Essa
pergunta, tão comum quando vemos tantos prosperarem, encerra nela um
pecado: a inveja. Inveja é uma espécie de rebelião, já que desdiz e
desacredita os desígnios do próprio Deus: Se o Todo Poderoso dá algo a
um e não há outro, Ele conhece seus propósitos. O invejoso em si crê
poder receber o que foi dado ao outro, imagina-se na roupagem e cenário
dado a outro, como se fosse capacitado a pilotar a existência alheia.
Ele
vê o bem alheio, o talento, a família, o amor, a posição social, e crê
plenamente que ele poderia estar ali, vestido naquela vida.
Salvo
as injustiças sociais, tão comuns, podemos ver gente se candidatando a
ser o que não é, mas fracassando copiosamente. É a você, invejoso
incubado, a quem me dirijo.
Você
conhece José, o do Egito? Não? Aquele que fez do Egito um dos países
mais ricos do velho mundo? Acima dele, só faraó, o presidente. Ele é
personagem do primeiro livro da Bíblia, Gênesis (aquele mesmo que fala
sobre Adão e Eva, Noé, Caim e Abel, a Torre de Babel, Sodoma e Gomorra).
Caso você nunca tenha lido, o livro possui 50 capítulos e só para
contar a história desse personagem usou-se mais de um quinto do livro
(começa-se a falar sobre ele logo no capítulo 38). Caso você se diga
“crente” e não conheça a história... meu amigo... o que anda fazendo em
sua comunidade cristã? Porque fazendo papel de crente é que não está:
Crente lê bíblia, entende?
Algumas coisas sobre José podem elucidar porque ele conseguiu, e você não:
José soube identificar as coisas sagradas, mesmo sendo coisas pequenas e - aparentemente - infantis.
Ele
enxergou a missão que Deus tinha para ele, e ingenuamente, provocava os
irmãos com isso. Contava os sonhos aos familiares, como se fosse
decreto para os que o rodeavam. Cria ser aquilo algo vindo dos céus,
capaz de se cumprir, mesmo sendo apenas visões subjetivas, que poderiam
ser causadas por uma feijoada mais caprichada, ou o excesso de vinho
ingerido na noite anterior (embora hebreu, até aquele tempo, comer carne
de porco ainda era liberada).
Não: José confiou no que ia em seu íntimo e não arredou o pé de sua crença, mesmo quando o mundo todo conspirou contra ele.
E
você? É guiado pelo que? Pelo senso comum e racional da maioria,
abandonando aquela “intuição”, e mudando a cada oscilação de ventos? A
propósito: o que é senso comum e racional? Isso é possível?
José é odiado por sua própria casa. Isso não moldou sua personalidade.
Os
principais opositores e inimigos eram íntimos: eis o perigo da inveja,
ela ocorre debaixo do mesmo teto (vide Caim e Abel, Davi e Saul). Ele
aprendeu isso a duras penas, mas não se deixou envenenar por muito tempo
pela possibilidade de vingança quando teve tudo em suas mãos. Os
irmãos, que planejaram matá-lo e o venderam como escravo a estrangeiros,
poderiam enfrentar um sério castigo, mas José, único, tinha uma visão
diferenciada das coisas que aconteciam ao seu redor.
A
Psicologia atribui boa parte de nossa tragédia pessoal a experiências
de nossa infância. José parece não ter sido notificado disso. Ele
simplesmente continuou vivendo, agindo como sabia, mantendo seus valores
e suas crenças, atento às oportunidades que o cercavam.
José não permitiu que o estímulo a sua sexualidade ditasse sua conduta.
Longe
de casa, vendido como escravo pelos próprios irmãos quando tinha 17
anos, administrando a casa de um egípcio e fazendo-o prosperar. Até a
mulher de seu chefe poderia ter, se quisesse: sem compromisso, apenas
sexo. Mas José tinha valores pessoais, ordem de prioridades, e a
principal era Deus. Não, ele não tinha uma congregação a prestar contas
em casos de escorregadelas, não tinha esposa, namoradas, casos que
justificassem uma conduta tão rígida. Tudo se definia em não querer
desagradar a Deus (o mesmo Deus que não o livrou de ser vendido e não o
livraria da falsa acusação da mulher de Potifar, quando rejeitada pelo
escravo). Isso lhe custou a liberdade e o emprego.
Sim:
José poderia viver muito bem, confortável na casa de Potifar, usando a
mulher dele para satisfazer seus eventuais desejos. Seria sossego, seria
paz, não haveriam humilhações, prisões, agressões, falsas acusações de
tentativa de estupro. A vida seria melhor.
Mas
fosse assim, a história de José teria chegado ao fim, ele jamais teria
acesso ao presidente do Egito (já que foi através da prisão que o hebreu
conheceu um funcionário de faraó, e foi esse quem apresentou-o). Não
fosse isso, Jacó, seu pai, e toda a sua família, jamais teria achado
sustento na época da grande fome prevista nos sonhos de faraó. Na
verdade, sem José, o Egito jamais teria administrado tão bem suas
reservas nas “vacas gordas” do sonho. Não haveria suprimento para os
sete anos de “vacas magras” e não haveria descendência para o povo
prometido.
A fé de José não se guiava por circunstâncias
Dia
desses ria com uma frase sobre adolescentes que gostam de falar sobre
seu consumo de vodca e whisky, quando seu precioso paladar não suporta
um halls preto ou mesmo trinta gotas de dipirona.
Nós,
neo-crentes-em-Deus, embora saibamos os versículos que garantem
fidelidade eterna ao Grande El-Shaday, não precisamos de nada muito duro
para abandonar nossa devoção tacanha a Deus: desemprego, uma relação
amorosa fora dos moldes exigidos pela comunidade religiosa onde
congregamos, desavenças entre lideranças, perseguições, a “falta de
oportunidades no ministério” (acho engraçado essa. Muitos acreditam que
sua voz combinada com o púlpito e o microfone é tudo que podem oferecer
ao Reino). A lista pode se esticar indefinidamente e creio que muitos
dos itens que nos fazem desistir são sugestões do próprio diabo: bebida,
cigarro, droga, roupas e cabelos, ou as vezes, um simples “não”.
Não
havia, para José, irmãos que orassem com ele – na verdade, os irmãos o
odiavam. Não havia amigos, nem igreja, cultos dominicais ou uma bíblia
sequer. Nem mesmo de Deus haviam sinais de que as coisas correriam bem.
Apenas sonhos de quando criança.
Você,
como eu, certamente precisaria de mais do que isso para manter a fé.
Mesmo assim, olharíamos as vezes para o céu, com o punho cerrado, nos
perguntando “por que ele e não eu?”
Apesar da família ser o que era, José decide honrá-la.
Apesar
de tudo, apesar do abandono, do tempo, das agressões. Apesar daqueles
malditos parentes já terem dado mostras reais do que são capazes de
fazer quando sentem inveja: são um bando de “Cains”, que não se
comoveram nem quando o pobre pai sofreu com a mentira de sua morte.
Não
podemos dizer que Zaf-Nti-Pa-Ankh (nome egípcio de José,
“Aquele-que-alimenta-o-que-vive”) não se sentiu tentado a prejudicar
seus irmãos. Prendeu-os sim, mas deu tratamento cinco estrelas no
período. Deixou-os angustiados, mas se apresentou resplandecente, e só
tinha uma pergunta:
“Papai ainda vive?”
O
coração do humilhado e abandonado José só tinha espaço para a saudade
do pai. Sem rancores, sem remorsos, sem revanches. Isso só é possível de
uma maneira:
José soube entender o real propósito de seu sucesso.
Conheço
não poucas pessoas inteligentes e prósperas. Entre elas, muitas que
creem realmente que essas coisas vem delas, de sua capacidade pessoal e
nisso justificam seu sucesso – que nem de longe se assemelha ao de um
“José”, mesmo que o Egito fosse apenas uma pequena vila de três
quarteirões.
Se
você pergunta como enriqueceram, a resposta invariavelmente é que
fizeram por merecer, embora não possam responder porque os outros
milhares que fizeram exatamente a mesma coisa fracassaram (as vezes,
trabalharam muito mais, estudaram bem mais, tem aparentemente muito mais
condições de administrar a situação na qual não foram postos).
José
sabia. Ele poderia responder a questão da mesma forma que os outros
beneficiados pela vida, como por exemplo, Pôncio Pilatos, capacitado
governador em Israel, colocado estrategicamente por Deus no cargo para
evitar eventuais e costumeiras rebeliões locais: o Senhor precisava de
um líder omisso para cumprir seus propósitos na cruz do Filho. Fosse
José em seu lugar, jamais desprezaria um sonho e teria reconhecido Nele,
seu Senhor. Naquela posição, José não teria sido eficaz – aos
propósitos de Deus – como Pilatos.
Você
reclama do seu chefe, líder, companheiro, pastor. Você que para,
lamentando sobre o destino injusto das vidas à sua volta: será que não
entende que existe um propósito maior do que sua necessidade de uma nova
TV ou de instalar aquele aplicativo em seu celular? Não compreende que a
Ira de Deus (isso mesmo: a Ira) pode estar se manifestando quando temos
um completo imbecil na liderança de coisas importantes?
Aprenda
com José: no propósito de Deus não cabe amarguras, vinganças. Não há
espaço para lamentações e não se pode usar do dom que Ele te deu para
manter-se egoisticamente em definitivo.
Não? Você quer manter-se nessa sua posição mesquinha? Fazer as coisas do jeito que bem entender?
Ok...
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