Zé Luís
* Caros leitores. Perdoem pelo excesso de aspas, mas foi necessário.
Tenho
“conversado” com alguns “crentes” nas últimas semanas. Conversado pelas
vias virtuais, é verdade. Lido muitos de seus comentários registrados
nas redes sociais e tenho me deparado com algo desanimador: apesar do
imenso acesso que essas pessoas têm à informação, muitas delas continuam
“desinformadas” no que se refere a fé que confessam ter.
Sei
que seria esperar demais que lessem algo que interpretasse o que não
entenderam na Bíblia, ícone de todo aquele que se declara evangélico, já
que não há como interpretar algo que nunca leem. O resultado disso é
que, apesar dos bons passos iniciais que deram quando escolheram trilhar
essa senda, se perderam numa confusa teia de escolhas oferecidas, que
nada tem haver com o que está nas Escrituras.
Inicialmente,
parece exagero se preocupar com desvios tão imperceptíveis do foco
inicial. Mas como sabemos, o nome do Mestre também é Caminho e, em
longas jornadas, pequenos alterações iniciais significam, a longo prazo,
grandes distancias entre o que deveríamos trilhar e onde estamos
andando. Geralmente, quando nos damos conta de onde estamos, não vendo
mais a presença Daquele que inicialmente estava ao nosso lado, entramos
em crise. Garantimos ter feito tudo certo, e mesmo assim, algo deu
errado. Culpamos Deus por nossa falta de compreensão, e em muitos casos
dentro das comunidades - ditas – cristãs, deixa-se de crer na em sua
existência. Muitos neo-ateus brotaram dessas “igrejas”.
Em
todo o antigo testamento - e mesmo em Jesus, a cobrança por parte de
Deus é para os que encabeçam e detêm as informações sobre Ele. Cristo,
mesmo sendo o príncipe da paz, não economiza palavrões quando se refere
as práticas dos fariseus da época: víboras, sepulcros lindos por fora,
mas podres de carniça por dentro. Seu olhar é totalmente diferente
àqueles que fizeram da religião uma profissão. Possivelmente,
independente do século que encarnasse, os tais “crentes” o crucificariam
assim que pudessem: Ele não era dado a politicagem, a fazer pequenas
homenagens a líderes políticos/religiosos para conseguir pequenos apoios
em seus sermões e gente que financiasse seu ministério. Na verdade,
chamava-os para prestar contas do porquê de não estarem dando ao povo
aquilo que “Ele” havia ordenado (como se Ele fosse Deus, o autor do que
estava escrito).
Como
exemplo, usarei o refrão de uma canção interpretada por Aline Barros
(cantora dona de uma linda voz e que não tenho nenhum tipo de observação
negativa a ponderar): ”Ressuscita-me”.
Escolhi
essa música especialmente por ser cantada justamente por ser
reconhecidamente uma cristã genuína, e dona de um testemunho exemplar em
seu meio (lógico: sempre haverá aquele com meia dúzia de pedras em seus
bolsos procurando testas a serem apedrejadas e trará aqui motivos para
usar seu conteúdo).
“Remove
a minha pedra e me chama pelo nome” canta Aline, nos emocionando com
sua voz forte, enquanto milhares de pessoas fazem coro, declarando a
canção que já tirou lágrimas de celebridades como Xuxa e Eliana.
Mas não querendo ser chato...;-)
O
trecho bíblico no qual o autor da letra se inspirou refere-se a
passagem onde o amigo de Jesus, o defunto Lázaro, volta a vida após
quatro dias, obedecendo à ordem de Cristo.
O
detalhe é que Jesus ordena aos presentes para que estes removam a pedra
que tampa o sepulcro. Ele não o faz. Uma das irmãs de Lázaro ainda
tenta convencer o Rabi a desistir da ideia: “Quatro dias? A catinga está
demais!” A música pede para que Cristo o faça.
Ele
não põe a mão a fazer aquilo que um homem pode. Ele ressuscita o morto,
o milagre é dele. Coisinhas que homens e mulheres podem, eles devem
fazer. Ir até onde é humanamente possível, apesar do peso que a tal
pedra possa ter e o esforço a ser despendido nessa ação.
A
letra peca nesse pequeno detalhe, pois ilude o que crê na esperança de
que Deus fará aquilo que eu posso, mas ando indisposto. Essa pequena
distorção de compreensão fará diferença em momento de sua peregrinação.
Você pode esperar eventualmente algum milagre, mas não pode esperar que
Ele faça as coisas que você, até com certa dificuldade, pode.
Você
pode orar por chuva, mas não pode fazer ela acontecer. No entanto,
seria de bom grado, já que orou e crê que pode acontecer, levar um
guarda-chuva para eventuais respostas divinas.
Ainda
sobre milagres, muita gente morreu durante a estada de Jesus entre os
homens, mas registros de ressurreição foram bem poucos em relação aos
que faleciam. Há propósito nas ações do Messias.
Não
é porque Jesus é capaz de multiplicar pães e peixes que você deve
abandonar o trabalho que te sustenta e viver apenas das ações
sobrenaturais que o Mestre é capaz de oferecer.
Se
você, dentro desse pequeno exemplo, percebeu que seu entendimento sobre
o “modus operandi” de Deus é diferente do que esperava em sua vida,
pense no imenso mar de informações deturpadas que podem te levar a becos
sem saída, simplesmente porque fez escolhas que julgava absolutas e
nada mais eram que as interpretações – errôneas? - de alguém que também
não conhecia integralmente o assunto no qual se aventurou a divulgar,
sem ter ideia que a pequena distorção poderia causar um estrago
relativamente grande.
Nenhum comentário:
Postar um comentário