Por que o Brasil ainda é um país subdesenvolvido
Sou brasileiro, amo muito o meu país. E gostaria de poder dizer, de
boca cheia, que todos os cidadãos brasileiros desfrutam dos cinco
valores fundamentais propiciados pelo Estado: segurança, liberdade,
ordem, justiça e bem-estar. Mas é preciso ter bom senso e reconhecer que
o Brasil ainda está longe — muuuito longe — dos países desenvolvidos. E
não posso me dar ao luxo de pensar que somos uma potência mundial.
Aliás, nem no futebol o somos, na atualidade.
Mesmo assim, vemos pessoas, especialmente nas redes sociais, agindo
como autênticos brasilólatras. Elas enaltecem tanto o Brasil, a ponto de
o idolatrarem e reagirem com hostilidade a qualquer opinião pela qual
se confronte o nosso país com Estados desenvolvidos. Não admitem que, a
despeito de todos os avanços nos últimos anos, sobretudo no âmbito
econômico, o Brasil continua sendo um país subdesenvolvido.
Se alguém (brasileiro ou estrangeiro) critica a conduta do governo e
diz que aqui a educação, a segurança e a ordem são inferiores às do
Japão e de muitos países da Europa — e é evidente que são —, os adeptos
da brasilolatria logo se arvoram contra o tal, chamando-o de inimigo da
pátria. Se acontece algum crime chocante nos Estados Unidos ou na
Inglaterra, eles afirmam: "Está vendo? Há violência em todo lugar. O
Brasil é o melhor país do mundo. E aqui não há terremotos, furacões..."
O fato é que os nossos índices de violência são altíssimos; nosso
sistema de educação é precaríssimo; nossas leis estão ultrapassadas; as
cadeias, superlotadas (e mesmo assim a criminalidade não para crescer!),
e a impunidade impera. É enorme a desigualdade social. E não existe
civilidade; as pessoas não respeitam o próximo. Motoristas avançam sobre
os pedestres, mesmo na faixa de pedestres (!), estacionam onde bem
entendem (mas acionam o sinal de pisca-alerta), não obedecem a ninguém.
Vamos assistir a tudo isso impassíveis e bater palmas para esse estado
de coisas negativas? Se na Alemanha e na França, de modo geral, há ordem
e civilidade, por que não valorizar isso, elogiar e até imitar? Se em
Portugal a saúde pública é melhor do que a nossa, por que não querer que
aqui tenhamos algo parecido? Se os Estados Unidos, a Europa e o Japão
são modelos em muitas áreas, por que se revoltar contra eles?
Aliás, Japão e Alemanha são bons exemplos do que estou falando.
Arrasados ao fim da Segunda Guerra Mundial, começaram a se reerguer a
partir de 1945 e hoje são duas grandes potências. Veja se eles abrem mão
da cooperação internacional. Em vez de ficarem chorando por causa do
leite derramado, como muitos políticos brasileiros fazem, procuram
melhorar a cada dia a vida de seus cidadãos.
Finalmente, reconheço que muitas coisas melhoraram em nosso país, nos
últimos dez anos — outras pioraram. Mas penso que, antes de sermos
brasileiros, somos seres humanos. E, como tais, devemos amar e ajudar as
pessoas, independentemente de sua nacionalidade. Em contrapartida,
devemos, também, valorizar o que há de positivo em outros países.
Afinal, em um mundo globalizado, a cooperação e a interdependência entre
os países são fundamentais para o progresso e a sobrevivência de todos.
Ciro Sanches Zibordi
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