Ovo de pato chocado por galinha não nasce pintinho. A nossa espiritualidade não nos transforma em deuses ou anjos (nem em demônios)
O meu avô
materno era um homem da roça, do campo. Gostava de criações! Não sei por que
motivo, ele gostava de colocar ovo de pato para chocar em galinhas.
Ao nascer, o patinhonascia "pensando" ser uma galinha;
por outro lado, a galinha "pensava" ter um filho
dentro de toda estrutura classificatória da existência: vida - domínio - reino
- filo - ordem - família - gênero - espécie. Mas, não era bem assim. Eles se
encontravam nos quatro primeiros níveis. Mas eram de ordem, de família, de gênero
e de espécie diferentes. Convivia com a "mãe" e os irmãos da espécie
gallus gallus domesticus, mas, sua essência era outra: a de pato.
O que o meu avô fazia era uma verdadeira invasão de existencialidade. Fazia com o patinhopensasse ser um pintinho, e fazia com a galinha, tendo um filho patinho, que fossepintinho.
Os pintinhos nasceram, e junto com eles, o patinho. A vida continuou naturalmente! Eu disse: naturalmente! Até que um dia pude observar uma das cenas mais angustiantes da vida, do domínio, do reino e do filo; mas não da ordem, da família, do gênero e da espécie. A cena produziu angústia para a galinha e prazer para o patinho.
A galinha, como não tem hábitos aquáticos, mantinha-se no seu habitat natural. Todavia, um destes eventos da casualidade - eventos estes que muitas vezes uns se encontram (se acham) e outros se angustiam - a galinha passou perto de um lago! Que bom! Pois, foi ao passar perto do lago, que a angústia se instalou na galinha, mas por outro lado, libertou opatinho que pensava ser pintinho.
O que o meu avô fazia era uma verdadeira invasão de existencialidade. Fazia com o patinhopensasse ser um pintinho, e fazia com a galinha, tendo um filho patinho, que fossepintinho.
Os pintinhos nasceram, e junto com eles, o patinho. A vida continuou naturalmente! Eu disse: naturalmente! Até que um dia pude observar uma das cenas mais angustiantes da vida, do domínio, do reino e do filo; mas não da ordem, da família, do gênero e da espécie. A cena produziu angústia para a galinha e prazer para o patinho.
A galinha, como não tem hábitos aquáticos, mantinha-se no seu habitat natural. Todavia, um destes eventos da casualidade - eventos estes que muitas vezes uns se encontram (se acham) e outros se angustiam - a galinha passou perto de um lago! Que bom! Pois, foi ao passar perto do lago, que a angústia se instalou na galinha, mas por outro lado, libertou opatinho que pensava ser pintinho.
O pato
encontrou o seu caminho
Ao ver o lago os elementos essenciais da natureza de pato vieram à tona, e de pronto opintinho, ups, o patinho correu, correu, correu e se lançou na água... A mãe, tomada de um desespero sem limites, a onomatopéia do cocoricó, transforma-se em "gritos" de angústia, desespero, em volta do lago... Os seus gritos eram a essência do desespero! Mas, patinho(que não era pintinho) não se afagou! Deslizou plasticamente sobre a face da água. Mas a tentativa da "mãe", aos gritos, de trazer o filho para si, foi em vão! O patinho, alheio aos gritos da galinha, desfruta da essência, até então desconhecida, da sua filogenia.
Bem! Não sei como esta relação materna, depois do encontro com o lago se configurou, pois o patinho crescia e aprendeu o caminho do lago; logo, lá no lago, por certo, conheceu outros patos. O pato, que sempre foi pato, descobrirá que, mesmo vivendo na terra, tem hábitos aquáticos, por conta disto, sempre que for necessário, procurara água!
Mas, o que tudo isto tem haver com espiritualidade? Tudo! Pois, assim como pato chocado por galinha não se transforma em pintinho, a nossa espiritualidade não nos transforma em deuses ou anjos. A nossa espiritualidade é apenas uma possibilidade relacional dos elementos de crença e fé que estabelecemos para os nossos referenciais de culto e adoração.
Quando cremos numa relação de espiritualidade, onde Deus é a razão deste relacionamento, em momento algum, sob hipótese alguma, nos transformaremos em outro deus.
O lago existencial da nossa humanidade está sempre diante de nós, e que mesmo estabelecendo uma relação de unidade, enquanto expressão de culto - em espírito e em verdade (João 4:24) -, não anula a nossa estrutura humana. Espiritualidade não anula a humanidade. Pode se afirmar, então, que não há como se expressar espiritualidade sem humanidade. Assim, falo de humanidade para além da corporeidade; falo de humanidade como expressão do sujeito enquanto ser histórico, situado na transitoriedade; uma transitoriedade que nos coloca em transcendentalidade - pois o lago está sempre diante de nós, dia-a-dia, e é uma questão de tempo encontrá-lo. Assim, situamos a nossa espiritualidade na nossa humanidade.
Somos "seres estranhos" chocados no grande seio da existência, chamados sob as várias formas, a nos jogar nos mais diversos lagos. Desta forma, somos seres com potencial para uma relação espiritual, mas humanos por natureza; humanidade está impressa, no nosso sistema de crença. Destarte, ser humano e ser potencialmente espiritual: vai depender da nossa humanidade.
O lago está sempre diante de cada um de nós, no dia-a-dia... Assim, caminhe, corra e se permita encontrar o seu lago!
Deus nos ajude!
Autor: Raimundo Francisco Frank Ribeiro
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