Por Alessandro Brito
Talvez a notícia de maior repercussão das redes de comunicação gospel,
em 2014, seja a saída de Mark Driscoll da mega igreja Mars Hill e o
anuncio do fechamento de todas as suas igrejas “satélites”. O que me
chama atenção é o fato de que o próprio pivô das manchetes já havia
deixado claro que isso tudo um dia aconteceria. Em 2012, Driscoll
publicou um artigo intitulado, The 9 Seasons of a Church’s Life (As 9
Estações da Vida de uma Igreja), onde apresentou a morte da igreja local
como parte natural de seu ciclo de vida:
Quando uma igreja não é saudável, ela morre. Uma igreja não é
saudável quando não mais experimenta o crescimento por meio da conversão
ou atrai jovens líderes. Neste ponto a igreja enfrenta um dilema
fundamental. Um, ela pode negar a sua morte iminente, vender seus ativos
para prolongar a sua morte, redefinir sua missão a fim de defender-se
da sua morte, e simplesmente sobreviver à medida que de forma lenta e
dolorosamente morra e reescrever os melhores anos de sua história para
se sentir importante e bem sucedida. Dois, ela pode abraçar a sua morte
iminente como uma oportunidade para ressuscitar.[1]
O que as igrejas e líderes eclesiásticos podem aprender com essa
experiência? Existe uma forma de se evitar a queda e o fechamento de uma
igreja local? Quero responder a estas perguntas destacando duas grandes
lições do ocorrido utilizando o próprio ensino de Driscoll.
A primeira lição é que uma igreja ou sua liderança quando enfermas
morrem. A doença que levou a queda de Driscoll, de acordo com Tim
Keller, pastor da Igreja Presbiteriana Redeemer em Nova York, foi: “… a arrogância e a grosseria nas relações pessoais, que ele mesmo confessou várias vezes…”.[2]
A própria Mars Hill reconheceu isso ao dizer em seu web site que: “…o
Pastor Mark tem, às vezes, sido culpado de arrogância, respondendo a
conflitos com um temperamento explosivo e fala dura, e liderado a equipe
e os anciãos de uma forma dominadora”.[3] Claro que várias outras
acusações foram feitas em relação ao ministério de Mark Driscoll, porém é
obvio que a raiz de sua queda e consequentemente de sua igreja foi a
arrogância, ou seja, orgulho. O mesmo mal que levou Satanás e Adão a se
rebelarem contra Deus e consequentemente caírem.[4]
A questão é que todos nós somos participantes da queda, pois somos
pecadores, e tão culpados quanto Driscoll, a final de contas, somos
todos orgulhosos, mesmo quando não admitimos isso.[5] Se perguntarmos,
por exemplo, a vários líderes qual é o propósito de seus ministérios ou
de suas igrejas, as respostas certamente serão bíblicas, porém ao
observaremos as suas atitudes chegaremos a conclusão de que estão de
forma orgulhosa colocando toda glória devida a Deus em segundo plano.
Não tem como negar que uma infinidade de igrejas e pastores evangelizam
para aumentar o número de membros e não para ver mais pessoas refletindo
os atributos de Deus. Que discipulam para dominar seus membros por meio
de doutrinas humanas e não para ensinar pessoas a refletirem a Deus
corretamente. Que fazem justiça social para atrair os holofotes para si
mesmos e não para glorificar a Deus por meio de boas ações mesmo que
ninguém venha a ficar sabendo. O resultado deste desvio de propósito
ministerial e eclesiástico é o que faz com que muitos vivam como se o
tempo não tivesse um fim, assim como diz a Bíblia: “Tudo tem o seu tempo
determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Há tempo
de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o
que se plantou.”[6]
A segunda está relacionada ao tempo, pois uma igreja ou sua liderança
fatalmente morrerão um dia. Mars Hill, por exemplo, será uma das mais de
4.000 igrejas que, segundo as estatisticas, fecham a cada ano Estados
Unidos.[7] O problema é que vários líderes na busca de imortalizarem as
suas igrejas não levam em consideração o ciclo natural da vida. Várias
igrejas e líderes no intuito de prolongarem seus ministérios e a vida de
suas igrejas dedicam tempo e recursos financeiros em suas suntuosas
construções ou ministérios, ao invés de focarem naquilo que Jesus deixou
como comissionamento.
Quando entendemos que somos limitados pelo tempo e espaço mudamos as
nossas perspectivas e atitudes. Passamos a encarar a vida com um senso
de urgência missionário e nos desprendemos das coisas terrenas. Isso
acontence, pois a iminente certeza da morte nos faz repensar sobre a
razão de nossa existência e levanta questionamentos do tipo: o que eu
faria se hoje fosse o meu último dia de vida?
Steve Timmis, atual presidente da Acts 29 (Rede de plantação de igrejas
fundada por Mark Discoll), encara o declínio das igrejas da seguinte
forma:
É fácil, para nós, cristãos, desanimar quando lemos sobre a diminuição
da frequência na igreja ou sobre a secularização da nossa cultura. Mas
nós nos empolgamos com o futuro… A perda de frequência na igreja se deu
em grande parte por causa da saída de cristãos nominais. Como
resultado, o que sobrou pode estar mais sadio. Agora temos a
oportunidade de nos tornarmos comunidades focadas em Jesus e a sua
missão.[8]
John Piper diz que: “Nossa missão jamais deve ser apenas uma missão de
‘venha e veja’. Ela tem de ser missão de ‘Vá e fale’”.[9] Para Deus são
justamente as nossas ações que abrirão a porta do Espírito Santo e logo
determinarão o tempo de vida de nossas igrejas e ministérios. Para Deus o
problema não está no fim da vida de uma congregação, mas em uma
congregação morta ainda que aparentemente viva. As cartas enviadas para
as sete igrejas da Ásia não foram escritas com a promessa de eternidade
para as mesmas, mas um lembrete de que tinham uma missão a cumprir
enquanto vivas.
Espero que Driscoll abrace a aparente morte da Mars Hill e seu
ministério na expectativa de um renascimento tendo em mente que sem a
morte não há ressurreição. Assim como também espero que nós, líderes e
igrejas, não venhamos a ter a arrogante atitude de que somos
indestrutíveis, mas que nossos dias se prolonguem por meio de uma mansa e
humilde atitude que vise somente a glória de Deus.
Notas:
[1] http://theresurgence.com/2012/06/11/the-9-seasons-of-a-churchs-life
[2] http://www.nytimes.com/2014/08/23/us/mark-driscoll-is-being-urged-to-leave-mars-hill-church.html?smid=tw-share&_r=2
[3] https://marshill.com/2014/10/15/pastor-mark-driscolls-resignation
[4] Isaías 14:12-14; Ezequiel 28:12-15
[5] Romanos 3.23
[6] Eclesiastes 3.1,2
[7] WIN Arn, The Pastor’s Manual for Effective Ministry. Monrovia, CA, Church Growth, 1988, p.16
[8] CHESTER, Tim; TIMMIS, Everyday Church: Gospel Communities on Mission. Nottingham, UK: IVP, 2011, p.11
[9] Piper, John Evangelização e Missões: Proclamando o Evangelho para a
Alegria das Nações. São José dos Campos: Editora Fiel, 2011, p. 77
***
Fonte: Gospel Prime, via Púlpito Cristão.
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