Texto: Daniel C. Cesar
Um pastor sobe ao púlpito em uma noite de domingo, ele não vai pregar
essa noite, ele contará uma mentira. Mas ele não pode mentir, é um
pastor? Sim... claro, então ele chama de "Testemunho". A história
envolve de manifestação sobrenatural a prisão por pregar o Evangelho... a
platéia se emociona, o pastor se emociona, ele quase acredita no que
está contando... e se ele quase acredita, uma comunidade inteira de
seguidores também vão acreditar.
Isso não é novo, quando eu tinha uns 10 anos de idade ouvi pela primeira
vez uma dessas mentiras de púlpito. Tratava-se de um grupo de
cientistas soviéticos haviam encontrado, perfurando um poço com mais de
10 quilômetros, as portas do inferno... não existia internet na época,
anos mais tarde ouvi a história novamente, no mural da minha igreja
tinha até o endereço do site para baixar os sons de pessoas gritando no
inferno... sim, baixei o MP3 e pasmem, descobri que no inferno as
pessoas falam inglês. Outras histórias também ocuparam e ainda ocupam
espaço no imaginário do evangelicalismo, como naves da Nasa que chegaram
no Céus ou pessoas que morreram, visitaram o céu e o inferno e voltaram
para contar (leia-se, escrever livros e produzir DVDs para ganhar
dinheiro com gente de mente simples). Adiciona-se a isso ainda as visões
de anjos, demônios (mais demônios que anjos), contemplações do futuro e
profecias sobre prosperidade e benção.
O meio evangélico é um espaço amplo e constantemente amplificado para
todo tipo de bizarrice, sincretismo e mentira. Isso não é um privilégio
apenas dos evangélicos, parece ser uma constante em todas as religiões.
Acontece que somos nós cristãos que proclamamos aos quatro cantos pregar
a única Verdade. A Verdade que liberta, transforma e regenera. Acontece
que alguns pastores tornaram-se vergonha para o Evangelho e para
evangélicos, são constantemente alvos da crítica interna e externa da
igreja, não por pregarem a Palavra de Deus, mas por exporem seus
pensamentos caídos como mensagem enviada direta do trono de Deus.
Eles não sobem ao púlpito para pregar a Palavra de Deus, que para nós
cristãos, é a Verdade. Eles sobem ao púlpito para contar anedotas e
tornaram-se populares, e entre uma e outra estória mais-ou-menos
verdade, uma série de mentiras, que na percepção deles, irá enriquecer o
sermão e convencer o ouvinte. E aqui reside a outra mentira. Nada pode
enriquecer mais a pregação do Evangelho nem converter o ouvinte além da
própria Palavra de Deus. Ao abandonar posições simples do Evangelho,
como pregar o Cristo crucificado, para pregar o "pastor engraçado", o
"pastor rebelde" ou ainda o "pastor louco", a simplicidade da Palavra é
substituída pela simploriedade do homem e a Verdade encontrada na
Palavra é substituída pela mentira que vertem pelos cantos da boca do
homem.
Respondendo a pergunta feita no título: Creio que a resposta se encontre
em como alguns pastores olham para as ovelhas e para o pasto. Alguns
pastores ainda não entenderam que as ovelhas não são suas, e que o pasto
não são uma extensão de suas posses... eles ainda não entenderam que
quem comprou as ovelhas foi Cristo e elas a Ele pertencem... também não
entenderam que os pastos verdejantes são aqueles para onde o "bom
pastor" conduz as ovelhas (Salmos 23.2), e o bom pastor é Cristo, não
ele. Enquanto pensarem que as ovelhas são suas propriedades, eles vão
oferecer o "seu" pasto, pobres em nutrientes e pisado pelos homens.
Sola Scriptura
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