Na
quarta vigília da noite, foi Jesus ter com eles, andando por sobre o
mar. E os discípulos, ao verem-no andando sobre as águas, ficaram
aterrados e exclamaram: É um fantasma! E, tomados de medo, gritaram. Mas
Jesus imediatamente lhes disse: Tende bom ânimo! Sou eu. Não temais!
Respondendo-lhe Pedro, disse: Se és tu, Senhor, manda-me ir ter contigo,
por sobre as águas. E ele disse: Vem! E Pedro, descendo do barco, andou
por sobre as águas e foi ter com Jesus. Reparando, porém, na força do
vento, teve medo; e, começando a submergir, gritou: Salva-me, Senhor! E,
prontamente, Jesus, estendendo a mão, tomou-o e lhe disse: Homem de
pequena fé, por que duvidaste? Subindo ambos para o barco, cessou o
vento. E os que estavam no barco o adoraram, dizendo: Verdadeiramente és
Filho de Deus! (Mt 14.25-33)
Uma
das grandes tarefas de Jesus em seu ministério foi a de preparar a
geração de líderes que lhe sucederia. Pedro foi um desses líderes. O
evento acima, narrado pelo evangelista e apóstolo Mateus, faz parte de
uma das etapas desse treinamento.
A
cena de Jesus andando sobre as águas deixou os discípulos perplexos.
Para acalmá-los, Jesus lhes disse: “Tende bom ânimo! Sou eu. Não
temais!” Penso que a voz do Mestre era inconfundível. Seria o caso que
em meio ao desespero, associado ao barulho das ondas e do vento os
discípulos não a reconheceram? O fato é que a palavra do Senhor não
bastou, e Pedro, com o ímpeto que lhe era comum, logo diz: “Se és tu,
Senhor, manda-me ir ter contigo, por sobre as águas.” Prontamente Jesus
lhe responde: “Vem!”.
Pela
segunda vez a voz do Senhor soa, e Pedro resoluto parte para a sua
grande demonstração de fé. Não seria o caso de aguardar Jesus no barco,
confiando apenas em sua palavra? O que era mais lógico, mais simples e
inteligente? Quando Ele diz para nos acalmarmos, o que nos resta a
fazer é manter o equilíbrio e aguardar o seu agir. O que Pedro queria
demonstrar com o seu gesto?
O
espetáculo durou pouco. Os sentidos superaram a fé. A força da natureza
sobrepujou em Pedro o poder da palavra de Jesus. O resultado disso foi
que Pedro começou a afundar não apenas nas águas do mar da Galiléia, mas
também no mar de suas próprias obstinações. Que cena desconcertante
pode-se imaginar: Um experiente e robusto pescador morrendo afogado
diante de um carpinteiro.
Jesus
fica apenas aguardando a próxima atitude de Pedro, que se manifesta em
forma de um pedido de ajuda. Quanto tempo durou para que Pedro pudesse
humildemente clamar por socorro? Será que ele se debateu muito para não
ter que chegar a esse ponto, e assim se livrar do vexame diante dos
demais discípulos e expectadores da cena?
O
grito de Pedro ecoou: “Salva-me, Senhor!” Jesus, de imediato lhe
estende a mão e o ergue das águas impetuosas. Pedro teve que aprender
com a própria experiência a lição da humildade e da dependência de Deus
para o exercício da liderança cristã.
No
ato de Jesus, reverbera a verdade de que nenhum líder, por mais
experiente que seja, e por mais capas que se ache, é suficiente em si
mesmo para enfrentar as adversidades da vida. Precisamos de Jesus!
Precisamos aprender a discernir a sua voz, e discernindo-a, obedecê-la.
Precisamos
aprender que não adianta tentarmos lutar sozinhos, confiando em nós
mesmos, quando as adversidades peculiares da liderança sopram
impetuosamente, e nos fazem submergir. É preciso deixar o orgulho de
lado nessa hora, e gritar por aquele que pode nos socorrer.
Há
muitos líderes que neste exato momento estão afundando em meio às
tribulações oriundas das incompreensões, calúnias, difamações, problemas
familiares e conjugais, dificuldades financeiras, desprezos,
injustiças, doenças, conflitos na igreja, etc. Outros estão submergindo
nas tentações do sexo, do dinheiro e do poder. Sabem que vão morrer, e
que não vão sair dessas situações sozinhos, mas resistem a ideia de
clamar pelo ajuda da forte mão do Senhor, que prontamente os socorrerá.
Na
fala de Jesus, outra lição nos é ensinada. Nem tudo que parece ser, é
de fato uma demonstração da fé que glorifica a Deus: “Homem de pequena
fé, por que duvidaste?”, foi essa a repreensão pedagógica de Jesus.
Pedro duvidou que o Senhor estivesse no controle da situação, quando ao
caminhar em direção ao barco lhes pediu calma.
Em
seguida, os papéis se invertem, e Pedro manda que Jesus lhe ordene que
vá ter com Ele sobre as águas. Imagine só, Pedro agora está ditando como
as coisas deveriam acontecer. Não acontece o mesmo em nossos dias? Não
há líderes que insistem em dizer para Jesus como as coisas devem ser
feitas? Não há lideres que em vez de servos obedientes ao Senhor dos
senhores, se tornaram arrogantes em sua insensatez, e tentam submeter
até Deus aos seus caprichos ministeriais? O resultado não poderia ser
diferente.
Muitos
dos que hoje parecem demonstrar uma grande confiança em Deus, não
passam de meros artistas interessados em promover os seus espetáculos
pessoais. É uma questão de tempo para que se assista a submersão dos
tais.
Quando
tiramos o foco do Mestre, e atraímos para nós os holofotes, podemos ter
a certeza de que as coisas não vão terminar bem. O início do afogamento
é inevitável. Sim, é melhor esperar quieto no barco diante da palavra
do Senhor, para que a glória seja somente dele, do que se aventurar a
caminhar sobre as águas, quando a ideia parte de nós.
Jesus
conduz Pedro até ao barco. Fico imaginando Pedro segurando ainda
trêmulo em sua mão, até se sentir seguro e salvo no barco. Logo em
seguida, ao cessar o vento, o que de início normalmente aconteceria,
acaba por acontecer: “E os que estavam no barco o adoraram, dizendo:
Verdadeiramente és Filho de Deus!”.
No fim do episódio, a glória coube a quem de fato ela pertence.
Aprendamos a lição da humildade e da dependência de Deus para o exercício da liderança cristã.Por: Pr. Altair Germano
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