A ala progressiva do evangelicalismo parece estar escalando em suas demandas de que igrejas baseadas na Bíblia aceitem a homossexualidade como estilo de vida aceitável. Um exemplo disso é um vídeo recente de Nadia Bolz-Weber intitulado “Eu Sou a Igreja”. O vídeo traz uma série de jovens que resumidamente afirmam o porquê de irem à igreja, se identificam com alguma das nomenclaturas LGBT e insistem que devem ser aceitos como cristãos. A mensagem básica é “Eu sou um cristão homossexual e não sou um problema”. Claro, todo o objetivo do vídeo é fazer sua sexualidade o problema e exigir aceitação de cristãos cujas consciências proíbem tal coisa. O destaque vem ao final, quando Bolz-Weber lê Efésios 2.14-15 para concluir: “Pois ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um e destruiu a barreira, o muro de inimizade” (NVI).
Antes de dar razões pelas quais esse tipo de apresentação não é persuasiva aos cristãos que discordam, deixe-me dizer que sou tocado pessoalmente por qualquer profissão sincera de fé na graça de Jesus Cristo. O primeiro rapaz no vídeo fala de receber graça e perdão no evangelho, e eu não olho para ele apenas com mais um “gay”, como ele coloca, mas como um pecador que, como eu, tem um amplo leque de necessidades espirituais que são satisfeitas apenas em Jesus Cristo. Eu louvo o Senhor por isso. Uma mulher chamada Kathleen se alegra ao dizer que “eu não tenho nada que me faz merecedora ou digna”. Pecadores de todos os tipos se alegram nessa mesma misericórdia ao nos chegarmos a Deus e Cristo. Por mais que saiba que esses homens e mulheres estejam sendo destacados para advogarem por uma única questão, eu sei que são pessoas cujas identidades transcendem em muito sua sexualidade e que Jesus realmente é o Salvador de todos que vão a ele em fé.
Entretanto, há preocupações vitais que não posso deixar de lado, dada a obrigação, como cristão, de ser fiel a Cristo e, como pastor, de afirmar a Palavra de Deus. Deixe-me responder, então, a esse vídeo com três críticas, a saber: 1) nem todas as divisões são a mesma coisa; 2) o evangelho inclui transformação de vida em direção à santidade; e 3) ser parte do Corpo de Cristo envolve obrigações morais.
1. Nem todas as divisões são a mesma coisa. Quando Paulo falou de “barreiras” na passagem de Efésios citada por Bolz-Weber, ele estava se referindo à divisão entre judeus e gentios. Cristo derrubou uma divisão étnica/cultural, deixando claro que povos hostis são feitos um só ao serem trazidos para Deus por meio do sangue de Cristo (Efésios 2.13-16). Embora o homossexualismo claramente envolva uma subcultura, também é definido pela Bíblia em termos morais. A questão, então, não é se cristãos bíblicos pode aceitar pessoas de uma subcultura sociológica diferente – nós podemos, e devemos, fazê-lo – mas se nós podemos aceitar um comportamento moral que é especificamente condenado na Bíblia. É por isso que eu peço que Nadia Bolz-Weber continue lendo Efésios. Em Efésios 5.5 ela vai encontrar Paulo escrevendo: “Sabei, pois, isto: nenhum incontinente, ou impuro, ou avarento, que é idólatra, tem herança no reino de Cristo e de Deus”. A comparação com outras passagens como 1 Coríntios 6.9 remove qualquer dúvida que Paulo está incluindo o homossexualismo e os desvios sexuais relacionados. Assim, por mais que possamos concordar honestamente que etnias e raças são abraçadas pela unidade do corpo de Cristo, não podemos admitir que comportamento sexual deva ser tratado da mesma forma. Essa é a questão que não vai ser deixada de lado pelos cristãos bíblicos, não importa quanta pressão seja aplicada sobre nós: a Bíblia proíbe que cristãos sejam homossexuais. Assim, não podemos concordar com a categoria do Cristão Homossexual.
2. O evangelho inclui transformação de vida rumo à santidade. Uma asserção feita no vídeo é que ser cristão significa que não precisamos mudar. Isso é simplesmente uma negação do evangelho, que inclui não apenas perdão, mas também santificação. A boa nova é tanto o perdão dos pecados por parte de Cristo quanto sua vitória sobre o pecado na vida do crente. Com isso em mente, vemos que a demanda para aceitar homossexuais como cristão está aliada às tendências antinomistas crescentes no evangelicalismo atual. Uma mulher no vídeo fala que “sugerir que eu preciso mudar é dizer que eu sei melhor do que Deus o que Deus planejou para a minha vida”. Ela não percebe que a Bíblia diz a ela o que Deus planejou para as nossas vidas, inclusive nossa transformação moral, especialmente. Foi com a pureza sexual especificamente em mente que Paulo escreveu “Pois esta é a vontade de Deus: a vossa santificação, que vos abstenhais da prostituição”. Dizer que meu Cristianismo não impões demandas à minha sexualidade é simplesmente negar o senhorio de Jesus Cristo sobre uma das partes mais integrais da vida. Qualquer que seja a questão, seja sexualidade, uso do dinheiro ou a forma com que tratamos as pessoas no trabalho, Cristo é Senhor e ele insiste, de fato, que mudemos, mesmo quando nos cobre com sua justiça e nos reveste do poder do Espírito Santo. Aqui, novamente, a questão central é nossa submissão às Escrituras como Palavra de Deus. Nós podemos afirmar que mudar a sexualidade significa dizer que “eu sei melhor que Deus”, mas quando a Bíblia fala claramente sobre determinado assunto, então a fé nos obriga a buscar a mudança, pela graça que Deus dá.
3. Ser parte do Corpo de Cristo envolve obrigações morais. Isso, provavelmente, foi a questão que mais me chamou a atenção ao assistir o vídeo. Um homem chamado Jim declara “eu sou a igreja, independente da minha sexualidade”. Entretanto, de acordo com a Bíblia, é especificamente porque cristãos são o corpo de Cristo que devemos ser santos. Falando especificamente sobre indecência sexual, e escrevendo a crentes imersos em uma cultura sexualmente perversa, Paulo fez o apelo urgente de que ser parte do corpo de Cristo requer que sejamos puros: “Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo?” (1 Coríntios 6.15); “Acaso, não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo” (1 Coríntios 6.19-20). A questão aqui era sobre adultério com uma prostituta, mas toda a pureza sexual está implícita, incluindo a proibição bíblica da homossexualidade.
Sinto muito que, nesse vídeo, esses homens e mulheres sejam transformados no próprio “problema” que eles afirmam ressentir. De fato, eles não são “um problema” para mim, mas pessoas de valor inestimável cujo relacionamento com Cristo tem implicações eternas. Entretanto, o cuidado para com eles como pessoas e a preocupação com seu senso de bem estar em nossas igrejas não pode se sobrepor ao nosso compromisso com o ensinamento claro de Deus em sua Palavra. Não importa quantos testemunhos sejam apresentados exigindo que abramos mão, devemos sempre abraçar o ensinamento da Bíblia. Com isso em mente, deixe-me concluir com dois comentários dirigidos especificamente a qualquer um dos homens e mulheres do vídeo que possam estar lendo isso, ou outros leitores que compartilham das mesmas orientações sexuais.
Primeiro, crer em Jesus significa crer em toda a sua Palavra, que fala clara e inescapavelmente sobre a pecaminosidade do homossexualismo. Eu sei que há estudiosos que afirmam que ela não o faz, mas igrejas fiéis à Bíblia, em geral, não são persuadidas por eles. Essa é a questão. Ao invés de exigir que desistamos do que estamos convencidos ser uma questão de fé e obediência a Cristo, te pedimos encarecidamente que considere as razões pelas quais aceitamos os ensinamentos da Bíblia sobre esse assunto. Há boas discussões sobre a questão de qual é o ensinamento da Bíblia sobre homossexualidade, e é nisso que o foco deve estar.
Segundo, há uma grande diferença entre o desespero quebrantado por conta do pecado e uma exigência desafiadora para que o pecado seja aceito. Cristãos são todos pecadores indignos do amor de Deus, mas que encontram perdão em sua graça, junto com o poder para mudar. Se você diz “eu realmente estou quebrantado, confuso e sofrendo. Eu recebo tudo que Jesus oferece e demanda, incluindo a mudança moral que eu não posso alcançar por mim mesmo. Eu preciso de seu amor, suas orações e sua ajuda”, você vai encontrar o acolhimento compassivo de seus amigos cristãos. Mas se você diz “eu exijo que vocês aceitem meu comprometimento com o que a Bíblia declara que é pecado”, então nossa negação em concordar não é uma questão de ódio contra você, mas uma demonstração de amor por Cristo e Sua Palavra. E também é, creio, uma forma de demonstrar amor a você, já que Paulo disse que àqueles que continuam lendo Efésios:
Seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo. (Efésios 4.15)
Traduzido por Filipe Schulz | Reforma21.org | Original aqui
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Via: Reforma 21
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