Cinco Votos para Obter Poder Espiritual.

Primeiro - Trate Seriamente com o Pecado. Segundo - Não Seja Dono de Coisa Alguma. Terceiro - Nunca se Defenda. Quarto - Nunca Passe Adiante Algo que Prejudique Alguém. Quinto - Nunca Aceite Qualquer Glória. A.W. Tozer

terça-feira, 28 de junho de 2011

JOHN WESLEY

Lembra-se da história dos quarto etíopes cegos, que se depararam com um elefante? Os homens, tateando, começaram a explicar o que tinham encontrado:
“Oh!” disse o primeiro. “Nós estamos na beirada de um poço. Eu peguei a corda que paira sobre a borda dele”. Assim falou o homem que segurou na cauda do monstro.
“Tolice”, disse o esclarecido comentarista do outro lado da besta. “Nós estamos em perigo diante de uma grande cobra. Ela acabou de mover sua cabeça viscosa sobre minhas pernas”. Isso foi o que disse em relação à tromba da besta.
“Vocês dois estão errados”, declarou a terceira testemunha. “Nós estamos em uma caverna rebaixada. Eu acabei de me levantar e tocar o baixo teto”. Isso aconteceu quando ele apalpou o rugoso abdômen do mamute.
“Tolos”, gritou o último homem que estava abraçado ao redor da perna do animal. “Nós estamos em uma floresta. Eu tenho meus braços ao redor de uma árvore”.
Isso me faz pensar que os críticos ao longo das eras estiveram confusos nas suas avaliações de John Wesley assim como os cegos etíopes com o seu elefante.
O Dr. Maximinim Piette, o professor Católico Romano de Bruxelas, Bélgica, encerrando seu clássico trabalho sobre John Wesley, diz que Wesley foi comparado a:
“São Benedito, no que diz respeito ao seu senso litúrgico de piedade; São Domênico por seu zelo apostólico; São Francisco de Assis pelo seu amor a Cristo e por sua indiferença com o mundo; Inácio de Loyola por sua genialidade como um organizador”.
O distinto líder político e homem das letras Augustine Birrel não hesitaria em chamar John Wesley de “a maior força do século XVIII”.
Canon J. Overton, o historiador Anglicano, talvez acusado de ser um pouco tendencioso em sua visão acerca dos seus companheiros anglicanos, classifica Wesley como “o mais ocupado e, em alguns aspectos, a vida mais importante daquele século”.
O Dr. T.R. Glover, o emérito orador público da Universidade de Cambridge, Inglaterra, situa Wesley com Paulo, Agostinho e Lutero, assim o posicionando com os grandes da sucessão evangélica.
Como eu vejo, Wesley poderia ter sido o Primeiro Ministro da Inglaterra se ele tivesse direcionado sua genialidade para os canais políticos. Ele provavelmente teria antecipado os inventores posteriores se ele tivesse se aplicado às artimanhas da ciência. Seu saldo bancário na morte poderia ter sido como o de um Rothschild se ele tivesse devotado seus dons ao injusto Mamom.
Espreite por um momento os antecedentes da conversão de John Wesley. Seu diário traz esses fatos iluminadores:
“No ano de 1725, estando no 23º ano da minha idade, eu conheci o ‘Regras e Exercícios de uma Vida e Morte Santa’, do Bispo Taylor. Fui extremamente afetado. Eu resolvi dedicar minha vida a Deus. Um ano ou dois depois o livro ‘Perfeição Cristã’, do Sr. Law foi colocado em minhas mãos. Esse me convenceu mais do que nunca da impossibilidade de ser um „meio-cristão‟. E eu
estou determinado, por Sua graça (eu estava profundamente sensível da necessidade absoluta da mesma) ser totalmente devotado a Deus – dar a Ele toda minha alma, meu corpo e minha substância”.
Apesar desta surpreendente palavra de sua própria pena, somado ao fato dessa boa alma levantar-se às 04:00h para orar, além de dar esmolas e devotadamente cuidar dos pobres – ainda assim ele não tinha nenhum testemunho do Espírito que ele havia nascido de Deus.
Por volta da meia-noite de 24 de agosto de 1709, enquanto ele ainda não tinha completado seis anos de idade, John Wesley foi dramaticamente salvo de sua casa em chamas. Em 24 de maio de 1738, maduro, educado, autodisciplinado e virtuoso por qualquer padrão, Wesley foi salvo de novo. Por volta de 20:45h daquela memorável noite, o coração de John Wesley estava estranhamente aquecido e, por causa daquilo, o mundo tem sido aquecido desde então.
Como um tição retirado do fogo, Wesley se lançou a retirar outros tições das chamas eternas. O respeitável e elegante „Oxford‟ deixou de selar sua égua e com ansiosa compaixão procurou as “crianças errantes, perdidas e solitárias”.
Escuridão cobriu a Inglaterra e grossas trevas o seu povo quando Wesley, juntamente com Whitefield, pegaram a tocha da regeneração bíblica para iluminar sua densa negridão.
Os Bispos Butler e Berkley eram chamados de os melhores clérigos dos seus dias; não obstante, Butler proibiu Wesley e Whitefield de pregarem em sua diocese, mesmo sendo ela amontoada com alguns dos mais degradados homens do reino.
Haviam outros ministros com corações em chamas em outras partes da Inglaterra naquele tempo, notavelmente Grimshaw de Haworth. William Law foi contemporâneo teológico de Wesley, ao mesmo tempo que Charles Wesley, Phillip Dodderidge e Issac Watts estavam colocando fogo na música e lançando verdades espirituais nas canções.
Maravilha-me que o Senhor tomou o sensível e erudito Wesley para lidar com os párias e desamparados e então tomou Whitefield da atmosfera da taverna, onde ele cresceu, para evangelizar a elite vestida de seda e cetim.
Como pregador, Wesley é descrito em um parágrafo que frequentemente leio da pena de um autor desconhecido:
“Retirai vossa liberdade; ocupai vossa comissão, feridos e sarados; quebrem e construam novamente. Não estejais agrilhoados por nenhum tempo; não vos acomodeis às conveniências dos homens; não poupeis nenhum homem do prejuízo; não deis prioridade a nenhuma inclinação humana embora afaste todos os vossos amigos e regozije todos os vossos inimigos. Pregai o Evangelho: não o evangelho da era passada ou desta era, mas o Evangelho eterno”.
Eu creio que foi exatamente isso que Wesley fez.
Provavelmente Wesley careceu tanto da oratória quanto do fogo de Whitefield, mas ninguém jamais questionou seriamente sua unção. Wesley possuiu poder e debaixo de sua pregação homens eram sacrificados ao Senhor. Mesmo o impetuoso Whitefield foi alarmado por isso, mas ele foi mais alarmado quando, dentro de dias, o mesmo fenômeno atendeu suas próprias reuniões.
John Wesley pregava com revelação. “Seu discernimento espiritual não podia ser considerado menos que terrível. Ele parecia ver o interior das almas dos homens e colocava seu dedo sobre o pecado oculto, o medo inconfessado”.
A maior parte dos “desigrejados” amava ouvi-lo. Em nove meses ele entregou, pelo menos, quinhentos sermões e apenas seis deles foram pregados em igrejas.
O Sr. Wesley realmente pregava a benção da “segunda santificação”. Ouça-o escrevendo a Joseph Benson: “Com todo zelo e diligência confirme os irmãos (1) a manterem aquilo que eles já alcançaram – a saber, a remissão de todos os seus pecados pela fé no Senhor crucificado e (2) em esperar uma segunda mudança, pela qual eles serão libertos de todo pecado e aperfeiçoados em amor”.
Para Sarah Rutter ele escreveu: “A santificação gradual deve aumentar desde o tempo que você foi justificada, mas a completa libertação do pecado, eu creio, é sempre instantânea – ao menos, eu nunca vi uma exceção”.
O espaço me proíbe de dizer mais sobre esse flamejante apóstolo. Deixe-me concluir com as palavras do Dr. W.H. Flichett sobre essa alma possuída por Deus:
“Ele aparentava viver muitas vidas em uma e cada vida era uma maravilhosa completude. Ele pregou mais sermões, viajou mais milhas, publicou mais livros, escreveu mais cartas [sem uma secretária], fundou mais igrejas, travou mais controvérsias e influenciou mais vidas que qualquer outro homem na história inglesa. E mesmo em meio a tudo isso, como ele mesmo em um humor paradoxal falava, ele não tinha tempo para estar com pressa”.
John Wesley foi “um bom homem, cheio de fé e do Espírito Santo”.

domingo, 26 de junho de 2011

sexta-feira, 24 de junho de 2011

JOHN WESLEY - OS SINAIS DO NOVO NASCIMENTO

OS SINAIS DO NOVO NASCIMENTO

“Assim é todo aquele que é nascido do Espírito”. (João 3.8)
1. COMO se apresenta o que é “nascido do Espírito”, isto é, nascido de novo, - nascido de Deus? Que significa ser nascido de novo, ser nascido de Deus ou ser nascido do Espírito? Que vem a ser filho de Deus, ou ter o Espírito de adoção? Que esses privilégios, pela livre misericórdia de Deus, acompanhem ordinariamente o batismo (que nosso Senhor, no versículo precedente, chama “nascer da água e do Espírito”), já sabemos; queríamos saber, entretanto, em que consistem esses privilégios. Que é o novo nascimento?
2. Talvez não seja necessário dar uma definição disto, uma vez que as Escrituras não apresentam nenhuma. Como, entretanto, a questão interessa profundamente a todo filho do homem; visto que, “a não ser que alguém seja nascido de Deus”, - desejo salientar, do modo mais claro, os sinais do novo nascimento, exatamente como os encontro na Escritura.

I

1. O primeiro desses sinais, que também serve de fundamento a todos os outros, é a Fé. Diz S. Paulo: “Somos filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus” (Gl 3.26). S. João: “A eles dou-lhes o poder” – (εξουσίαν, direito ou privilégio, como se poderia melhor traduzir), “de se tornarem filhos de Deus, a saber aos quando crêem, “não do sangue, nem da vontade da carne”, não por geração natural, “nem da vontade do homem”, como as crianças adotadas pela vontade do homem, sobre as quais o ato de adoção nenhuma alteração interior produz, “mas de Deus” (Jo 1.12,13). E ainda em sua epístola católica: “O que crê que Jesus é o Cristo, é nascido de Deus” (1Jo 5.1).
2. Mas o apóstolo não fala aí de uma fé meramente ideal ou especulativa; não fala de simples
assentimento à proposição: “Jesus é o Cristo”, nem, na verdade, a quaisquer proposições contidas em nosso Credo, no Velho ou no Novo Testamento. Não ser trata de puro assentimento a qualquer ou a todas as coisas críveis, como críveis. Afirmar isto seria dizer (e quem pode ouvir isto?) que os demônios são nascidos de Deus, porque eles têm essa fé. Tremendo, crêem não só que Jesus é o Cristo, mas também crêem que toda Escritura, dada por inspiração de Deus, é tão verdadeira como Deus é verdadeiro. Não se trata somente de assentimento à verdade divina, pelo testemunho de Deus ou pela evidência dos milagres; porque os demônios também ouvem as palavras que saem da boca de Deus e sabem que Ele é testemunha fiel e verdadeira. Eles não podiam deixar de receber o testemunho dado por Jesus, tanto acerca de si mesmo como acerca do Pai, que enviou. Viram, igualmente, as obras maravilhosas por Ele feitas, e por isso creram que Cristo “veio de Deus”. E, não obstante essa fé, “estão reservados em cadeias de trevas para o juízo do grande dia”.
3. Tudo isso é, na realidade, nada mais do que uma fé morta. A verdadeira e viva fé cristã, que determina seja nascido de Deus quem quer que a possua, é não somente assentimento, que é ato da mente, mas uma disposição operada por Deus em seu coração, “uma segura confiança em que Deus, pelos méritos de Cristo, perdoa seus pecados e restaura-o no seu favor”. Isto implica em o homem primeiro negar-se a si mesmo; implica em rejeitar completamente toda “confiança na carne” para ser “achado em Cristo”, ou para ser aceito por meio dele; implica em reconhecer que, “não tendo com que pagar”, não confiando nas próprias obras nem possuindo justiça de qualquer espécie, - vem a Deus na condição de pecador perdido, miserável, destruído por si mesmo, por si mesmo condenado, arruinado e desamparado; vem a Deus como quem definitivamente se cala, sentindo-se “culpado diante do Senhor”. Tal sentimento de pecado,
(comumente chamado “desespero” pelos que dizem mal das coisas que não conhecem), unido à plena convicção, que nenhuma palavra pode expressar, de que somente de Cristo vem-nos a salvação, fazendo-se tal convicção acompanhar de profundo desejo de salvação, tudo isso deve preceder à fé viva, à confiança em Cristo, o qual “pagou por nós, pela sua morte, nosso resgate, e cumpriu a lei em sua vida”. Essa fé, pela qual somos nascidos de novo, é, pois, “não apenas crença em todos os nossos artigos de fé, mas também uma verdadeira confiança na misericórdia de Deus, através de nosso Senhor Jesus Cristo”.
4. O fruto imediato e constante dessa fé, pela qual somos nascidos de Deus, o fruto que de modo algum pode separar-se dela, nem sequer por uma hora, é o domínio sobre o pecado: - domínio sobre o pecado exterior de toda espécie, sobre toda palavra ou obra má; porque, onde quer que o sangue de Cristo é aplicado, “purifica a consciência de obras mortas”; e sobre o pecado interior, porque Ele purifica o coração de todo desejo e inclinação profana. S. Paulo descreve largamente este fruto da fé, no capítulo seis de sua epístola aos Romanos. “Como podemos nós – diz ele – que”, pela fé, “morremos ao pecado, continuar nele?” “Nosso homem velho foi crucificado com Cristo, para que o corpo do pecado pudesse ser destruído, de modo que não servíssemos ao pecado”. “Do mesmo modo considerai-vos mortos ao pecado, mas vivos para Deus, mediante Jesus Cristo, nosso Senhor. Não reine, pois, o pecado em vossos corpos mortais”; “mas entregai-vos a Deus, como tendo ressuscitado dentre os mortos”. “Porque o pecado não terá domínio sobre vós, - graças a Deus, que éreis servos do pecado – mas vos tornastes livres”. A
clara significação é: Deus seja louvado, porque, embora fosseis, no passado, servos do pecado, agora, todavia, “sendo libertados do pecado, vós vos tornastes servos da justiça”.
5. O mesmo privilégio inapreciável dos filhos de Deus é realçado nitidamente por S. João, principalmente quanto ao domínio do pecado exterior. Depois de haver exclamado atônito em face da profundidade das riquezas da bondade de Deus: - “Vede de que maneira o amor de Deus vos foi comunicado, para que pudésseis ser chamadas filhos de Deus! Amados, agora sois filhos de Deus: e não foi ainda revelado o que sereis; mas sabemos que quando ele aparecer, seremos semelhantes a ele; porque o veremos assim como ele é”, (1Jo 3.1ss), logo acrescenta: “Quem quer que é nascido de Deus, não peca; porque sua semente permanece nele; e ele não pode pecar porque é nascido de Deus” (versículo 9). Mas alguns dirão: “Na verdade, o que é nascido de Deus não peca habitualmente”. Habitualmente! De que vem esta palavra? Não leio isto. Não está escrito no Livro. Deus expressamente diz: “Não comete pecado” – e tu acrescentas: habitualmente! Quem és tu que emendas os Oráculos de Deus, que “acrescentas alguma
coisa às palavras deste Livro?” Guarda-te, eu te conjuro, para que não aconteça que Deus “te acrescente todas as pragas que nele estão escritas”, especialmente se se considera que o comentário que aduzes é de molde a subverter inteiramente o texto; assim é que, por este μεθοδεiα πλανης, este método astucioso de enganar, perde-se inteiramente a promessa; por esta êõâåiá ôùí áí èñùôùí por esta malícia e tortuosidade dos homens, a palavra de Deus se torna de nenhum feito. Oh! Cuidado! Tu que amputaste alguma coisa às palavras deste livro, que anulaste todo seu espírito e toda sua significação, deixando apenas o que com propriedade se poderia chamar letra morta, - guarda-te para que não suceda que Deus cancele tua parte no
livro da vida!
6. Permita o apóstolo que interpretes suas palavras à luz do inteiro teor de seu discurso. No quinto versículo deste capítulo, diz ele: “Sabemos que ele”, Cristo, “manifestou-se para tirar nossos pecados; e nele não há pecado”. Qual a inferência que disto tira o próprio escritor? “Quem quer que está nele não peca; o que peca nunca o viu, nem o conhece” (1Jo 3.6). Para reforçar esta importante doutrina, aduz uma advertência altamente necessária: “Filhinhos, que ninguém vos engane” (versículo 7): porque muitos tentarão enganar-vos, per-suadindo-vos a serdes injustos, cometendo pecado e continuando na condição de filhos de Deus: “o que pratica a justiça é justo, como Deus é justo. O que comete pecado é do diabo, porque o diabo peca desde o princípio”. E prossegue: “o que é nascido de Deus não comete pecado, porque sua semente permanece nele: e ele não pode pecar, porque é nascido de Deus”. Nisto acrescenta o
apóstolo – “os filhos de Deus e os filhos do diabo são manifestos”. Por este claro sinal (cometer ou não cometer pecado), eles se distinguem entre si. No mesmo sentido são as palavras do capítulo quinto: “Sabemos que o que é nascido de Deus não peca; mas o que é gerado de Deus o guarda, e o maligno não o segura” (versículo 18).
7. Outro fruto dessa fé viva é a paz. Porque, “justificados pela fé”, tendo todos os nossos pecados cancelados, “temos paz com Deus mediante nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5.1). Essa mesma paz o próprio Senhor, na véspera de sua morte, solenemente legou a todos os seus seguidores: “A paz – disse Ele – voz deixo (a vós que “credes em Deus” e “credes também em mim”), minha paz vos dou. Eu vo-la dou, não como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração nem se arreceie” (Jo 14.27). E outra vez: “Estas coisas vos digo para que tenhais paz” (Jo 16.33). Esta é aquela “paz de Deus que excede a toda a compreensão”, aquela serenidade de alma que o homem natural não pode conceber e que mesmo ao
homem espiritual não é possível entender. É uma paz que os poderes reunidos da terra e do inferno são
impotentes para subtrais ao crente. Vagas e tempestades rugem em torno dela, sem que a possam abalar, porque está fundada sobre a rocha. Essa paz guarda os corações e as mentes dos filhos de Deus, em todas as ocasiões e em todos os lugares. Quer estejam em abundância ou em necessidade, na saúde ou na doença, em fartura ou em falta, de qualquer modo sentem-se felizes em Deus. Aprenderam a estar contentes em qualquer condição, a dar graças a Deus por Cristo Jesus, estando bem certos de que, “seja o que for que venha, sempre será o melhor”, desde que essa seja a sua vontade; de modo que, em todas as vicissitudes da vida, seu “coração permanece firme, crente no Senhor”.

II

1. Outro sinal bíblico dos que são nascidos de Deus é a esperança. Falando a todos os filhos de Deus que estavam dispersos, assim se expressa S. Pedro: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo sua abundante misericórdia, gerou-nos de novo para uma viva esperança” (1Pd 1.3) – Eλπiδα ζωσαν, uma vívida ou viva esperança, diz o apóstolo, porque há também uma esperança morta, como existe uma fé morta; uma esperança que não vem de Deus, mas do inimigo de Deus e do homem, como se torna evidente pelos seus frutos, porque, sendo ela a fonte do orgulho, é mãe de todas as palavras e obras más; ao revés, todo homem que tem aquela viva esperança, é “santo como aquele que não vem de Deus, mas inimigo de Deus e do homem, como se torna evidente pelos seus frutos, porque sendo ela a
fonte do orgulho, é mãe de todas as palavras e obras más; ao revés, todo homem que tem aquela viva esperança, é “santo como aquele que o chamou”: todo homem que pode verdadeiramente dizer a seus irmãos em Cristo; “Irmãos, agora somos filhos de Deus e vê-lo-emos como ele é”, purifica-se a si mesmo, assim como “Ele é puro”.
2. Esta esperança implica, primeiro, no testemunho de nosso próprio espírito, ou consciência, de
“andarmos em simplicidade e piedosa sinceridade”; segundo, no testemunho do Espírito de Deus, “testificando com nosso espírito”, ou a nosso espírito, “que somos filhos de Deus”, e, pois, “herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo”.
3. Observemos cuidadosamente o que aí nos ensina, no tocante aos gloriosos privilégios de seus filhos. Quem se afirma aí ser o que dá testemunho? Não é somente nosso espírito, mas outro, ou seja o Espírito de Deus: este é quem “testifica com nosso espírito”. Que testifica o Espírito? “Que somos os filhos deDeus”; “e, se filhos, também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo” (Rm 8.16,17), “se é que sofremos com Ele”, se negamos a nós mesmos, tomamos cada dia nossa cruz, alegremente suportamos perseguição ou vexame por sua causa, “para que possamos ser igualmente glorificados”. E a quem o Espírito Santo dá testemunho? A todos os que são versículos precedentes, que “os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus”. “Porque não recebemos o espírito de escravidão para estarmos outra vez em temor; mas recebemos o espírito de adoção, pelo qual clamamos: Abba, Pai!” E prossegue: “O mesmo Espírito testifica com nosso espírito que somos filhos de Deus”. (Rm 8.14-16).
4. É digna de nossa atenção a variante que aparece no versículo 15: “Recebemos o espírito de adoção, pelo qual clamamos: Abba, Pai!”. Nós, que, em maior ou menor número, somos filhos de Deus, recebemos, em virtude de nossa filiação, precisamente o espírito de adoção, pelo qual nós clamamos: Abba Pai! Nós, os apóstolos, profetas, mestres (porque, assim entendendo, não se está forçando o texto); nós, que servimos de instrumento para que vós outros crêsseis, ministros de “Cristo e despenseiros dos ministérios de Deus”. Como nós e vós temos um só Senhor, assim temos um só espírito; como temos uma só fé, assim temos também uma só esperança. Nós e vós somos selados num mesmo “Espírito de promessa”, penhor de vossa e de nossa herança; o mesmo Espírito testificando com vosso e com nossoespírito “que somos filhos de Deus”.
5. Deste modo se cumpre a Escritura: “Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados”. Porque é fácil crer que, embora a tristeza possa preceder a esse testemunho do Espírito de Deus com nosso espírito (na verdade essa tristeza deve preceder, de algum modo, enquanto gememos sob o temor e sentimos a ira de Deus pendendo sobre nós), certo é que, tão logo sentimos em nós mesmos o Espírito, tal “tristeza se volve em alegria”. Qualquer que seja o sofrimento experimentado antes, logo que “chega aquela hora, não se lembra das dores, vencidas estas pela alegria” de haver alguém nascido de Deus. Pode ser que muitos dentre vós agora experimenteis tristeza, porque estais como “alienados da comunidade de Israel”, visto terdes consciência de que não possuis esse Espírito e de que estais “sem esperança e sem
Deus no mundo”. Quando, porém, vier o Consolador, “então se alegrará vosso coração”, “vossa alegria será transbordante” e “ninguém vos arrebatará esse gozo” (Jo 16.22). “Regozijai-vos em Deus” – dirá ele – “através de nosso Senhor Jesus Cristo, por quem agora recebemos a propiciação”, “por quem temos agora acesso a essa graça”, a esse estado de graça, de favor, ou de reconciliação com Deus, “em quem permanecemos, e regozijamo-nos na esperança da glória de Deus” (Rm 5.2). Vós, diz S. Pedro, a quem Deus gerou outra vez para uma viva esperança, sois guardados pelo poder de Deus para a salvação: no que grandemente nos alegramos, embora por algum tempo, se necessário, tenhamos de sofrer diversas tentações; para que a prova de vossa fé possa resultar em louvor, honra e glória, à manifestação de Jesus Cristo, no qual, embora no presente e não vejamos, regozijamo-nos com alegria inexprimível e cheia de glória”. (1Pd 1.5ss). Inexprimível, na verdade! Não está alcance da língua humana descrever essa alegria
no Espírito Santo. É o “maná escondido, que nenhum homem conhece, exceto o que o recebe”. Mas isto sabemos, que ela não só excede, mas domina a profundeza da aflição. “As consolações de Deus” são pequenas para os seus filhos, quando falta todo conforto humano? De modo nenhum. Mas, quando os sofrimentos se mostram abundantes, sobre excedem as consolações de seu Espírito, de modo que os filhos de Deus “se riem à destruição que sobrevenha”, às faltas, às penas, ao inferno e ao sepulcro; sabendo quem é o que “tem as chaves da morte e do inferno”; o qual os lançará num momento ao “abismo insondável”, ouvem agora a grande voz dos céus que diz: “Eis o tabernáculo de Deus que está com os homens, e Deus habitará com eles, e serão seu povo e Ele será seu Deus. E Deus enxugará todas as lágrimas de seus olhos, e não mais haverá morte, nem tristeza, nem lamento, nem sofrerão qualquer dor, porque as primeiras coisas são passadas”. (Ap 21.3,4).

III

1. O terceiro sinal característico dos que são nascidos de Deus, e o maior deles, é o amor, amor de Deus derramado em seus corações pelo Santo Espírito que lhes foi dado” (Rom. V:5). “Porque são filhos, Deus enviou o Espírito de seu Filho a seus corações clamando: Abba, Pai!” (Gl 4.6). Por este Espírito, continuamente encarando a Deus como seu Pai de reconciliação e de amor, dele esperam o pão de cada dia, assim como todas as coisas necessárias, seja ao corpo, seja à alma. Continuamente derramam seu coração diante de Deus, sabendo “que tem as coisas que lhe pedem” (1Jo 5.15). Seu prazer está no Senhor, que é a alegria de seu coração, seu “escudo” e sua “excessivamente grande recompensa”. Para Ele se volta o desejo de sua alma; “fazer sua vontade é sua comida e bebida”; e ficam contentes “como com tutano e com gordura, quando sua boca o louva com lábios alegres” (Sl 58.5).
2. Também nesse sentido “todo que ama o que gerou, ama o que é gerado” (1Jo 5.1). Seu espírito se alegra em Deus, seu Salvador. “Ama ao Senhor Jesus Cristo em sinceridade”, “unindo-se”, destarte, “ao Senhor” como num só espírito. Sua alma para ele se inclina e o escolhe como o particularmente amado, “o escolhido dentre dez mil”. Conhece e sente o que significa: “Meu amado é meu, e eu sou de meu amado”. (Ct 2.6). “Tu és mais caro do que os filhos dos homens; cheios de graça são teus lábios, porque Deus te ungiu para sempre!” (Sl 45.2).
3. Os frutos necessários desse amor de Deus são o amor a nosso próximo, - a toda lama que Deus criou, não executando nossos inimigos, não executando os que “precedem maliciosamente para conosco e nos perseguem”; um amor que nos leve a amar a todo homem como a nós mesmos, como a nossa própria alma. Demais, nosso Senhor expressou esse amor de modo ainda mais enérgico, ensinando-nos a “amarmos uns aos outros assim como Ele nos amou”. Conseqüentemente, o mandamento escrito no coração de todos aqueles que amam a Deus não pode se outro senão este: “Como vos amei, assim amaivos uns aos outros”. “Nisto percebemos o amor de Deus, em que Ele deu sua vida por nós” (1Jo 3.16). “Devemos, pois”, como justamente infere o apóstolo, - “dar nossa vida pelos irmãos”. Se nos sentirmos dispostos a isso, então verdadeiramente amamos ao próximo; em conseqüência, “sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos” (1Jo 3.14). “Nisto sabemos” que somos nascidos de
Deus, isto é, que “estamos nele e ele em nós, porque nos deu seu Espírito” de amor (4.13). Por-que “o
amor é de Deus; e todo o que ama” desse modo “é nascido de Deus e conhece a Deus” (4.7).
4. Possivelmente alguns perguntarão: “Nisto diz o apóstolo: Este é o amor de Deus, que guardemos seus mandamentos?” (1Jo 5.3). Sim, e este é também o amor de nosso próximo, no mesmo sentido em que é o amor de Deus. Mas, que pretenderíeis deduzir daí? Que a guarda dos mandamentos exteriores é tudo quanto se acha implícito nos amarmos a Deus de todo nosso coração, de toda nossa mente, alma e forças, e ao próximo como a nós mesmos? Que o amor de Deus não haja um afeto da alma, mas simplesmente um serviço exterior? Que o amor do nosso próximo não seja uma disposição do coração, mas simplesmente o exercício de obras exteriores? Alvitrar uma tão grosseira interpretação das palavras do apóstolo é suficiente para refutar a própria alusão. O significado claro e incontroverso do texto é: este é o sinal ou a prova do amor de Deus: estarmos guardando o primeiro e grande mandamento, e tambémguardando todo o resto de seus mandamentos. Porque o verdadeiro amor, se nos foi uma vez derramado
no coração, levar-nos-á a isto, desde que não pode deixar de amar a Deus de todas as forças quem quer que ame a Deus de todo o seu coração.
5. Um segundo fruto do amor de Deus (até onde pode ser distinguido desse), é a universal obediência àquele a quem amamos e a concordância com sua vontade; obediência a todos os mandamentos de Deus, interior e exterior; obediência de coração e de vida, em todo caráter, em toda maneira de conversação. Um dos traços de caráter que mais obviamente se inclui nessa disposição é ser o homem “zeloso de boas obras”, ter fome e sede de fazer o bem, de toda a espécie possível, a todos os homens; regozija-se em “consumir-se e ser consumido por amor deles”, por todos os filhos dos homens, não visando qualquer recompensa neste mundo, mas somente na ressurreição dos justos.

IV

1. Tenho, pois, assinalado as marcas do novo nascimento, tais como as encontro evidenciadas na Escritura. Deste modo é o próprio Deus que responde à premente questão: Que é ser nascido de Deus? Se se apelar para a Palavra de Deus, está será a resposta: “Nascido de Deus é todo aquele que é nascido do Espírito”. É ser tido, no conceito do Espírito de Deus, como filho de Deus; é crer de tal modo em Deus, através de Cristo, que alcança a condição de quem “não comete pecado” e goza, em todas as situações, daquela “paz de Deus que excede a toda compreensão”. É de tal modo esperar em Deus mediante o Filho de seu amor, que não só tem o testemunho de uma boa consciência, mas também – “O Espírito de Deus testifica com vosso espírito que sois filhos de Deus”, de onde não pode deixar de decorrer o regozijo naquele por quem “recebestes a propiciação”. É amar de tal modo a Deus, que vos amou, como jamais
amastes a qualquer criatura, sendo, pois, constrangidos a amar a todos os homens como a vós mesmos, com um amor que não apenas abrasa vossos corações, mas flameja em todas as vossas ações e conversações, e fazendo de toda a vossa vida um “trabalho de amor”, uma continua obediência e estes mandamentos: “Sede misericordiosos como Deus é misericordioso”; “Sede santos como eu, o Senhor, sou Santo”; “Sede perfeitos, como é perfeito vosso Pai celestial”.
2. Que sois vós, que assim nascestes de Deus? Vós “conheceis as coisas que vos são dadas por Deus”. Vós bem sabeis que sois filhos de Deus e “podeis ter vossos corações seguros diante dele”. E vós, que tendes observado estas palavras, não podeis senão sentir e conhecer com exatidão, se nesta hora (respondei a Deus, e não ao homem), sois filhos de Deus, ou não. A questão não é saber o que fostes feitos no batismo (não iludais à pergunta); mas, que sois agora? Apelo para vossa própria alma. Eu não pergunto se nascestes da água e do Espírito; mas se agora sois templo do Espírito Santo que habite em vós. Reconheço que fostes “circuncidados com a circuncisão de Cristo” (como S. Paulo enfaticamente denomina o batismo); mas o Espírito de Cristo e de glória repousa agora sobre vós? Se assim não é, “vossa circuncisão se tornou em incircuncisão”.
3. Não digais, portanto, em vosso coração: “Fui uma vez batizado; logo, sou agora filho de Deus”. Ai! A conclusão nenhum fundamento possui. Quantos batizados há que são glutões e beberrões, vulgares mentirosos e perjuros, zombeteiros e maldizentes, libertinos, ladrões e defraudadores? Que pensais? Esses tais são agora filhos de Deus? Longe disto! Digo-vos, quem quer que sois que possuis algum dos característicos acima mencionados: “Sois filhos de vosso pai, o diabo, e fazeis as obras de vosso pão”. Digo-vos, em nome daquele a quem crucificastes de novo, e servindo-me de suas próprias palavras ditas a vossos predecessores circuncidados: “Serpentes, raça de víboras, como podereis escapar à condenação do inferno?”
4. Como escaparei, a não ser que tenhais novo nascimento? Porque estais agora mortos em delitos e pecados. Dizerdes, pois, que não podemos nascer de novo, que não há novo nascimento a não ser pelo batismo, é confirmardes vossa alma na condenação e vos entregardes ao inferno, sem defesa e sem esperança. E talvez alguém pense que isso seja justo e direito. No seu zelo pelo Senhor dos Exércitos, talvez venham a dizer: “Sim, cortai os pecadores, os amalequitas! Sejam esses gibionitas totalmente destruídos! Eles não merecem outra coisa!” Não; nem eu, nem vós. Meu merecimento, como o vosso e como o desses antigos pecadores, só dão direito ao inferno; e é pela pura misericórdia, pela livre e imerecida misericórdia, que não nos encontramos agora no fogo inextinguível. Direis: “Mas fomos lavados”; nascemos outra vez “da água e do Espírito”. Assim o foram eles: isto, entretanto, não impede de modo nenhum que estejam agora na mesma condição em que eles se encontram. Não sabeis que “aquilo que é altamente estimado pelos homens é abominação à vista de Deus?” Voltai-vos, “santos do mundo”, vós que sois honrados pelos homens, e vede quem dentre vós será o que atire a primeira pedra sobre eles, sobre os que não são dignos de viver na terra, sobre as meretrizes vulgares os adúlteros e os homicidas. Somente aprendei primeiro o que significa: “aquele que odeia a seu irmão é homicida” (1Jo 3.15). “Aquele que olha para uma mulher para a cobiçar, já no seu coração adulterou com ela” (Mt 5.28). “Vós,adúlteros e adúl-teras, não sabeis que a amizade do mundo é inimizade para com Deus?” (Tg 4.4).
5. “Em verdade, em verdade vos digo”: deveis também “nascer de novo”. Se vós também “não nascestes outra vez, não vereis o reino de Deus”. Não vos arrimes no caniço frágil que é o vosso novo nascimento pelo batismo. Quem contesta que vos fizestes então filhos de Deus e herdeiros do reino dos céus? Mas, não obstante isto, sois agora filhos do diabo. Por isso deveis nascer de novo. E não ponha Satanás em vosso coração e cavilosidade de uma palavra, quando os fatos são claros. Ouvistes quais são os sinais característicos dos filhos de Deus: todos vós que os não tendes em vossas almas, quer tenhais sido batizados ou não, tendes a necessidade de os receber, ou perecereis, sem dúvida alguma, para sempre. Se fostes batizados, vossa única esperança é esta: os que se tornaram filhos de Deus pelo batismo, mas são agora filhos do diabo, podem ainda receber “o poder de se tornem filhos de Deus”, recebendo outra vez aquilo que perderam, ou seja, o “Espírito de adoção, clamando em seus corações: Abba, Pai!” Amém, Senhor Jesus! Possa todo aquele que outra vez preparou o coração para buscar a tua face, receber de novo o Espírito de adoção e clamar: “Abba, Pai!” Torne-se ele filho de Deus, conhecendo e sentindo
que tem “redenção em teu sangue e o perdão dos pecados” e que “não pode cometer pecado, porque é nascido de Deus”. Seja o tal “gerado de novo para uma viva esperança”, de modo que “se purifique a si mesmo como tu és puro”; e “porque é filho”, descanse sobre ele o Espírito de amor e de glória, purificando-o de “toda imperfeição da carne e do espírito” e ensinado-lhe a “aperfeiçoar-se na santidade pelo temor de Deus!”.

JOHN WESLEY - O NOVO NASCIMENTO - parte 4

IV

Propus-me aduzir, em último lugar, umas poucas inferências, que naturalmente decorrem das precedentes
observações.
1. E, primeiro, observe-se que o batismo não é o novo nascimento: eles não são uma e a mesma coisa. Muitos, em verdade, parece imaginarem que são justamente a mesma coisa; pelo menos falam como se pensassem assim; mas não me consta que essa opinião seja abertamente sustentada por qualquer denominação cristã. Certamente que não o é por nenhuma dentro destes reinos, seja da igreja estabelecida ou dos dissidentes desta. A opinião dos últimos vem claramente exposta em seu Catecismo Maior : “P. Quais são as partes de um sacramento? R. As partes de um sacramento são duas: uma consiste no sinal externo e sensível; a outra na graça interior e espiritual, por aquele sinal simbolizada. – P. Que é o batismo? R. O batismo é um sacramento, no qual Cristo ordenou a lavagem com água como sinal e selo da regeneração por seu Espírito.” Ai é manifesto que o batismo, osinal, é mencionado como ato distinto da regeneração, que é a coisa significada. No catecismo de nossa igreja se declara, igualmente, a opinião desta com a maior clareza: “P. Que queres dizer pela palavra sacramento? R. Quero dizer um sinal exterior e visível de uma graça interior e espiritual. – P. Qual é a parte exterior ou;” forma no batismo? R. A água, com a qual a pessoa é batizada em nome do Pai, Filho e Espírito Santo. – P. Qual é a parte interior, ou a coisa significada? R. A morte ao pecado e o novo nascimento para a justiça.” Nada, portanto, é mais claro do que, segundo a igreja da Inglaterra, não ser o batismo o novo nascimento.
Mas, na realidade, a razão do que se afirma é tão clara e evidente, que não necessita do abono de nenhuma outra autoridade. Porque, que pode haver de mais óbvio, do que ser um a obra exterior e outro a obra interna; que um é visível e o outro invisível e, portanto, inteiramente diferentes entre si? – um sendo ato do homem, purificando o corpo; o outro uma mu-dança operada por Deus na alma, de modo que a primeira é tão distinguível da segunda como a alma do corpo ou a água do Espírito Santo.
2. Das reflexões precedentes podemos, em segundo lugar, observar que o novo nascimento não é o mesmo que o batismo, de modo que nem sempre acompanha o batismo: eles não vão necessariamente juntos. Um homem pode possivelmente ser “nascido da água” e contudo não ser “nascido do Espírito”. Pode haver algumas vezes o sinal exterior onde não exista a graça interior. Não falo agora acerca das crianças: é certo que nossa igreja supõe que todos os que são batizados na infância são ao mesmo tempo nascidos de novo: e admite-se que o ritual do batismo de crianças procede daquela suposição. Nem constitui objeção de peso o fato de não podermos compreender como se opera essa obra nas crianças, porque nem podemos compreender como se opera tal obra numa pessoa de idademais madura. Mas, qualquer que seja o caso em referência às crianças, é certo que todos os que são batizados em idade adulta não são ao mesmo tempo nascidos de novo. “A árvore é conhecida por seus frutos.” E destes resulta
demasiadamente claro para ser negado que vários dos que eram filhos do diabo antes que fossem batizados, continuaram na mesma condição depois do batismo; “porque fazem as obras de seu pai”: continuam como servos do pecado, sem qualquer pretensão à santidade, seja interior ou exterior.
3. Uma terceira inferência que podemos tirar do que já se observou, é que o novo nascimento não é a mesma coisa que a santificação. Isto é na verdade, tido como certo por muitos; principalmente por um eminente escritor, em seu recente tratado sobre “A Natureza e os Fundamentos da Regeneração Cristã”. Pondo de parte várias outras objeções de peso que se poderiam fazer àquele tratado, esta é palpável: O tratado, através de todas as suas páginas, fala .da regeneração como de uma obra progressiva, realizada na alma a passos vagarosos, a partir da época em que primeiro nos voltamos para Deus. Isto é inegavelmente verdadeiro quanto à santificação, mas não é verdade quanto à regeneração, ao novo nascimento. Esta é uma parte da santificação, não toda ela; é uma porta para ela, uma entrada para ela. Quando nascemos de novo, então nossa santificação, nossa santidade interior e exterior, começa; e daí por diante gradualmente “crescemos naquele que é nosso Cabeça”, Esta expressão do apóstolo admiravelmente ilustra a diferença que há entre uma e outra, e ainda aponta a exata analogia existente entre as coisas naturais eas coisas espirituais. A criança nasce num momento, ou pelo menos em muito curto espaço de tempo: ela depois gradual e vagarosamente cresce, até atingir à estatura de um homem. De modo semelhante um filho nasce de Deus num curto tempo, senão num momento. Mas é por degraus vagarosos que ele depois cresce à medida da perfeita estatura de Cristo. A mesma relação, portanto, que há entre nosso nascimento natural e nosso crescimento, há também entre nosso novo nascimento e nossa santificação.
4. Mais um ponto podemos aprender das observações precedentes, mas é um ponto de tão grande importância, que torna perdoável sua mais cuidadosa e mais extensa consideração. Que deve alguém que ama as almas e sente-se compungido ante o fato de que pereça alguma delas, dizer a quem ele veja quebrando o domingo, ou em embriaguez, ou em qualquer outro pecado voluntário? Que pode ele quiser, se as precedentes observações forem verdadeiras, senão isto: “Deves nascer de novo”? “Não” – diz o homem zeloso – “isto não pode ser; como podes falar assim, descaridosamente, ao homem? Não já foi ele batizado? Não pode agora nascer outra vez!” Não pode ele, nascer outra vez? Afirmas isto? Então ele não pode ser salvo. Embora seja tão velho quanto o era Nicodemos, “se não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”. Portanto, dizendo tu: “Ele não pode nascer de novo”, tu de fato o entregas à perdição. E onde agora está a falta de caridade? De meu lado ou do teu? Eu digo: ele precisa nascer outra vez e tornar-se deste modo herdeiro da salvação. Tu dizes: “Ele não pode nascer de novo”: e, se assim for, deve inevitavelmente perecer! Assim obstruis inteiramente seu caminho rumo à salvação, e o envias ao inferno
por simples caridade! Mas talvez o próprio pecador, a quem, por verdadeira caridade, dizemos: “Tens necessidade de nascer de novo”, tenha sido industriado a replicar: “Desafio vossa nova doutrina; não pre-ciso nascer de novo: nasci outra vez quando fui batizado. Pretenderíeis então negar meu batismo?” Respondo, primeiro, que nada há debaixo do céu que possa desculpar a mentira; se assim não fosse: eu diria a um tão ostensivo pecador: “Se foste batizado, não o proclames. Porque, quão profundamente isto te agrava a culpa! Como te aumentará a condenação! Foste dedicado a Deus ao oitavo dia de vida, e passaste todos esses anos a dedicar-te ao diabo? Foste, antes mesmo que tivesses uso da razão, consagrado a Deus o Pai, o Filho e o Espírito Santo – e desde que alcançaste o uso da razão fugiste
da face de Deus e te consagraste a Satanás? A abominação da desolação – o amor do mundo, o orgulho, a ira, a cobiça, os desejos insensatos e todo o cortejo de afeições vis – não está onde não deveria estar? Entronizaste todas essas coisas malditas naquela alma que uma vez foi templo do Espírito Santo, separada para ser “habitação de Deus através do Espírito Santo”; sim, dada solenemente a Ele? E ajuda te glorias nisto, no fato de teres uma vez pertencido a Deus? Oh! Envergonha-te! Cora-te! Esconde-te no centro da terra! Nunca mais te gabes daquilo que devia encher-te de confusão, que devia envergonhar-te diante de Deus e diante dos homens!” Respondo, em segundo lugar: Tu já negaste teu batismo, e isto da maneira mais completa. Negaste-o mil e mil vezes, e ainda o fazes dia após dia. Porque no ato de teu batismo renunciaste ao diabo e a todas as suas obras. Toda vez, pois, que outra vez dás lugar a ele, toda vez que praticas alguma obra .do diabo, estás negando teu batismo. Deste modo tu o negas através de cada pecado voluntário, de cada ato de impurezas, bebedice ou vingança; de cada palavra obscena ou profana; de cada juramento que saia de teus lábios. Toda vez que profanas o dia do Senhor, negas teu batismo; sim, tu o negas toda vez que fazes a outrem aquilo que não quererias que te fizessem. Respondo, em terceiro lugar:
sejas batizado Ou não, “precisas nascer de novo”; de outro modo não é possível que sejas interiormente santo, e sem santidade interna e externa não podes ser feliz, nem neste mundo e menos ainda no mundo vindouro. Dizes: . “Pois não; mas eu não faço mal a ninguém; sou honesto e justo em todo: os meus atos: não praguejo e não tomo o nome do Senhor em vão; não calunio a meu próximo nem vivo em qualquer pecado voluntário!” Se assim é, mui para desejar é que todos os homens cheguem até onde chegaste. Mas deves ir ainda mais longe, ou não serás salvo: ainda “te é necessário nascer de novo”. Acrescentas: “Vou ainda mais longe: porque não somente não faço mal, mas faço todo bem que posso”. Duvido disso: temo que tenhas tido um milhar de oportunidades de fazer o bem e tenhas passado por elas sem as aproveitar, sendo, por esta causa, responsável diante de Deus. Mas, se tens aproveitado todas elas, se realmente tens feito todo o bem que terias possibilidade de fazer a todos os homens, ainda isto de modo algum altera o caso: ainda “te é necessário nascer de novo”. Sem isto coisa alguma fará qualquer benefício à tua pobre alma poluída e pecaminosa. “Não, mas eu constantemente cumpro as ordenanças de Deus: apego-me à minha igreja e ao sacramento.” Boa coisa fazes, mas tudo isso não te livrará do inferno, a não ser que sejas nascido de novo. Ir à igreja duas vezes por dia; ir à mesa do Senhor todas as semanas; fazer sempre
muita oração em particular; ouvir sempre sermões muitobons; ler muitoslivros devotos... ainda “te é necessário nascer de novo”. Nenhuma daquelas coisas substituirá o novo nascimento; não, coisa alguma há debaixo do céu. Seja, pois, esta tua contínua oração, se já não experimentaste aquela graça interior de Deus: “Senhor, adiciona esta a todas as tuas bênçãos: permite-me nascer de novo! Nega-me tudo quanto for de teu agrado negar-me, mas não me negues isto: permite-me ser nascido de cima! Retira-me o que quer que te pareça bem retirar-me – reputação, fortuna, amigos, saúde – e dá-me somente isto: ser nascido do Espírito, ser contado entre os filhos de Deus! Permite-me nascer, não de semente corruptível, mas incorruptível, pela palavra de Deus, que vive e permanece para sempre; e então deixa-me diariamente crescer na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo!”

JOHN WESLEY - O NOVO NASCIMENTO - parte 3

III

A quem tenha considerado essas coisas não é difícil perceber a necessidade do novo nascimento e responder à terceira pergunta. Para que fim é necessário nascer de novo? Mui facilmente se compreende que isto é necessário, primeiro, à santidade. Que é santidade, segundo os Oráculos de Deus? Não é uma religião meramente exterior, um amontoado de obrigações externas, qualquer que seja o número delas e qualquer que seja a exatidão com que sejam cumpridas. Não: a santidade evangélica não é menos do que a imagem de Deus impressa sobre o coração; não é outra coisa senão toda a mente que havia em Cristo Jesus; consta de todos os afetos e disposições celestiais fundidos num só. Implica num tal amor, contínuo e agradecido, Aquele que não nos ocultou seu Filho, seu Único Filho, de modo a tornar natural, de maneira imperativa, o amor a todos os filhos dos homens, à medida que nos enche “de coração misericordioso, ternura, doçura e longanimidade”. É um tal amor de Deus que nos ensina a sermos inculpáveis em toda maneira de conversação; que nos habilita a apresentarmos nossas almas e corpos, tudo que somos e tudo quanto temos, todos os nossos pensamentos, palavras e ações, como um contínuo sacrifício a Deus, aceitável através de Cristo Jesus. Ora, esta santidade não pode existir enquanto não formos renovados na imagem de nossa mente. Não pode começar na alma enquanto não for operada aquela mudança; até que, revestidos do poder do Altíssimo, formos tirados “das trevas para a luz, do poder de Satanás para o poder de Deus”, isto é, até que tenhamos nascido de novo; o que é, portanto, absolutamente necessário à santidade.
2. Mas, “sem santidade ninguém verá ao Senhor”, ninguém verá a face de Deus em glória. Em conseqüência, o novo nascimento é absolutamente necessário à eterna salvação. Os homens podem na verdade lisonjear-se (tão desesperadamente mau e tão enganoso é o coração do homem!) na esperança de que possam viver em seus pecados, até chegarem ao último suspiro, e ainda depois viverem com Deus; e milhares realmente crêem que encontraram uma estrada larga que não leva à perdição. “Que perigo”, dizem eles, “pode correr a mulher, com aquele que é tão sem maldade e tão virtuoso? Que perigo há que homem tão honesto, de tão rigorosa moral, possa perder o céu; especialmente se, sobre e acima de tudo isso, freqüenta a igreja e os sacramentos?” Um desses perguntará com toda a segurança: “Quê! não faço tanto bem como meu próximo?” Sim, tanto bem como teu próximo ímpio; tanto bem como teu próximo que morre em seus pecados! Na verdade, descereis todos ao abismo, ao mais profundo inferno! Todos vos reunireis no lago de fogo; no “lago de fogo que arde com enxofre”. Então, afinal, vereis (conceda-vos Deus que possais vê-la antes!) a falta que faz à glória a santidade, e, conseqüentemente, a falta do novo nascimento, uma vez que ninguém pode ser santo, a não ser que seja nascido de novo.
3. Pela mesma razão, ninguém pode ser feliz, mesmo neste mundo, se não nascer de novo. Porque não é possível, pela própria natureza das coisas, que seja feliz o homem que não é santo. Mesmo o pobre, ímpio poeta, podia dizer-nos: Nemo malus felix: “Nenhum mau é feliz.” A razão é clara: todas as inclinações ímpias são inclinações desagradáveis: não só, a malícia, o ódio, a inveja, o ciúme, a vingança, criam um inferno presente na consciência, mas ainda as paixões mais brandas, se não forem mantidas dentro dos devidos limites, darão mil, vezes mais dores do que prazeres. Mesmo a “esperança”, quando “adiada” (e quão freqüentemente deve isto acontecer!) – “torna o coração enfermo”; e todo desejo que não seja conforme à vontade de Deus, pode “traspassar-nos de muitas dores”. Todas aquelas fontes gerais de pecado – o orgulho, a obstinação e a idolatria – são, à medida que predominam, fontes gerais de miséria. Portanto, enquanto elas reinarem na alma, nesta não terá lugar a felicidade. Mas esses males devem dominar, até que as tendências de nossa natureza sejam mudadas, isto é, até que tenham nascido de
novo; conseqüentemente, o novo nascimento é absolutamente necessário não só à felicidade neste mundo, como à felicidade no mundo vindouro.

JOHN WESLEY - O NOVO NASCIMENTO - parte 2

II

1. Mas, como pode o homem nascer de novo? Qual é a natureza do novo nascimento? Esta é a segunda questão – e questão da mais alta relevância que se possa imaginar. Não devemos, portanto, em tão
momentoso assunto, contentarmo-nos com um exame superficial; mas devemos examiná-la com todo o cuidado possível e ponderá-lo em nossos corações, até que plenamente compreendamos este ponto importante e vejamos claramente como podemos nascer outra vez.
2. Não que devamos esperar por alguma explanação minuciosa, filosófica, acerca da maneira por que isso se faz. Nosso Senhor suficientemente nos previne contra semelhante expectativa, através das palavras que imediatamente se seguem ao texto por meio delas lembrando a Nicodemos quão indiscutível é o fato, como qualquer outro que se verifica na marcha da natureza, e que, não obstante sua simplicidade, o homem mais sábio que haja debaixo do sol não é capaz de explicar satisfatoriamente. “O vento sopra onde quer” – não pelo teu poder ou sabedoria, “e ouves sua voz” – estás absolutamente certo, acima de qualquer dúvida, de que ele sopra; “mas não podes dizer de onde vem, nem para onde vai” – o modo preciso por que ele começa e termina, ergue-se e acalma-se, nenhum homem pode dizê-lo. “Assim é todo que é nascido do Espírito”: podes estar tão absolutamente certo do fato, como do soprar do vento; mas o modo preciso por que isso se faz, como o Espírito Santo opera na alma, nem tu, nem o mais sábio dos filhos dos homens, será capaz de explicar.
3. Entretanto, basta a todo propósito racional e cristão que, sem descer a inquéritos curiosos, críticos, possamos dar um esquema claro e bíblico da natureza do novo nascimento. Isto satisfará a todo homem razoável, que somente deseje a salvação de sua alma. A expressão “nascer outra vez” não foi usada pela primeira vez por nosso Senhor em sua conversa com Nicodemos: era bem conhecida antes daquele tempo, e estava em uso comum entre os judeus ao tempo em que nosso Senhor apareceu em meio deles. Quando um pagão adulto se convencia de que a religião dos judeus era do Senhor e desejava unir-se a ela, era costume primeiro batizá-lo, antes que fosseadmitido à circuncisão. E quando era batizado dizia-se ter nascido outra vez oque queria dizer que, o que dantes era filho do diabo, era agora adotado na família de Deus e contado como um de seus filhos. Essa expressão, pois, que Nicodemos, sendo “mestre em Israel”, devia ter bem compreendido, nosso Senhor emprega em conversa com ele; somente a emprega num sentido mais forte do que estava acostumado a ouvi-la. E esta podia ser a razão da pergunta: “Como pode ser isto?” O fato não se pode verificar literalmente: o homem não pode “entrar outra vez no ventre de sua mãe e nascer”; mas o fato pode verificar-se espiritualmente: o homem pode nascer de cima, nascer de
Deus, nascer do Espírito, o que tem analogia muito próxima com o nascimento natural.
4. Antes de a criancinha nascer neste mundo, ela tem olhos, mas não vê; tem ouvidos, mas não ouve. Faz uso muito imperfeito de qualquer outro sentido. Não tem conhecimento de qualquer coisa do mundo nem tem qualquer entendimento natural. A forma de existência que ela tem então riem podemos dar o nome de vida. Somente depois de nascido é que podemos dizer que o homem começa a viver. Porque, tão logo nasce, começa a ver a luz e os objetos com que esteja em contacto. Então se lhe abrem os ouvidos e ouve os sons que sucessivamente batem sobre eles. Ao mesmo tempo todos os outros órgãos dos sentidos começam a exercitar-se no campo apropriada a cada um. Ele próprio respira e vive de maneira totalmente diversa da vida que tivera até então. Como o paralelo exatamente se verifica em todos esses exemplos! Enquanto o homem se encontra no estado meramente natural, antes que seja nascido de Deus, possui, em sentido espiritual, olhos, e não vê; um espesso véu impenetrável estásobre eles. Possui ouvidos, mas, não ouve; é profundamente surdo a tudo que mais lhe interessa ouvir. Seus demais sentidos espirituais estão anulados e é o mesmo que se os não tivesse. Daí não ter conhecimento de Deus, nenhum contacto com Ele: o homem natural não se relaciona com Deus de modo nenhum. Não tem verdadeiro conhecimento das coisas de Deus, nem das coisas espirituais ou eternas; por isso, embora seja um homem vivo, é um cristão morto. Logo, porém, que é nascido de Deus há uma total mudança em todos aqueles pormenores. Os “olhos de seu entendimento são abertos” (tal é a linguagem do grande apóstolo); e Aquele que no passado “mandou a luz resplandecer das trevas, brilhando em seu coração, ele vê a luz da glória de Deus”, seu glorioso amor, “na face de Jesus Cristo”. Seus ouvidos sendo abertos, é agora capaz de ouvir a voz interior de Deus, dizendo: “Tem bom ânimo; teus pecados são-te perdoados”; “vai e não peques mais”. Este é o sentido do que Deus fala em seu coração, embora, talvez, não naquelas mesmas palavras. Ele está pronto agora a ouvir seja o que for que seja do agrado “Daquele que ensina ao homem o conhecimento revelar-lhe de tempos em tempos. “Sente em seu coração”, para usar a lin-guagem de nossa igreja, “a poderosa operação do Espírito de Deus”, não num sentido grosseiro, carnal, como os homens do mundo estúpida e teimosamente deturpam a expressão, não obstante tenham sido repisadamente ensinados que queremos dizer, por aquelas palavras, nem mais nem menos do que isto: o homem sente, percebe interiormente, as graças que o Espírito de Deus opera em seu coração. Sente, é cônscio da“paz que excede a toda compreensão”. Muitas vezes experimenta uma alegria em Deus que é “indizível e cheia de glória”. Sente “o amor de Deus derramado em seu coração pelo Espírito Santo que lhe é dado”; e todos os seus sentidos espirituais são então exercitados em discernir o bem e o mal de ordem espiritual. Pelo uso deles, o homem diariamente cresce no conhecimento de Deus, de Jesus Cristo, a quem Ele enviou, e de todas as coisas pertinentes a seu reino interior. E agora pode propriamente dizer que vive: despertado por Deus mediante o Espírito, ele vive para Deus mediante Jesus Cristo. Vive a vida que o mundo não conhece, uma “vida que está: escondida com Cristo em Deus”. Deus está constantemente bafejando, por assim dizer, a alma; e esta se acha respirando para Deus. A graça desce a seu coração e a oração e o louvor sobem ao céu: por este intercâmbio entre Deus e o homem, por esta comunhão com o Pai e o Filho, como por uma espécie de respiração espiritual, a vida de Deus se mantém na alma; e o filho de Deus cresce até chegar à “perfeita medida da estatura de Cristo”.
5. Daí manifestamente ressalta qual seja a natureza do novo nascimento. É aquela grande mudança que Deus opera na alma, quando Ele chama-a para a vida, quando Ele levanta-a da morte do pecado para a vida da justiça. É a mudança operado em toda a alma pelo poderoso Espírito de Deus, quando ela é “criada de novo em Cristo Jesus”, quando é “renovada segundo a imagem de Deus, em justiça e verdadeira santidade”; quando o amor do mundo se muda em amor de Deus, o orgulho em humildade, a impetuosidade em mansidão; o ódio, a inveja, a malícia num sincero, terno e desinteressado amor a toda, a humanidade. O novo nascimento é, numa palavra, aquela mudança pela qual a mente terrena, sensual e diabólica se transforma na “mente que havia em Cristo Jesus”. Esta é a natureza do novo nascimento: “assim é todo aquele que é nascido do Espírito”.

JOHN WESLEY - O NOVO NASCIMENTO - parte 1

“Importa-vos nascer outra vez”. (João 3.7)
1. SE QUAISQUER doutrinas, dentro do círculo do cristianismo, podem ser propriamente chamadas
“fundamentais”, estas serão, sem dúvida, duas: a doutrina da justificação e a do novo nascimento: a primeira relacionando-se com a grande obra que Deus faz por nós, perdoando nossos pecados; a última, referindo se à grande! Obra que Deus opera em nós, renovando-nos a natureza decaída. Quanto ao tempo, nenhuma delas tem a primazia: no momento em que somos justificados pela graça de Deus, pela redenção que há em Jesus, somos também “nascidos do Espírito”; mas, em urdem de pensamento, como é de uso expressar-se, a justificação precede ao novo nascimento. Primeiro, concebemos sua ira apartando-se de nós e depois seu Espírito operando em nossos corações.
2. Que importância enorme deve ter então, para todo filho do homem, o compreender profundamente essas doutrinas fundamentais! Partindo de uma perfeita compreensão disto, muitos homens excelentes têm escrito com abundância acerca da justificação, explanando cada ponto relativo a ela e abrindo as Escrituras que tratam do assunto. Muitos têm igualmente escrito sobre o novo nascimento, e alguns deles com bastante largueza; mas ainda não tão claramente como se poderia desejar, nem de modo tão profundo e acurado: apresentam uma obscura, confusa versão do novo nascimento, ou uma versão leve e superficial. Parece, portanto, haver necessidade de uma completa e ao mesmo tempo clara definição do novo nascimento; uma definição que nos habilite a dar satisfatória resposta a estas três perguntas:
Primeiro – Por que precisamos nascer de novo? Qual é o fundamento da doutrina do novo nascimento? Segundo – Como podemos nascer de novo? Qual é a natureza do novo nascimento? E, terceiro – Para que devemos nascer de novo? Para que fim isto é necessário? Estas questões, com a assistência de Deus, pretendo responder breve e claramente, e depois acrescentar umas poucas inferências que naturalmente ocorram.

I

1. Primeiro – Por que precisamos nascer de novo? Qual é o fundamento da doutrina do novo nascimento?
Seu fundamento remonta tão longe e tão profundamente como à criação do mundo. Na descrição bíblica desse evento lemos: “E Deus”, o Deus Trino, “disse: façamos Q homem à nossa imagem e segundo nossa semelhança”. Assim Deus criou o homem à sua própria imagem, à imagem de Deus o criou” (Gn 1.26,27) ; não meramente à sua imagem natural, um retrato de sua imortalidade; um ser espiritual, dotado de entendimento, liberdade de vontade e vários afetos; não meramente à sua imagem política, o governador deste mundo inferior, tendo “domínio sobre os peixes do mar e sobre toda a terra”; mas principalmente à sua imagem moral que, no dizer do apóstolo, é “justiça e verdadeira santidade” (Ef 4.24). Segundo essa imagem o homem foi feito. “Deus é amor”: conseqüentemente, o homem, ao ser criado, estava cheio de amor, que era o único móvel de todas as suas disposições, pensamentos, palavras e aros. Deus é cheio de justiça, misericórdia e verdade: assim era o homem ao sair das mãos de seu Criador. Deus é imaculada pureza: e assim era o homem no começo, puro de toda mancha pecaminosa; de outro modo Deus não oteria achado, assim como a todas as demais obras de suas mãos, “muito bom” (Gn 1.31). Bom
não podia o homem ter sido, se não fosse limpo de pecado e cheio de Justiça e verdadeira santidade. Porque não há meio termo: se supusermos que uma pessoa Inteligente não ame a Deus, não seja justa e santa, necessariamente havemos de supor que essa pessoa não seja boa de modo nenhum, e ainda menos “muito boa”.
2. Mas, embora tivesse sido o homem feito à imagem de Deus, ele não foi feito, todavia, imutável. Isto teria sido inconsistente com o estado de prova em que foi do agrado de Deus colocá-la, Foi criado com capacidade de permanecer de pé, e, no entanto, também sujeito a cair. E isto o próprio Deus lhe deu a conhecer e fez-lhe a tal propósito uma solene advertência. Não obstante, o homem não permaneceu em glória; caiu de sua alta condição. Ele “comeu da árvore a respeito da qual o Senhor lhe havia recomendado, dizendo: tu não comerás dela”. Por esse ato voluntário de desobediência a seu Criador, por essa franca rebelião contra seu Soberano, o homem abertamente declarou que não mais queria que Deus o governasse; que desejava ser governado pela sua própria vontade, ê não pela vontade daquele que o criara; e que não pretendia buscar sua felicidade em Deus, mas no mundo, nas obras de suas mãos. Ora, Deus lhe havia dito antes: “No dia em que comeres” daquele fruto, “certamente morrerás”. E a
palavra do Senhor não pode falhar. Conseqüentemente, naquele dia ele morreu: morreu para Deus – a mais tremenda de todas as mortes. Perdeu a vida de Deus: foi separado de Deus – e sua vida espiritual consistia precisamente nessa união. O corpo morre quando se separa da alma; morre a alma quando se separa de Deus. Mas essa separação de Deus Adão a experimentou no dia, na hora em que comeu do fruto proibido. E disso deu, prova imediata, mostrando pela sua conduta que o amor de Deus estava extinto em sua alma, a qual se encontrava agora “afastada da vida de Deus”. Em troca, estava agora sob o temor servil, de modo que fugiu da presença do Senhor. Sim, tão pouco conservou do conhecimento daquele que enche o céu e a terra, que tentou “esconder-se do Senhor Deus em meio das árvores do jardim” (Gn 3.8): destarte havia ele perdida tanto o conhecimento como o amor de Deus, sem os quais a imagem de Deus não podia subsistir. Desta, portanto, foi ele privado ao mesmo tempo e tornou-se ímpio e infeliz. Em lugar da imagem de Deus, revestiu-se de orgulho e obstinação, verdadeira imagem do diabo; e de apetites e desejos sensuais, à semelhança dos brutos que perecem.
3. Se se disser: Mas aquela advertência – No dia em que comeres dela, certamente morrerás, refere-se à morte temporal, e somente a esta, isto é, à morte do corpo” – responder-se-á de pronto: Afirmar isto é franca e palpavelmente tratar a Deus como mentiroso; asseverar que o Deus da verdade positivamente afirmava uma coisa contrária à verdade. Porque é evidente que Adão não morreu naquele sentido, “no dia em que comeu dela”. Adão viveu, no sentido oposto a essa morte, por mais de novecentos anos. Assim, a expressão não pode ser entendida como morte corporal,. sem ofensa à veracidade de Deus. Deve, por tanto, ser entendida como morte espiritual, como a perda da vida e da imagem de Deus.
4. E em Adão todos morreram, toda a espécie humana, todos os filhos dos homens que então estavam nos lombos de Adão. A conseqüência natural disso é que todo descendente seu vem ao mundo espiritualmente morto, morto para Deus, totalmente morto – em pecados; inteiramente vazio da vida de Deus; destituído da imagem de Deus, de toda aquela justiça e santidade com que Adão fora criado. Em lugar disto, todo homem nascido no mundo traz agora a imagem do diabo, no orgulho e na obstinação; a imagem do animal, em apetites e desejos sensuais. Este é, pois, o fundamento do novo nascimento – a completa corrupção de nossa natureza. Daí é quê resulta que, sendo nascidos em pecado, precisamos “nascer de novo”. Daí a necessidade de nascer do Espírito de Deus todo aquele que tenha nascido de mulher.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Pr. Neil Barreto » Nosso problema não é problema pra Deus

Pr. Neil Barreto » O mais lindo na divindade; sua humanidade

Hillsong - Healer

Viver é Cristo 12

Ordem - CORPO VIVO - CASA ESPIRITUAL - II

12ª Semana: ORGANIZAÇÃO.
Organização = Constituição física. Ação de pôr em estado de funcionar.
Organizar = Tornar apto para a Vida. Estabelecer as bases funcionais.

1º Dia - É Melhor serem Dois.
Eclesiastes 4:8-12 - "Há um que é só, não tendo parente; não tendo nem filho nem irmão. Contudo, de todo o seu trabalho não há fim, nem os seus olhos se fartam de riquezas. Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho: se um cair, o outro o ajuda a levantar-se. Mas, ai do que estiver só, pois, caindo, não haverá quem o levante. O cordão de três dobras não se quebra tão facilmente".
A referência que temos em Deus, do modo como atua, é de que Ele fez e faz todas as coisas segundo o Conselho da Sua Vontade. Em tudo que Deus determina e realiza, Ele o faz no Conselho da Trindade. Jesus enviou seus discípulos dois a dois para que, em conselho, cumprissem a tarefa que Ele lhes designou. Da mesma maneira, na Igreja, o segredo do êxito no cumprimento da nossa vocação está em primeiro identificar quem e com quem, antes de determinar o que fazer. Geralmente há uma precipitação em determinar estratégias e métodos, antes de se definir as bases relacionais que vão garantir os valores de um determinado projeto. Se, relacionamento para nós é um valor, então, conselho, aliança, parceria são parte incondicional da nossa estrutura organizacional. Pois, afinal, não é bom que o homem esteja só.
Para reflexão: Por que Deus faz questão de enfatizar a importância de se fazer tudo em Conselho?
2º Dia - Segundo a Justa Operação de cada Parte.
Efésios 4:16 - "Do qual todo o Corpo bem ajustado, e consolidado pelo auxilio de todas juntas, segundo a justa operação de cada parte, faz seu próprio aumento para edificação de si mesmo em Amor".
O sistema funcional e operacional da Igreja é de Conselho, porque não visa apenas reconhecer e premiar o desempenho individual, mas estabelecer princípios valores relacionais. O mundo privilegia a força e a capacidade, mas no Reino de Deus não é assim. Paulo entendeu isso quando foi confrontado com a sua fragilidade, mas logo consolado pela revelação da Graça de Deus. Trabalhando em conselho, em aliança, as limitações de cada deixam de ser constrangedoras, e se tornam oportunidades de ajuda mutua. Podemos discernir e praticar o valor da cooperação, da interdependência, da comunhão, da misericórdia e do favor. O fruto do Espírito, que é Amor, se expressa de formas relacionais:
"Alegria - Paz - Longanimidade - Benignidade - Bondade - Fidelidade - Mansidão - Domínio Próprio".
Para reflexão: Identifique textos na Bíblia que ressaltam a importância de agirmos em Conselho.
3º Dia - Como uma Flecha Polida.
Isaías 49:1-2 - "O Senhor me chamou desde o ventre, desde as entranhas da minha mãe fez menção do meu nome. Fez a minha boca como uma espada aguda, na sombra da Sua mão me cobriu; me colocou com uma flecha polida, e me escondeu na sua aljava".
Uma das partes essenciais da estrutura física da Igreja são os Alvos e Metas a serem atingidos. Onde estes alvos não são claramente definidos as pessoas se tornam inconstantes em seus compromissos. Os que têm sua vida transformada pelo poder de Cristo estão seguros do propósito da sua vida. Uma das características marcantes dos que são guiados pelo Espírito Santo é o senso de desígnio, de destino. Saber que não estamos mais à mercê da nossa própria vontade, mas temos um alvo a ser atingido. A promessa de Deus é de que Ele nos daria do Seu Espírito, e Ele seria como uma voz sempre a nos dizer: "Este é o Caminho, andai Nele sem se desviar nem para a direita nem para a esquerda".
Para reflexão: Você poderia relacionar, pelo menos, um alvo que Deus já tenha revelado para sua vida?
4º Dia - Veredas Direitas.
Hebreus 12:12-13 - "Portanto, levantai as mãos cansadas, e os joelhos vacilantes, e fazei veredas direitas para os seus pés, para o que é manco não se desvie inteiramente, antes seja curado".
A definição dos Processos e Etapas é tão essencial e importante para o êxito, quanto à definição dos alvos e metas. O mundo gosta de celebrar resultados, mas nem sempre é muito criterioso na escolha e desenvolvimento dos processos que podem levar a estes resultados. Jesus, apesar de ter sido um bebê gerado de modo sobrenatural, pelo poder do Espírito Santo, teve uma gestação de nove meses. O sobrenatural está na definição da natureza do que será realizado, e não significa, necessariamente a subtração dos processos e etapas. Através das genealogias registradas na Bíblia nós podemos conhecer que o nosso Deus é um Deus de Alvos e Processos. Por vezes as coisas foram dadas como perdidas, mas Ele perseverou em alcançar o que havia determinado. Ao estabelecer um alvo precisamos definir o caminho que nos levará até ele, considerando as dificuldades pelas quais vamos passar. Um alpinista não celebra apenas o cume da montanha, mas, também, a escalada e as dificuldades vencidas no trajeto até lá.
Para reflexão: Uma vez identificado o alvo, os processos para alcançá-lo são claros para você?
5º Dia - Pedras Vivas na Edificação de uma Casa Espiritual.
I Pedro 2:5 - "À medida que se aproximam Dele, a Pedra Viva - rejeitada pelos homens, mas escolhida por Deus e preciosa para Ele - vocês também estão sendo utilizados como Pedras Vivas na Edificação de uma Casa Espiritual para serem sacerdócio santo, oferecendo sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus, por meio de Jesus Cristo".
Na tentativa de levantar a torre de Babel, guiado por sua vaidade, o homem se propôs a construir algo que o aproximasse de Deus pelos seus próprios meios. Foi a primeira vez que o homem substituiu pedras por tijolos na suas construções. Até então, o homem buscava na natureza algo que Deus já providenciara, e seu esforço era de encontrar o melhor lugar para encaixá-lo nos seus processos construtivos. No final, o que se tinha era uma combinação entre a criação de Deus e a organização humana. Em Babel ele optou pela comodidade de fazer tudo sozinho, decidindo pela padronização de tudo. Não só a padronização da estrutura, mas a padronização dos elementos que compõe a estrutura. A partir daquele momento as pessoas deveriam se encaixar em medidas e padrões artificiais previamente estabelecidos. As pedras eram esculpidas e modeladas uma a uma, levando-se em conta suas características próprias, sua solidez e consistência. Assim, as estruturas funcionais da Igreja devem possibilitar as expressões peculiares de cada um segundo sua identidade e dons, não impondo formas que muitas vezes apenas engessam as pessoas obrigando-as a uma mera repetição de métodos. A casa feita de pedras, mesmo seguindo um padrão estabelecido, é sólida, mas ainda assim expressa um caráter dinâmico pelo movimento de suas linhas e medidas.
Para reflexão: Tendo pessoas como referência, que outras diferenças marcantes existem entre "pedras e tijolos"?
6º Dia - Dá Fruto na Estação Própria.
Salmo 1 - "Feliz aquele cuja satisfação está na Lei do Senhor, e nessa Lei medita dia e noite. É como árvore à beira de águas correntes: Dá seu fruto na estação própria e suas folhas não murcham. Tudo o que ele faz prosperará".
Já vimos que fomos chamados e designados por Deus para dar fruto, e fruto em abundância segundo nossa espécie. Além de estimular esta multiplicação, a Igreja deve ser também o ambiente onde isso acontece de maneira sistemática e ordenada refletindo sua Identidade, seus Valores e sua Natureza. As estruturas funcionais da Igreja não podem privilegiar apenas a experiência e a capacidade, mas oferecer oportunidade aos que têm compromisso. A maturidade é determinada pela consciência de identidade e pelo compromisso com a vocação, e não pela idade ou experiência. Na sua organização a Igreja não pode priorizar apenas o treinamento e capacitação, mas principalmente a Formação do Caráter dos seus membros. A forma como ela organiza, desenvolve e promove suas atividades são meios pelos quais ela testemunha e consolida seus valores. O êxito não está apenas nos resultados, mas na forma como eles foram obtidos. Nosso propósito, como Corpo Vivo de Cristo, não é só ensinar as pessoas sobre o que fazer, mas orientá-las e ensiná-las sobre como fazer e, principalmente, sobre "por que fazer?". A estrutura é um instrumento de comunicação da "pedagogia" da Igreja, e não só um meio de obter resultados.
Para reflexão: Descreva algumas diferenças básicas entre força e poder, capacidade e competência.
REVISÃO.
7º Dia - E no sétimo descansou.
Gênesis 2:1-2 - "Assim foram concluídos os céus e a terra, e tudo o que neles há. No sétimo dia Deus já havia concluído a obra que realizara, e nesse dia descansou. Abençoou Deus o sétimo dia e o santificou, porque nele descansou de toda a obra que realizara na criação".
Hebreus 4:10-11 - "Pois, todo aquele que entra no descanso de Deus, também descansa das suas obras, como Deus descansou das suas. Portanto, esforcemo-nos por entrar neste descanso, para que ninguém venha a cair, seguindo aquele exemplo de desobediência".
João 5:17 - "Disse-lhes Jesus: Meu Pai continua trabalhando até hoje, e eu também estou trabalhando".
Jesus corrige nosso entendimento de descanso quando exorta os fariseus sobre o que isso significa na pessoa de Deus. Para o homem natural o descanso está relacionado à ociosidade, de que o descanso só é possível se não fizermos nada. Para Deus o descanso vem da certeza da tarefa cumprida e a possibilidade de nos dedicarmos a uma outra tarefa, ou à manifestação e testemunho do que já está feito. Jesus diz que Ele descansou, mas ao mesmo tempo afirma que continua trabalhando até hoje.
Se, cremos "que quem espera no Senhor não se cansa, mas renova suas forças", então também cremos que o trabalho de Deus não produz cansaço. Logo, quando a Palavra de Deus está falando do Descanso de Deus refere-se à conclusão de uma etapa e ao reinício de outra. Uma mudança de atividade dentro de um plano preestabelecido. Há um plano a ser cumprido e Deus sabe que as coisas estão conforme o que havia previamente determinado, por isso pôde entrar no Seu descanso para se ocupar da conclusão dos processos, trabalhando outras etapas.
Este é um aspecto muito importante da vida da Igreja. Uma vez que, estamos organizados de modo a expressar nossas convicções em Deus, através do que fazemos, não podemos deixar que isso se torne ociosidade ou ativismo. O trabalho não pode nos levar à mera celebração das nossas habilidades, nem tampouco ao esgotamento das nossas motivações. Na vida da Igreja, ainda que consuma nossa energia física, ela não pode ser fonte de cansaço, mas sim expressão de fé, compromisso, entusiasmo, prazer e alegria. Quando a motivação vai embora e nos "sentimos cansados", é porque nossa confiança foi colocada na eficiência da estrutura ou na capacidade do homem. Em tudo que fizermos, por obra ou palavra, temos que buscar revelação de Deus para descansarmos na Fidelidade das Suas Promessas e a Eficácia do Seu Poder.

Viver é Cristo 11

Ordem - CORPO VIVO - CASA ESPIRITUAL.

11ª Semana: ORGANISMO.

Organismo = Disposição dos órgãos nos seres vivos.

1º Dia - Há um só Corpo e um só Espírito.
Efésios 4:4-6 - "há só um Corpo e um só Espírito, como também vocês foram chamados em uma só Esperança da sua Vocação; há um só Senhor, uma só Fé, um só Batismo; um só Deus e Pai de todos, O qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos".

O que confere identidade ao corpo é a consciência da sua Unidade e Propósito. Temos a mente de Cristo, Ele é o Cabeça do Corpo, Seu Espírito é Quem testifica a respeito de quem e para quem somos. Cristo não está dividido. Logo, qualquer forma de divisão ou facção não pode ser a expressão de Quem Cristo é. Não se pode pensar na Igreja como um conjunto de partes de naturezas distintas justapostas segundo uma estrutura, necessidade ou conveniência. A Igreja - expressão viva da Identidade de Cristo é um Organismo Vivo, onde todas as partes têm a mesma natureza, pois se desenvolveram a partir de uma única célula (semente), segundo uma orientação única. Cada uma das partes do Corpo está bem ajustada e consolidada através de juntas e ligaduras, e tem uma função específica para benefício comum, e não apenas individual.

Para reflexão: Em que um robô difere de um ser humano, já que poderiam ter a mesma aparência e estrutura?

2º Dia - Todo esforço na preservação da Unidade.
Efésios 4:1-3 - "andeis de modo digno da vocação, à qual fostes chamados, com toda humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em Amor, empenhando todo esforço na preservação da Unidade do Espírito no vínculo da Paz".

Uma vez que temos a consciência de Quem é Cristo, e de quem somos Nele, o nosso esforço deve ser produzir um testemunho incontestável desta Unidade do Espírito. Quem estimula divisões, que faz as coisas por partidarismo ou na tentativa de produzir reconhecimento próprio, não pode estar identificado com Cristo. Ele mesmo disse que a expressão da Unidade testemunharia da Glória de Deus em nós, e nos identificaria como sendo Seus verdadeiros discípulos. Se, quisermos de fato viver em Unidade, então, temos que nos agendar e priorizar. Não podemos nos acomodar aos nossos desejos e impulsos naturais, pois são contrários às intenções do Espírito Santo.

3º Dia - Muitos membros.
Romanos 12:13-27 - "Os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo. E também há diversidade de serviços, mas o Senhor é o mesmo. E a diversidade de realizações, mas o mesmo Deus é Quem opera tudo em todos. Um só e o mesmo Espírito realiza todas estas coisas, distribuindo-as, como Lhe apraz, a cada um, individualmente. O Corpo não é um só membro, mas muitos. Deus dispôs os membros, colocando cada um deles no Corpo, como Lhe aprouve. O certo é que há muitos membros, mas um só Corpo. Para que não haja divisão no Corpo; pelo contrário, cooperem os membros, como mesmo cuidado, em favor uns dos outros. Ora, vocês são Corpo de Cristo, e individualmente membros uns dos outros".

Liberar e promover a Diversidade no Corpo de Cristo é um dos maiores desafios na vida Igreja. Estamos sempre sendo tentados à padronização e regulamentação das formas e expressões. Pois, isso nos dá uma certa sensação de segurança e tranqüilidade. É uma das formas que encontramos de exercer controle sobre os outros, impondo sobre eles nossos estilos e métodos. A ordem do Espírito é a diversidade para que a Multiforme Sabedoria de Deus possa ser revelada através da Igreja. O segredo para que esta diversidade não se transforme em divergência é a submissão mútua e o empenho na edificação comum.

Para reflexão: É possível encontrar na criação outros exemplos claros de Unidade e Diversidade?

4º Dia - A Multiforme Sabedoria de Deus.
Efésios 3:10-12 - "para que, pela Igreja, a Multiforme Sabedoria de Deus se torne conhecida, agora, de principados e potestades nos lugares celestiais, segundo o Eterno Propósito de Deus em Cristo Jesus, nosso Senhor, em Quem temos ousadia e acesso com confiança, mediante a Fé Nele".

As Virtudes de Deus estão reveladas na diversidade de formas, cores, aromas e sons com que povoou, coloriu, perfumou e sonorizou a criação. Indo mais além, ainda estabeleceu para cada espécie a sua variedade, e para cada cor, aroma e som as suas tonalidades. Tentar restringir Sua Identidade, Ação e Expressão aos limites da nossa percepção simplória, nos torna míopes de entendimento, enxergando só o que está perto. Condenados à mediocridade do que é apenas óbvio. Não há como discernir o que Deus quer revelar de si mesmo, sem a disposição para a harmonia dos relacionamentos, em especial com os diferentes. Aceitar o desafio de vencer a distância que nos separa uns dos outros. Remover o muro de separação que Cristo destruiu na cruz, mas que tantas vezes insistimos em reconstruir, como forma de nos protegermos.

Para reflexão: Identifique aspectos da Natureza de Deus revelados na diversidade da sua comunidade.
5º Dia - O Espírito de Deus se movia.
Gênesis 1:1-2 - "No princípio, criou Deus os céus e a terra. A terra, porém, era sem forma e vazia; havia trevas na face do abismo, e o Espírito de Deus se movia sobre a superfície das águas".

A primeira característica descrita do Espírito de Deus é que Ele é um Espírito em movimento. Ele é o Espírito do próprio Deus que se movimenta por conta própria. Este é o mesmo Espírito que define a Identidade do Corpo Vivo de Cristo, a Igreja. Portanto, ela é por natureza um Corpo em constante movimento. Este aspecto da sua natureza está revelado nas palavras que Deus lhe dirige em momentos distintos da sua história. Por exemplo:
- O chamado de Deus a Abraão, que é o pai de todos os que viriam a crer: "Sai da tua terra, do meio da tua parentela e vai para um lugar que Eu te mostrarei".
- A ordem de Cristo para os discípulos, ao se despedir deles: "Ide por todo o mundo e fazei discípulos".
- A promessa de Cristo à Igreja: "Receberão poder ao descer sobre vocês o Espírito Santo, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, Judéia, Samaria e até os confins da terra".
A Mobilidade é, portanto uma das características marcantes da Igreja de Cristo. Sua estrutura funcional não pode ser rígida ou estática, impedindo que se movimente segundo a Vontade do Espírito de Deus que está nela, mas deve permitir que se movimente com toda facilidade e liberdade. Não precisa ser movimentada ou carregada por ninguém, como os ídolos feitos pela mão do homem, que não se movem. Para preservar sua Mobilidade a Igreja só tem que ser sensível à voz do Espírito Santo, sendo esta a única voz que define e dirige seu destino.

Para reflexão: Como podemos definir Movimento na Igreja e da Igreja?

6º Dia - Pelo auxílio de toda Junta e Ligadura.
Efésios 4:15 - "de Quem todo o Corpo, bem ajustado pelo auxílio de toda junta e ligadura, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em Amor".

Quando uma estrutura dinâmica se movimenta, sofre as tensões e esforços próprios deste movimento. Se, tentarmos movimentar uma estrutura rígida e estática, ela não suportará estes esforços e acabará se rompendo. Na medida em que transformamos nossa visão da Igreja numa coisa inerte e sem vida, mais identificada com o "imóvel" do que com as pessoas e com o Espírito que as move, estamos nos condenando às rupturas relacionais próprias do enrijecimento das nossas posições. A Igreja não pode ser transformada num organismo refém da organização, pois deixaria de ser a Igreja de Cristo. Para garantir esta constante capacidade de se movimentar, a Igreja precisa preservar sua Flexibilidade. Esta Flexibilidade, por sua vez, só é possível se forem firmados e preservados os vínculos e ligações entre as partes. Como em um corpo onde os tendões, nervos e músculos é que tornam o movimento possível, na Igreja são os compromissos assumidos, os relacionamentos bem cuidados é que vão garantir a superação das tensões próprias dos seus movimentos.

Para reflexão: Enumere algumas coisas que podem comprometer a Flexibilidade da Igreja.

REVISÃO.
7º Dia - Cresçamos em tudo.
Efésios 4:14 - "Mas, seguindo a Verdade em Amor, cresçamos em tudo, Naquele que é O Cabeça, Cristo".
Lucas 2:52 - "E crescia Jesus em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e dos homens".

Sendo um Organismo Vivo, a Igreja de Cristo está sobrenaturalmente dotada de todas as condições necessárias para crescer em todas as áreas da sua vida. A figura de Jesus - homem ilustra este crescimento. Ele crescia em Sabedoria, Graça e Estatura diante de Deus e dos homens. Quando o médico Lucas fez esta observação, registrou a condição saudável do desenvolvimento de Jesus. Crescimento ordenado e constante indica saúde, e com a Igreja não é diferente.

Portanto, a Igreja está capacitada a crescer em Sabedoria - a Consciência de Quem Deus é. Conhecimento, Temor de Deus é o princípio de toda Sabedoria. A convicção de Ele é o Senhor Soberano da vida e da história. A certeza de que nada escapa à Sua potente mão, e de que ninguém pode contra a Sua Vontade, para que possamos resistir às investidas de Satanás. Está Capacitada a crescer na Graça - a Consciência da Natureza de Deus comunicada a nós em Cristo. O entendimento transformado e exercitado, para que saibamos quem somos como expressão visível de Deus na terra. A Graça que nos capacita a Amar como Ele nos amou. Éramos filhos da ira, andando segundo o espírito da desobediência, debaixo do jugo da cobiça, fazendo tudo conforme nossos desejos e vaidade. Mas, agora, transportados para o Reino do Filho do Amor de Deus sabemos da importância que as pessoas têm para Ele e, portanto, para nós. O Espírito de Cristo nos capacita a viver conforme a suficiência desta Graça, manifestando aos outros o Amor de Deus por eles, através dos Seus dons em nós. Dons que só têm sentido quando usados conforme a natureza que os gerou e concedeu - o Amor de Deus. Capacitada, também, a crescer em Estatura - a Consciência de quem somos como Família de Deus na terra, e da possibilidade de nos multiplicarmos enchendo a terra de filhos de Deus. O desenvolvimento de nossas habilidades, para ocupar nosso espaço no mundo, influenciando e libertando aqueles que ainda estão presos à sua ignorância. Certos de que podemos expandir as fronteiras da nossa atuação, possuindo as nações para Deus pela manifestação do Seu Reino. Assim, pode conciliar coisas aparentemente inconciliáveis: Qualidade (Edificação) e Quantidade (Aumento).

A Igreja - O Corpo Vivo de Cristo, segundo a exclusiva orientação do Espírito Santo de Deus, movendo-se sobre a terra, superando as tenções próprias deste movimento, pela preservação das suas ligações e relações, cresce em tudo. Cresce na consciência de Deus, de si mesma e dos outros. Cresce em Maturidade e em Número.

Viver é Cristo 10

10ª Semana - QUALIFICAÇÃO.

Qualidade = Fidelidade aos valores confessados.

1º Dia - Imitadores de Deus.
Efésios 5:1-2 - "Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados; e andai em amor, como também Cristo nos amou e Se entregou por nós, como oferta e sacrifício a Deus, em aroma suave".

A qualidade do serviço de Cristo está na Sua firme disposição de ser um imitador fiel de Seu Pai. Ele diz que o Filho de Si mesmo nada pode fazer, mas que Ele mesmo fazia apenas o que vira Seu Pai fazer. Seu empenho não significava um esforço extenuante de cumprir algumas obrigações, mas o desejo intenso e permanente de ser a imagem viva do Seu Pai, trabalhando incansavelmente para compartilhar Seu amor. Ele é Filho do Deus vivo, e que, apesar de ser Deus, trabalha. Jesus é Filho de um trabalhador, e quer imitar Seu Pai. Por isso, Seu esforço não produz suor, fétido e desagradável, mas um aroma suave que perfuma e enche de Graça toda casa. O Seu trabalho, apesar de sacrificial, é caracterizado pelo prazer e alegria de poder imitar e compartilhar o amor do Pai.

Para reflexão: Como um sacrifício pode produzir um aroma suave?

2º Dia - Padrão dos fiéis.
I Timóteo 4:12; 14 - "Ninguém despreze a tua mocidade; pelo contrário, torna-te padrão dos fiéis, na palavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza. Não te faças negligente com o dom que há em ti".

Não há razão em esperar um determinado tempo para começar a dar um testemunho de qualidade. Desde o princípio de nossa caminhada com Cristo podemos ser movidos de uma vontade inabalável de ser fiel ao padrão que Deus estabeleceu para nossa vida. Somos gerados segundo Sua natureza, e isto está definido deste o primeiro instante da nossa nova vida. O Seu propósito é que sejamos "reprodutores" desta mesma qualidade de vida, sendo modeladores de uma nova geração de pessoas que conhecem e manifestam o Reino de Deus. Mais do que um conjunto de regras e normas, Deus nos dá a possibilidade de influenciar pessoas, pela aplicação da Palavra e comunhão do Espírito Santo, para que assim as transformações sejam definitivas e influenciem a outros nas gerações seguintes.

Para reflexão: Onde está a nossa garantia de qualidade?


3º Dia - Aprendei de mim.
Mateus 11:29 - "Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas. Pois o meu jugo é suave e meu fardo é leve".

Jesus não trouxe ao mundo um conceito ou uma vaga idéia de como poderia ser a vida daqueles que O seguiriam. Ele se colocou como referência e modelo de como viver a vida proposta. O caminho por Ele apresentado foi, primeiro, por Ele percorrido. Aquele que quiser entrar os "segredos" de Deus quanto ao que significa viver segundo Sua vontade, terá de passar por Jesus. Viver segundo Seu modelo de vida e de valores. Da mesma forma, aqueles que querem revelar o Reino de Deus deverão assumir o compromisso de revelar esse "caminho" aos outros. A Palavra líder, nas versões mais antigas da Bíblia, era traduzida como sendo guia - aquele que conhece, revela e percorre junto o caminho. Uma das exortações de Jesus quanto aos cuidados que deveríamos ter nesta vida, era o de nos guardarmos do "fermento dos fariseus"; aqueles que, vivendo de aparências, ensinam coisas que eles mesmos não estão dispostos a cumprir e observar.

Para reflexão: Identifique pelo menos 03 diferenças básicas entre os conceitos de liderança no mundo e na Igreja.

4º Dia - Mesmo sendo Filho.
Hebreus 5:7-9 - "O qual, nos dias da Sua carne, tendo oferecido, com grande clamor e lágrimas, orações e súplicas ao que O podia livrar da morte, e tendo sido ouvido por causa da Sua piedade, embora sendo Filho, aprendeu a obediência por meio daquilo que sofreu e, tendo sido aperfeiçoado, veio a ser o autor da eterna salvação para todos os que Lhe obedecem".

Desde o pecado, a expressão das virtudes de Deus pelo homem, deixou de ser naturalmente possível. A natureza do homem foi corrompida e toda criação escravizada por um jugo de vaidade e cobiça. Aqueles que quiserem ser instrumentos de revelação do Reino de Deus vão enfrentar fortíssima resistência. Na sua própria carne essa oposição poderá ser identificada, uma vez que a carne corrompida luta contra as coisas do Espírito, e o Espírito contra essa carne. As maiores resistências estarão, muitas vezes, dentro de nós mesmos. Na medida em que Jesus ia assumindo para si as conseqüências do pecado e corrupção humanos, Sua carne ia sofrendo as dores e marcas desta luta. Um confronto que foi até o sangue. Da mesma maneira somos exortados a, se preciso, ir até ao sangue no esforço de ser modelo na vida dos que nos cercam.

Para reflexão: Qual a diferença entre ser humilde e ser humilhado?


5º Dia - Educando-nos a viver.
Tito 2:11-12 - "Porquanto a Graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens, educando-nos para que, renegadas as paixões deste mundo, vivamos neste presente século, sensata, justa e piamente".

A salvação, ao contrário do que muitos pensam, não está só relacionada com a qualidade de vida que teremos no céu, mas, também, com a que temos aqui na Terra. Ser salvo, significa viver a vida que é possível ser vivida, sem a escravidão e as limitações impostas pela vaidade e cobiça humanas. Implica em fazer da capacidade e oportunidade de trabalho, uma expressão da transformação dos valores e prioridades ocorrida no entendimento daquele que crê. O salvo vê no trabalho a oportunidade de manifestar seu compromisso com o Reino de Deus e a certeza da sua herança em Cristo. O que vai muito além de ser apenas uma forma de garantir sustento e sobrevivência. Há uma diferença significativa entre o trabalhador e o empregado. Enquanto o trabalhador tem no salário um resultado natural da sua dedicação, o empregado o tem como objetivo. Ainda que a atividade seja a mesma, a motivação será sempre outra.

Para reflexão: Qual deve ser, na vida do cristão, o motivo e o objetivo?

6º Dia - O Sal da Terra.
Mateus 5:13 - "Vocês são o Sal da Terra; ora, se o sal perder o seu sabor, como restaurá-lo? Para nada mais presta, senão para ser lançado fora e ser pisado pelos homens".

O sal atua na preservação da integridade e do sabor. Assim, a qualidade do nosso testemunho e, portanto, do nosso trabalho, está diretamente relacionada com a coerência entre o que fazemos e o que, de fato fomos chamados a ser. O resultado do nosso trabalho, além dos aspectos objetivos, deve contemplar a interrupção dos processos corruptores e degenerativos, por vezes subjetivos, e que comprometem a natureza das nossas atividades. A ação da Igreja não pode estimular a vaidade, a arrogância e a contenda. Nosso desafio será sempre de promover o bem comum, e a percepção de que as oportunidades e privilégios são para todos, nada fazendo por partidarismo e vanglória. Quanto mais claro for o entendimento de que nossa disposição é despojada e voluntária, tanto mais qualidade haverá no resultado do que fazemos. Neste sentido, uma das evidências desta disposição, é a prontidão em fazer muito além do que nos foi solicitado, indo além das obrigações.

Para reflexão: Identifique aspectos subjetivos e objetivos do trabalho.
REVISÃO.

7º Dia - Jogou o sal ali.
II Reis 2:19-22 - "Alguns homens da cidade foram dizer a Eliseu: ‘Como podes ver, esta cidade está bem localizada, mas a água não é boa e a terra é improdutiva'. E disse ele: ‘Ponham sal numa tigela nova e tragam para mim'. Quando a levaram ele foi à nascente do rio, e jogou o sal ali e disse: ‘Assim diz o Senhor: Purifiquei esta água. Não causará mais mortes nem deixará a terra improdutiva'. E até hoje a água permanece pura, conforme a palavra de Eliseu".

Esta experiência na vida do profeta Eliseu ilustra bem o conceito de qualidade que somos chamados a desenvolver. Não é suficiente uma grande capacidade, uma estrutura eficiente ou um método convincente e razoável. O que define a qualidade do nosso trabalho, não é só a eficiência das nossas habilidades, mas a eficácia na comunicação dos valores que confessamos. Qualidade, portanto, não diz respeito apenas ao desempenho, mas, também, e principalmente, ao compromisso que temos com o benefício e interesse coletivo.

A nossa referência de qualidade é Jesus que, imitando o Pai, como um verdadeiro Filho, se entregou integralmente como modelo e padrão de uma nova cultura, a cultura do Reino de Deus. Nada fez pela usurpação de ser igual a Deus, mesmo sendo Deus, mas humilhou-se assumindo a condição de servo, e colocando o interesse dos outros acima dos Seus.

É comum encontrar aqueles que, na ânsia de ver seus direitos e privilégios garantidos, se esforçam em vão, fazendo o melhor que sua capacidade lhes permite. Porém, movidos de vaidade, cobiça e ganância, conseguem resultados superficiais e transitórios, mas não profundos e duradouros. São dedicados, mas apenas a si mesmos.

Somos chamados a ser uma porção de sal no meio deste ambiente de degeneração de valores, onde a busca desenfreada por resultados tem anulado a importância dos processos. Um tempo onde a remuneração é fator determinante nas escolhas profissionais, onde as almas e os sonhos estão à venda e há uma "legalização da prostituição".

Como Seus filhos amados, não temos que trabalhar por aquilo que Ele tem prazer em nos dar gratuitamente. Mas, justamente por isso, temos o privilégio de revelar as Suas virtudes pela qualidade do nosso trabalho.

Viver é Cristo 09

Trabalho - CRIADOS PARA AS BOAS OBRAS.

9ª Semana - TESTEMUNHO.

Testemunha = Aquele que vive e revela o fato.

1º Dia - Imagem conforme a Semelhança.
Gênesis 1:26-27 - "Então disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança... Assim Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou".

No propósito eterno de gerar uma família de filhos segundo Cristo, Deus produziu uma imagem visível de Si mesmo. Um povo que manifeste Sua Natureza e Identidade, e que seja a própria encarnação do que o Seu Amor é. O que, até então, só podia ser conhecido por Ele mesmo, agora é revelado a todos. O oculto sendo manifesto, o invisível tornando-se visível. Sendo assim, só há sentido na imagem que produzimos, através do que fazemos, se ela é a expressão das virtudes de Deus. Pois, o verdadeiro sentido das coisas não está no que naturalmente pode ser visto pelos olhos da carne, mas no que só é visível aos olhos do espírito e, portanto, sobrenaturalmente revelado pelo Espírito Santo.

Para reflexão: Qual a relação entre Imagem e Semelhança?

2º Dia - O Verbo se fez carne.
João 1:14 - "O Verbo se fez carne, e habitou entre nós. Vimos a sua glória como do unigênito do Pai, cheio de Graça e de Verdade".

A essência do Ser de Deus foi traduzida em Palavra, e esta Palavra foi encarnada na Pessoa de Cristo. Todas as coisas, visíveis e invisíveis, foram criadas pela Palavra de Deus e, portanto, em Cristo, por Cristo e para Cristo. Ele é antes de todas as coisas e Nele tudo subsiste. Ele é a perfeita imagem de Deus, e não apenas uma imagem de Deus. Através da criação, podemos ter uma percepção do poder de Deus, mas em Cristo podemos ter a plena revelação de Quem Ele, de fato, é. Então, a verdadeira espiritualidade não está em "espiritualizar" as coisas naturais, mas em conhecer a Cristo, revelação de Deus, passando a discernir as realidades espirituais, e "materializá-las" encarnando-as.

Para reflexão: Qual o sentido prático de encarnar a Palavra de Deus?

3º Dia - A Imagem do Celestial.
I Coríntios 15:49 - "E, assim como trouxemos a imagem do terreno, assim traremos também a imagem do celestial".

Deus quer revelar Seu Amor de maneira visível, através do homem em Cristo. Deus é Amor, e na medida em que Ele quer manifestar-Se para fora de Si mesmo, transforma esse Amor em Palavra, empenhando-a na forma de Promessa: "Dar a todos os que crêem em Cristo, o poder de se tornarem filhos do Seu Amor". Esse Amor transformado em Palavra Empenhada e encarnado na pessoa de Cristo é a Graça de Deus. A Graça que nos salva porque revela que é possível encarnar o Amor de Deus. A Graça de Deus está toda encarnada na pessoa de Cristo, e nos ensina que nem mesmo a morte pode conter o poder transformador do Amor de Deus. Jesus se entrega voluntariamente ao maior de nossos inimigos - a morte, e triunfa sobre ele ressuscitando de entre os mortos. A morte foi vencida! Mais do que resolver uma situação - libertando-nos, Cristo muda a nossa condição - tornando-nos seres livres. Muito além de usar Seu poder a nosso favor, vencendo nosso inimigo, Ele nos transmite Sua natureza, na qual somos do que vencedores. O mesmo poder que operou em Jesus Cristo, ressuscitando-o dos mortos, é o que agora opera em nós transformando-nos na Sua imagem.

Para reflexão: Que é ser mais do que vencedor, segundo Romanos 8?

4º Dia - Para justificação e vida.
Romanos 5:18 - "Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens, para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a Graça sobre todos os homens, para justificação e vida".

O sacrifício de Cristo na cruz nos perdoa de todo pecado e atribui a nós os efeitos de uma justiça que naturalmente não temos. Quando cremos, recebemos da justiça de Cristo pela Graça e somos libertos do jugo de escravidão a que estávamos sujeitos, e sobre o qual não tínhamos nenhum poder. Além de nos libertar, Ele nos transmite a Sua própria natureza, comunicando-nos a Sua semelhança. De modo que, todos os que estão em Cristo, são capacitados a ser como imagem de Deus, manifestando Suas virtudes. Livres, com o rosto descoberto, refletindo a glória do Senhor, vamos sendo transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor. Os efeitos da salvação não se restringem aos benefícios que podemos receber e usufruir, mas incluem o privilégio de poder revelar as virtudes de Deus na Terra.

Para reflexão: O que significa: "a Graça é para justificação e vida"?
5º Dia - Desceu às partes mais baixas da Terra.
Efésios 4:8-10 - "Mas a Graça foi dada a cada um de nós segundo a medida do dom de Cristo. Por isso diz: Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro, e deu dons aos homens. Ora, isto - Ele subiu - que é, senão que também antes desceu às partes mais baixas da Terra? O que desceu é o mesmo que subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas".

O Amor feito Promessa = Graça, é transmitido a nós e nos capacita a viver de tal modo que, em/com Cristo, sejamos uma expressão visível das virtudes de Deus. O propósito desta transformação é que, em Cristo e naqueles que são um com Ele, se cumpra o desejo de Deus de gerar uma imagem visível da Sua semelhança, enchendo a Terra com Sua Glória. Enquanto as pessoas se ocupam em "espiritualizar" as coisas materiais, Deus continua empenhado em "materializar" as espirituais. Como Cristo, nosso empenho deveria ser de descer antes de querer subir. Uma disposição contínua de ir ao encontro daqueles que ainda não conhecem o Amor de Deus revelado em Cristo, e agora é manifesto através de nós. O compromisso com o que é do céu se revela na intensidade do compromisso com os que são da Terra. Contudo, em nome do seu compromisso com o céu, muitos recusam esse tipo de compromisso, optando por um "espiritualismo alienado".

Para reflexão: Para você, onde estão as partes mais baixas da terra?


6º Dia - Para que vivamos.
Tito 2:11-12 - "Pois a Graça de Deus se revelou, trazendo salvação a todos os homens, ensinado-nos a abandonar a impiedade e as paixões mundanas, para que vivamos neste presente século sóbria, justa e piamente".

A salvação não é resultado do esforço da carne para alcançar o espírito, mas é fruto da ação do Espírito Santo alcançando a carne. A salvação não é carnal, mas é encarnada. Portanto, não podemos pensar em uma salvação que não afete e transforme a nossa relação com a vida. Aquele que está em Cristo, e é um com Ele, vive para encarnar essa Sua Palavra, testificada em nós pelo Espírito Santo. O testemunho não se limita ao que "pregamos", mas em como agora manifestamos a completa transformação dos nossos valores através do que fazemos. Alguém transformado pelo poder da Palavra e da obra do Espírito Santo, com certeza, através das suas obras, vai mostrar uma nova natureza, uma nova identidade. É um ser livre e apto a materializar os valores do Reino de Deus, para que esse Reino seja visto e conhecido pelos homens.

Para reflexão: Identifique alguns elementos da vida sóbria, justa e pia?
REVISÃO.

7º Dia - Criados em Cristo para as Boas Obras.
Efésios 2:8-10 - "Pois é pela Graça que sois salvos, mediante a fé - e isso não vem de vós, é dom de Deus - não das obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura Sua, criados em Cristo Jesus para as Boas Obras, as quais Deus preparou para andássemos nelas".

Boa obra é todo trabalho gerado pela certeza de que todas as nossas necessidades já foram supridas pela Graça de Cristo - o dom de Deus, e que, agora, temos o privilégio de repartir com os outros esse dom. É toda atividade coordenada de caráter físico, intelectual e/ou espiritual, que tem como propósito manifestar as virtudes de Deus, em todas as áreas da vida, tais como: Família - Igreja - Comunidade - Amizades - Escola - Profissão - Lazer - Sociedade.

A nossa compreensão de que somos cidadãos do Reino de Deus, faz com que essas sejam apenas áreas específicas de expressão de um compromisso único e pleno com esse Reino e seus valores. Não são universos distintos e isolados, como se tivéssemos que escolher entre um ou outro, priorizando um em prejuízo do outro. Amamos o Reino de Deus, ele é a nossa prioridade, e vivemos para revelar seus valores em cada uma destas áreas.

Quando Jesus nos ordena a buscar o Reino de Deus e sua justiça em primeiro lugar, não quer dizer primeiro o Reino e depois a Família, Igreja ou Profissão, mas primeiro o Reino, em tudo, e todas as coisas relativas a cada uma destas áreas serão acrescentadas. Por exemplo: O tipo de compromisso que temos com o Reino de Deus determina a qualidade do compromisso que temos com a Família ou, o nível de compromisso com a Comunidade mostra o tipo de compromisso que temos com o Reino.

A forma mais direta e objetiva de revelar esse compromisso é o trabalho. Não o serviço prestado com o objetivo exclusivo da remuneração, do salário, mas como resultado da disposição para o engajamento naquelas atividades que podem traduzir, de modo visível, os valores que cremos. A certeza de que o homem foi chamado ao trabalho antes do pecado, pois não se trata de uma punição, mas da oportunidade de partilhar da natureza operosa de Deus, de um privilégio. Trabalho, não como meio de obter o que desejamos, mas como um fim, como fruto da vontade consciente de expressar um coração e uma natureza transformados.

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