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Um novo vaso |
João Cruzué
Estive lendo outro dia o final do Livro
de Jó, e uma coisa chamou-me a atenção: a dura cobrança que Deus fez
aos três amigos do patriarca por causa das palavras maliciosas que
falaram. Hoje voltei ao mesmo texto para concluir minha meditação.
Por inveja do diabo Deus permitiu que
ele fustigasse a Jó para que negasse o nome de Deus. Primeiro o diabo
matou os filhos de Jó pela espada dos sabeus. Depois queimou as ovelhas
e seus pastores com fogo vindo do céu. E ainda, incitando três bandos
de caldeus para roubar os camelos e matar os guardadores. E por fim fez
com que um grande vento derrubasse as paredes da casa onde os filhos de
Jó estavam reunidos.
Mas não ficou só nisso.
Jó ainda continuava fiel e temente a
Deus. O diabo então pediu licença para tocar na saúde de Jó. Tão logo o
diabo saiu, o corpo de Jó foi ferido com uma chaga maligna desde a
planta do pé até o alto da cabeça.
A mulher de Jó ao ver tanta desgraça, aconselhou: Amaldiçoa a Deus e morre!
A seguir, no mais profundo desespero, Jó
recebeu a visita de seus três amigos mais íntimos: Elifaz, o tenamita;
Bildade, o suita e Zofar, o naamatita. E eles ficaram em silêncio
contemplando a profunda desgraça de jós por sete dias e sete noites. E
passado este tempo, cada um começou a cobrar de Jó um concerto com Deus,
porque chegaram os três a uma conclusão: Jó tinha pecados escondidos e
Deus agora o estava castigando.
Interessante é notar que depois do
capítulo dois, o diabo volta para a penumbra e deixa de ser protagonista
no texto, mas continua manipulando a visão das pessoas próximas de Jó
para empurrá-lo na cova. Se ele forçou o vento e fez cair fogo do céu,
se ele enviou demônios para levar os sabeus e os caldeus
para destruírem os herdeiros e o patrimônio do patriarca, da mesma forma
sou levado a entender que a fala da esposa e as repreensões dos três
amigos mais íntimos tinham também a mão do gato do diabo.
A Bíblia não fala do destino da mulher
de Jó. Mas fala da ira de Deus sobre seus três amigos: Elifaz, Bildade e
Sofar. E por que será que Deus acendeu sua ira contra os três? Em
primeiro lugar eu penso que eles, em nenhum momento perceberam quem foi o
autor das desgraças de Jó. E por que o Espírito de Deus não falava pela
boca daqueles três homens? E por que o diabo tinha tanta facilidade em
usar suas mentes e bocas para fazer um serviço sujo? Imagino que a
resposta pode estar no primeiro capítulo: Sinceridade, retidão, temor de
Deus e desvio do mal. Deus cobrou falta de retidão nas palavras dos
três. E que palavras eram essas? A princípio cheias de verdade e de
sabedoria divina, mas sua fonte era perversa, embora tivessem aparência
de santidade tinha origem no coração do diabo. Foram inspiradas para
concluir o serviço.
Imagino que os três ficaram muito
surpresos quando Deus apareceu e os repreendeu duramente. Mas não
estavam eles repetindo corretamente as verdades bíblicas? Sim, estavam.
Mas, as estavam falando para a pessoa errada. As palavras que Deus
tinha no coração para que falassem eles nem chegaram perto de conhecer,
porque seus corações estavam embotados pelo mau. Religiosos a serviço do
diabo. Faz me lembrar a história daquele profeta velho de 1 Reis
capítulo 13, em cujo coração só havia cinzas da presença do Espírito
Santo de Deus.
Infelizmente, nas Igrejas também há
profetas velhos cujo coração há muito está corrompido e quando o diabo
precisa de um mensageiro para enganar alguém estão sempre disponíveis.
Eles acham que andam na presença de Deus, pensam que estão na presença
de Deus, ouvem versículos que os chamam de homens de Deus, mas em seus
corações há algo estranho, como que um vazio e uma tristeza que não tem
outra tradução a não ser a ausência do Espírito da alegria de Deus.
E Deus teve misericórdia dos três amigos
de Jó. Tanto teve que os repreendeu e ordenou que levassem sete
bezerros e sete carneiros para sacrifício de expiação que somente seria
aceito com a oração de um homem que andava - de verdade - na presença de
Deus. Este homem era nada mais nada menos que Jó. O amigo que eles
falsamente acusaram de ter um pecado escondido.
E Jó orou e Deus aceitou sua oração em
favor dos três amigos linguarudos e loucos. Loucos, sim, pois Deus
considerou como loucura as palavras de acusação que falaram contra Jó.
E o que mais interessante posso ver no
capítulo 42, foi que Deus virou o cativeiro no momento que orava pelos
três "amigos". A palavra cativeiro mostra que a má sorte repentina de Jó
foi causada pela inveja do diabo, mas dentro da permissão de Deus.
Certa vez, diante de um milagre, os discípulos perguntaram para Jesus se
a causa daquele mal era um pecado familiar, ao que o Senhor respondeu
que não, e sim uma ocasião para revelar a glória de Deus.
Eu sei que há muita gente ferida por aí,
depois de ter ouvido besteiras de alguém em cima de um púlpito. Jó teve
a má sorte virada quando orava por três faladores de coisas indevidas.
Se Jó guardou alguma mágoa das palavras destruidoras de seus amigo, ele
logo as esqueceu quando os três vieram pedir oração. E mesmo que não
viessem, coração de um homem de Deus não pode ser um ninho de mágoas e
ressentimentos, sob pena de perder as bênçãos futuros por falta de
liberação de perdão.
Jó voltou a andar com muito mais honra e
intimidade diante de Deus porque praticou o perdão. E perdoar é a chave
que abre os ferrolhos do cativeiro maligno. O diabo manipula na
penumbra pessoas próximas para nos ferir e prejudicar. Com isso ele
espera que nos desviemos e, consequentemente, deixemos de receber as
maiores bênçãos de nossa vida. E isso pode acontecer quando julgamos
errado: que foram as pessoas e não o diabo a causa de nossas quedas,
prejuízos e infortúnios.
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