Se quisermos andar como Jesus andou (1 Jo 2.6), não devemos nos fazer inimigos de ninguém, mesmo dos falsos ou ex-amigos que nos traem. Afinal, segundo a Bíblia, os nossos reais inimigos são os invisíveis: principados, potestades, hostes espirituais da maldade, príncipes das trevas deste século, e não as pessoas (Ef 6.10-12).
Lamentavelmente, há cristãos (cristãos?) elegendo, equivocadamente, seus vizinhos, colegas de trabalhos e até irmãos como inimigos. E alegam ter motivos “nobres” para alimentarem sentimento de vingança e se regozijarem com o aparente fracasso dos tais. Que tipo de vida cristã é essa? Obadias profetizou numa época em que a cidade de Jerusalém estava sob o ataque violento da Babilônia. E os vizinhos de Jerusalém, os edomitas, estavam torcendo para que os exércitos inimigos os matassem e os destruíssem, como lemos em Salmos 137.7: “Lembra-te, SENHOR, dos filhos de Edom no dia de Jerusalém, porque diziam: Arrasai-a, arrasai-a, até aos seus alicerces”.
As seguintes palavras de escárnio e desprezo, constantes de Obadias v.12, foram pronunciadas por parentes consanguíneos dos judeus: “Mas tu não devias olhar para o dia de teu irmão, no dia do seu desterro; nem alegrar-te sobre os filhos de Judá, no dia da sua ruína; nem alargar a tua boca, no dia da angústia”. Descendentes de Esaú, irmão de Jacó, os edomitas foram condenados por Obadias em razão de se regozijarem com o sofrimento dos judeus. Conclusão: os filhos de Edom, que pensavam estar comemorando uma vitória com sabor de mel, experimentaram, na verdade, uma derrota com sabor de fel: “Ah! Filha de Babilônia, que vais ser assolada! Feliz aquele que te retribuir consoante nos fizeste a nós! Feliz aquele que pegar em teus filhos e der com eles nas pedras!” (Sl 137.8,9).
Se alguém que nos tem traído ou prejudicado, de alguma maneira, está sofrendo ou vier a sofrer, não devemos, como servos do Senhor, ter o prazer da vingança. As Escrituras nos ensinam: “Quando cair o teu inimigo, não te alegres, e não se regozije o teu coração quando ele tropeçar” (Pv 24.17). Em vez de zombarmos do suposto fracasso de alguém, devemos manter uma atitude de compaixão e perdão, pois “Horrenda coisa é cair na mão do Deus vivo” (Hb 10.31). O que estão buscando os crentes que cantam “Tem sabor de mel, tem sabor de mel” ao verem sofrendo o seu irmão (que eles consideram inimigo)?
Por outro lado, é impossível não ter inimigos. O Senhor Jesus, o Homem perfeito, também os tinha, e a maioria deles o odiava por inveja. O Mestre nunca foi inimigo de ninguém, a ponto de chamar até o traidor Judas de amigo (Mt 26.50)! Ele não impediu que o Iscariotes se fizesse seu inimigo. Mas, paradoxalmente, nunca desejou ser seu inimigo, objetivamente.
Judas é o mais emblemático exemplo bíblico de traição, mas não é o único. A traição de Demas também foi bastante sentida pelo apóstolo Paulo (2 Tm 4.10). As Escrituras e a escola da vida nos ensinam que, em muitos casos, os traidores se travestem de “melhores amigos” até conseguirem o que desejam. O caso de Judas, em específico, mostra que o falso amigo é ingrato e prioriza o dinheiro, em detrimento da amizade. Entretanto, não nos cansemos de fazer o bem, mesmo correndo o risco de estarmos ajudando inimigos que se fingem de amigos.
Ciro Sanches Zibordi
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