazim. Eles realmente tiveram uma grande oportunidade de se arrepender, logo, sua escolha de permanecer no pecado foi mais perversa do que a de Tiro. No entanto, no Calvinismo, Deus não deu ao povo de Corazin a única coisa que Ele sabia que poderia ativar e causar o arrependimento: a graça irresistível. Isso por si só é problemático!
Mas há um outro problema que diz respeito ao povo de Tiro. Nem as pessoas de Corazim nem as de Tiro se arrependeram. No calvinismo, poderíamos concluir com segurança que nenhum deles recebeu a graça irresistível, porque se tivessem recebido, eles se arrependeriam. Mas o versículo nos dá o contra-factual: o povo de Tiro teria se arrependido, se as mesmas obras fossem ali realizadas. Então, como é que Tiro poderia se arrepender sem a graça irresistível? No calvinismo, ficamos com a contradição de que a graça irresistível tanto é quanto não é uma condição necessária para o arrependimento.
Para evitar o problema, alguns podem dizer que o arrependimento não é verdadeiro arrependimento. Mas Cristo pregou sobre o verdadeiro arrependimento: arrependam-se pois o Reino de Deus está próximo! Ele nunca usa “arrependimento” como falso arrependimento e Ele sempre denuncia qualquer pretensão exterior de conversão e expõe qualquer auto-engano e falsa segurança. Além do mais, isso invalida (provavelmente inverte) o principal objetivo de Cristo de dizer as pessoas de Corazim que elas eram piores do que as de Tiro. É melhor recusar a ceia do Senhor do que participar de forma fingida, é melhor não saber o caminho da justiça do que conhecê-lo e sair dele, logo, é melhor viver em pecado aberto do que viver com um falso arrependimento. Portanto, se o arrependimento é um falso arrependimento, o povo de Corazim é melhor do que o de Tiro, porque eles evitaram um falso arrependimento. Mas isso é o oposto do que Cristo quer dizer.
A melhor solução parece ser negar a graça irresistível e dizer que o homem tem liberdade não-determinista em relação a resistir a graça de Deus.

Estas observações são certamente interessantes e merecem uma resposta. Mas, antes de entrar em detalhes, vamos considerar os detalhes do contexto em seus próprios termos:

Então começou ele a lançar em rosto às cidades onde se operou a maior parte dos seus prodígios o não se haverem arrependido, dizendo: Ai de ti, Corazim! ai de ti, Betsaida! porque, se em Tiro e em Sidom fossem feitos os prodígios que em vós se fizeram, há muito que se teriam arrependido, com saco e com cinza. Por isso eu vos digo que haverá menos rigor para Tiro e Sidom, no dia do juízo, do que para vós. E tu, Cafarnaum, que te ergues até ao céu, serás abatida até ao inferno; porque, se em Sodoma tivessem sido feitos os prodígios que em ti se operaram, teria ela permanecido até hoje.Eu vos digo, porém, que haverá menos rigor para os de Sodoma, no dia do juízo, do que para ti. (Mateus 11:20-24)

O texto nos diz explicitamente que o propósito de Jesus ao dizer estas palavras era “denunciar as cidades”, porque elas não se arrependeriam apesar de ter testemunhado muitos dos milagres que Jesus havia realizado. Eles tinham provas suficientes, mas recusaram reconhecer a autoridade de Jesus e desprezaram seu convite ao arrependimento. De forma mais específica, a denúncia de Jesus se dá com uma comparação com as antigas cidades notoriamente depravadas de Tiro, Sidom, e Sodoma.

Agora, será que essas declarações de Jesus apoiam as afirmações molinistas da forma que Dan nos está sugerindo? Em primeiro lugar, não é óbvio que devamos supor que Jesus esteja fazendo a afirmação contrafactual precisa que os molinistas assumem. Certamente Jesus está fazendo declarações assertivas aqui. Mas será que ele está realmente afirmando algo tão específico como uma verdade contrafactual literal sobre o que as pessoas dessas cidades antigas teriam feito se Jesus tivesse realizado os mesmos milagres diante deles? (Devemos notar, de passagem, que esse teria sido um possível mundo muito diferente deste!)

A questão que Jesus trata aqui é simplesmente que o povo de Corazim e Betsaida tinha um coração endurecido e que eles eram merecedores do Juízo por sua incapacidade de se arrepender; na verdade, eles foram ainda mais teimosos e culpáveis do que o povo de Tiro e Sidom. Esse ponto não implica por si só a precisa reivindicação contrafactual que Dan e outros molinistas assumem. A título de comparação, suponha que eu fosse repreender um dos meus filhos, dizendo: “Se eu lhe pedisse isso mil vezes, ainda assim você não faria o que lhe foi dito!”. Em face disso, essa afirmação tem a forma de um contrafactual de liberdade (se S estava na condição C, S faria/não faria A). Mas será que eu estou mesmo afirmando a proposição específica de que meu filho não faria o que eu havia pedido se ele realmente se encontrasse em circunstâncias em que eu lhe havia dito isso mil vezes (literalmente!)? Sugerir isso seria claramente interpretar excessivamente minhas palavras. Colocando em termos técnicos: essa interpretação acabaria perdendo o verdadeiro conteúdo proposicional da minha fala.

Naturalmente, o fato de que minha declaração não tinha o propósito de ser tomada de forma literal não significa que a proposição contrafactual seja falsa. A questão aqui é o significado da minha declaração (ou seja, qual proposição está expressando) ao invés de sua veracidade (ou seja, se a proposição expressa é realmente verdadeira). Ao fazer essa declaração, estou basicamente afirmando algo sobre a teimosia do meu filho. E o que estou afirmando é verdadeiro!

Da mesma forma, ao questionar se Jesus está realmente afirmando a proposição contrafactual que Dan assume que ele esteja, eu, enfativamente, não estou sugerindo que Jesus poderia afirmar algo falso. Ao contrário, estou sugerindo que a verdade que Ele está afirmando é muito mais simples: as pessoas de Corazim e Betsaida são teimosas e duras de coração (até mais do que o povo de Tiro e Sidon) e elas serão julgadas por isso. E essa verdade é tão consistente com a perspectiva agostiniana quanto com a perspectiva molinista.

A lição então é que os molinistas provavelmente colocam mais peso sobre este texto do que ele realmente contém. Quando prestamos atenção ao argumento que Jesus está fazendo, podemos ver que suas palavras não contém o tipo de vinculações filosóficas que apoiariam as reivindicações molinistas acerca dos contrafactuais de liberdade. Adaptando uma fala de Ludwig Wittgenstein: Os molinistas estão fazendo a “linguagem comum” de Jesus sair em férias.

Mas vamos supor que eu esteja errado sobre tudo isso. Vamos supor que Jesus realmente esteja afirmando proposições contrafactuais que Dan e outros molinistas acham que Ele esteja. Será que isso iria favorecer o Molinismo sobre o Agostinianismo, sabendo que este último rejeita a liberdade não-determinista e afirma a graça irresistível?

Uma questão importante diz respeito ao tipo de arrependimento tratado no versículo 21. Dan afirma que este deve ser “o verdadeiro arrependimento” ao invés de um “falso arrependimento”. Mas eu estou em dúvida sobre essa dicotomia simples. Parece-me que a Bíblia deixa espaço para um tipo de arrependimento que é genuíno até certo ponto (ou seja, não é totalmente sincero, não também não é um mero teatro) e ainda assim é não-salvífico (ou seja, fica aquém da verdadeira conversão espiritual). O arrependimento dos ninivitas no livro de Jonas pode muito bem ser um exemplo de tal arrependimento.

Se um arrependimento não-salvífico e limitado desse tipo está em vista no versículo 12, as questões que Dan levanta sobre a Depravação Total e a Graça Irresistível estão além da discussão. E isso não iria mudar em nada a denúncia que Cristo faz. Jesus, na realidade, estaria dizendo algo como: “Se os meus milagres tivessem sido feitos em Tiro e Sidom, eles teriam se arrependido [isto é, com um limitado arrependimento não-salvífico], mas vocês têm visto os milagres e não responderam a eles com nenhum tipo de arrependimento! “Tal leitura seria inteiramente consistente com a observação (correta) de Dan de que “o principal objetivo de Cristo era dizer que as pessoas de Corazim eram piores do que as de Tiro”.

Mas mais uma vez, vamos assumir a suposição de Dan para o bem do argumento, ou seja, vamos assumir que o arrependimento no versículo 21 deve ser arrependimento totalmente salvífico. Isso iria levantar um problema para o Agostinianismo/Calvinismo? Eu não penso assim, e vou explicar por que, em resposta ao argumento de Dan.

Dan observa que, na visão calvinista, nem o povo de Tiro nem o de Sidom, nem as pessoas de Corazim ou Betsaida haviam recebido a Graça Irresistível, porque se eles tivessem, teriam se arrependido. Isso é verdade: decorre da própria definição de Graça Irresistível. (Eu prefiro falar de “graça eficaz”, mas não vamos tergiversar sobre rótulos.) Dan assume ainda mais, no entanto, que, no cenário contrafactual em que Tiro e Sidom se arrependeriam em resposta às grandes obras, eles não haviam recebido a Graça Irresistível. Assim, ele conclui que o versículo 21 não se ajusta com aquilo que o calvinista alega (que ninguém pode se arrepender sem graça irresistível).

Mas esta suposição é injustificada. Na interpretação padrão de contrafactuais, precisamos considerar se o efeito do contrafactual (de Tiro e Sidom se arrependerem) é verdade no mais próximo mundo possível em que o fator antecedente (i.e., o povo de Tiro e Sidon ver as grandes obras) é verdade. Por tudo o que sabemos, o mais próximo mundo possível é aquele em que o povo de Tiro e Sidom recebem a Graça Irresistível. Certamente, Dan não nos deu nenhuma boa razão para excluir esta possibilidade. Tendo em conta que em uma visão compatibilista da liberdade, as livres escolhas de uma pessoa são determinadas não só por fatores internos a essa pessoa, mas também por fatores externos (ou seja, circunstâncias), e que podem haver relações causais complexas entre esses fatores internos e externos, seria difícil de refutar esta suposição. Deus trabalha fora seu decreto através de uma multiplicidade de meios inter-relacionados. Por que o mundo mais próximo possível em que Deus decreta que os milagres de Cristo seriam realizados em Tiro e Sidom não poderiam também ser um mundo onde Deus leva Tiro e Sidom ao arrependimento através de sua Graça Irresistível?

Com efeito, para levar a discussão um pouco mais adiante, por que os milagres não podem fazer parte dessa graça irresistível? (Créditos a Paul Manata por sugerir essa idéia). No coração da doutrina da graça irresistível está simplesmente a afirmação de que Deus tem poder para trazer qualquer pecador  espiritualmente morto que Ele escolhe para a salvação, de tal forma que eles vêm a Cristo livremente (ou seja, sem coerção; veja WCF 10.1). Mas Deus é livre para usar uma ampla variedade de meios (incluindo meios circunstanciais) para cumprir o seu chamado eficaz em diferentes pessoas, como a diversidade de testemunhos de conversão cristã ressalta. Não devemos pensar na Graça Irresistível como uma espécie de interruptor espiritual interno que Deus simplesmente pressiona a fim de levar alguém a conversão! Haverá sempre alguns meios que são centrais e universais entre as conversões genuínas, tais como a obra interna do Espírito Santo ao trazer convicção do pecado e a compreensão do evangelho. Mas os meios circunstanciais pelo qual Deus leva a fé e o arrependimento podem e, de fato, variam consideravelmente.

Tendo dito tudo isso, dentro de uma visão reformada da providência divina e do chamado eficaz, os pressupostos de Dan sobre o cenário contrafactual em que os povos de Tiro e Sidom se arrependeriam são injustificados. E, portanto, mesmo se admitirmos suas outras hipóteses (isto é, que Jesus está fazendo uma reivindicação contrafactual literal e precisa e que o arrependimento no versículo 21 deve ser um arrependimento salvífico), os pronunciamentos de Cristo em Mateus 11:21-24 não dão nenhum apoio adicional ao Molinismo se deparado contra o Agostinianismo/Calvinismo. Uma perspectiva calvinista e compatibilista pode acomodar estas declarações de Cristo tão bem como uma perspectiva molinista e libertária.

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Autor: James N. Anderson
Fonte: Analogical Thoughts 
Tradução: Erving Ximendes

Via: Bereianos 


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