Usei meu último dia de folga para
assistir com minha esposa a série mais comentada nesses últimos dias, Stranger
Things. Gostamos muito de séries e do Netflix. Foram 8 episódios muito
interessantes que prederam nossa atenção e imaginação. Como a expectativa
criada em torno da produção foi grande, ela não foi superada, mas é uma
excelente série. Como é de se esperar (pelo nome) coisas estranhas acontecem
nessa ficção científica. Na verdade, coisas bem estranhas e inesperadas por
todos. A história [LEVE SPOILER] gira em torno da possibilidade da existência e
de interação com um mundo ou dimensão paralela. Assistam!
Um mundo paralelo com coisas
estranhas e inesperadas… O que isso me lembraria? Se você pensou em ministério
de jovens, acertou! Foi isso que veio a minha cabeça no dia seguinte. Acompanhe
meu raciocínio inicial. Ao meu ver o direcionamento de muitos ministérios de
jovens é criar um mundo paralelo ao mundo do restante da igreja. É como se os
jovens necessitassem viver na mesma vida, mas numa dimensão diferente, só para
eles. E nessa visão o que difere as dimensões são exatamente as coisas
estranhas que permeiam nossa juventude. Espero me tornar mais claro com os
pontos a seguir.
Um deus estranho
O primeiro aspecto de um mundo
paralelo no ministério de jovens é um deus estranho. Se Ele é o criador e a
fonte de toda realidade, um mundo diferente começa com um Deus diferente. No
deserto Deus deu ao seu povo hebreu um ambiente (o tabernáculo), uma forma de
louvor (o sistema sacrificial) e uma forma de ensino e comportamento (a lei). O
Deus único instituiu uma maneira de ser adorado. Seu povo o adorava como Ele queria.
Isso quer dizer que a adoração a outro deus seria diferente (ex: bezerro de
ouro) ou que outros povos não saberiam adorar a Deus corretamente, isso porque
nem o conheciam.
Realmente me parece que o deus de boa
parte dos jovens é estranho às Escrituras e ao restante da igreja. Costumam
pensar num deus menos irado e mais complacente com o pecado. Num deus mais
camarada com irreverente. Ou talvez um deus que não se importe tanto com as
normas que Ele mesmo criou. O jovem costuma ver a Deus como o tiozão descolado,
não como pai. Os filósofos atenienses convocaram Paulo a falar por acharem que
ele ensinava coisas estranhas (At 17.20), mas o apóstolo começa dizendo que a
razão pela qual acham seu ensino estranho está no fato de que adoram a um deus
desconhecido (At 17.23), não o Deus único e verdadeiro de Paulo. Não é novidade
vermos jovens achando ensinos bíblico estranhos. Temo que isso se deve ao
desconhecimento de Deus por conta do deus estranho que constroem em suas
mentes. E isso afeta todo o resto.
Um ambiente estranho
Se temos um Deus estranho
provavelmente teremos um ambiente estranho de vida e adoração. Isso é
perceptível em muitos ministérios de jovens. Existe uma grande tentativa de
criar um ambiente “diferentão”, uma outra dimensão da igreja. Por exemplo,
sabemos que o Deus da Bíblia é um Deus de decência e ordem (1 Co 14.40), não
sabemos? Por que então tanta desordem e indecência no meio dos jovens? A
resposta: a visão de Deus estranha às Escrituras. Pense num culto normal de
domingo de uma igreja e pense naquele culto de jovens badalado da sua cidade.
Por que eles são tão diferentes. Por que as coisas valorizadas no culto
dominical normal não são valorizadas no sábado a noite.
Um ambiente de jovens paralelo não se
justifica. Nenhum ministério tem a prerrogativa bíblica de criar um ambiente
estranho. O que estou querendo dizer com isso? Não me oponho a contextualização
de linguagem e roupagem, mas tudo deve ser feito dentro do limite bíblico. Esse
mundo totalmente diferente e paralelo acaba viciando os jovens e o mantendo
preso a um formato. Muitos não crescem, não gostam de ir a igreja aos domingos
e querem continuar mimados pelo deus estranhos dos jovens. E o grande problema
é esse: a criação de uma realidade jovem paralela ao restante da igreja é a
busca por tornar o ministério mais parecido com o presente século.
Um louvor estranho
No culto de domingo as luzes estão
acessas, no de sábado apagadas. No de domingo a música está num volume
agradável onde podemos ouvir os demais irmãos cantando, no sábado o volume é
máximo. No domingo a liturgia segue normal, no sábado ela é substituída pelo
entretenimento. No domingo temos um pregador bem vestido, normalmente, no
sábado temos alguém fantasiado ou com roupas que não usaríamos no domingo. No
domingo fazemos uma adoração voltada para os crentes, no sábado um show voltado
para os incrédulos. Por que duas realidades diferentes? Só podemos encontrar
resposta numa visão de Deus diferente.
Deus deixou claro um padrão de louvor
ao seu nome. Seria enorme a defesa bíblica de cada passagem, mas podemos
resumir e ficar com o princípio de que Ele está procurando adoradores em
“Espírito e em Verdade” (Jo 4.24), ou seja, cristãos verdadeiros adorando
através da verdade aplicada pelo Espírito. No mundo paralelo dos ministérios de
jovens a verdade nas letras musicais pouco parecem importar diante da forma de
apresentação. Aliás, as letras estranhas que cantam por ai é a maior expressão
do deus estranho que pregam por ai.
Uma pregação estranha
Falando em pregação… quanta coisa
estranha é feita com ela no meio dos jovens. Não vou nem falar de reduzir o
tempo, eu bem queria que fosse apenas isso. Deus nos deixou um modelo de
pregação (ver Atos), nos deixou um conteúdo de evangelização e exortação (Ler
Jesus e Paulo) e nos disse como Ele chama pessoas a fé (Rm 10.13-17). Por que o
restante da igreja tenta seguir essas verdades e o ministério de jovens parece
ter descoberto uma forma mais legal de fazer?
A pregação estranha é a propagação e
perpetuação do mundo estranho paralelo. A realidade bíblica da pregação
expositiva (por passagem ou temas) é substituída por coisas estranhas do tipo
motivacional, humorística, entretenimento, graça barata, loucuras, e
secularismo. Como disse Hernandes Dias Lopes, quando a teologia é ruim (estranha),
quanto mais se prega pior fica. O monstro da realidade paralela se alimenta de
pregações estranhas às Escrituras.
Um comportamento estranho
Tudo isso que acabei de citar gera um
relacionamento estranho. Nesse mundo paralelo a lei de Deus se faz também
estranha. Jovens homens estão cada vez mais ameninados e jovens mulheres cada
vez mais sensualizadas. É comum ver um palavreado estranho (entenda palavrões),
vestes estranhas e brincadeiras estranhas. E o que é pior, esses jovens pensam
que podem transitar o tempo todo entre as duas realidades sem nenhum desgaste
ou prejuízo. Nesse caso esses ministérios de jovens são piores do que o
misterioso centro de pesquisas de Hawkins.
Aqui fica a lição que até a série
pode nos ensinar. O contado entre essas duas realidade e o trânsito entre elas
é perigo e pode se tornar devastador. Ao passar dos episódios encontramos um
professor de ciências afirmando que é necessário uma grande quantidade de
energia para abrir portais entre as duas dimensões. E é triste ver tantos
líderes e jovens gastando inutilmente uma grande quantidade de energia
justamente para viverem num mundo paralelo cheio de coisas estranhas por conta
de uma visão estranha de Deus (Os 4.6)
Como fechamos esse portal?
A resposta é uma: não dividamos a
realidade da igreja em duas. Só existe uma realidade e uma das piores coisas
que podem acontecer numa igreja é esse mundo paralelo jovem se tornar tão forte
ao ponto de engolir toda a verdadeira dimensão eclesiástica. Jovens não
precisam de um mundo paralelo, ninguém precisa. Aqui estão alguns pontos para
lutarmos contra essa dupla dimensão:
·
Elime o foco no entretenimento
·
Centralize o culto em Deus não nos
visitantes
·
Envolva os jovens com os mais velhos
da igreja (incentive esses momentos)
·
Utilize o mesmo padrão de liturgia
(bíblico) em todos os cultos
·
Pregue com a mesma seriedade em todos
os cultos
·
Não vista o ambiente jovem com a
roupagem do mundo
·
Cante músicas com letras bíblicas em
todos os cultos
·
Não se importe tanto com a quantidade
de pessoas
Uma das piores
coisas que podem acontecer numa igreja é esse mundo paralelo jovem se tornar
tão forte ao ponto de engolir toda a verdadeira dimensão eclesiástica.
Voltemos ao ambiente bíblico de culto, ao louvor
bíblico, a pregação bíblia e ao comportamento bíblico. Voltemos a realidade que
tem sua expressão máxima na verdade encarnada (Cristo) e escrita (Bíblia).
Deixemos as “stranger things” apenas no Netflix…
Via: Site Pr Anselmo Melo "A PEDRA"
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