Conversando um tempo atrás com um
amigo-irmão, entramos num assunto interessante sobre pecado. Falávamos
sobre a dificuldade de sermos cristãos em meio aos ataques constantes do
inimigo e confessávamos alguns pecados em busca de ajuda. No
desenvolver do diálogo, lembrei-me de uma frase muito forte e
verdadeira: “Você não mortificará nenhum pecado a não ser que, sincera e
diligentemente, busque lidar com todo pecado.” (Tentação e Mortificação
do Pecado- John Owen), essas palavras ampliaram a nossa visão sobre
como vencer a carne e mortificar nossas vontades.
Infelizmente, muitos de nós agimos como
reféns de nossas fraquezas e pecados, mesmo sabendo que não somos mais
escravos do pecado: “Se pois o Filho vos libertar, verdadeiramente
sereis livres” (Jo 8:36); muitas vezes caímos em tentação e sentimos o
gosto amargo do peso na consciência e a tristeza gerada pela
desobediência. Queremos de uma vez por todas estar livres daquilo que
nos maltrata, seja uma mentira, uma tentação, uma preguiça, uma fofoca,
uma falha de caráter e etc. Queremos o fim de certas coisas que fazem
parte muitas vezes do nosso dia a dia, nos cerca quando estamos a sós e
nos perturba, aquilo que é a nossa pedrinha no sapato, “espinho na
carne”.
Embora tenhamos liberdade em Cristo, não
nos foi dado o direito de escolher qual pecado mortificar. Como
cristãos, precisamos fazer morrer tudo que é pecado e querer viver uma
vida em santidade em Cristo Jesus. Portanto, é justamente aqui que John
Owen entra, com uma explicação excepcional que nos ajudará a entender
como de fato precisamos fazer morrer o pecado:
“Um cristão é
provado por um desejo pecaminoso. Este desejo pecaminoso (pense naquele
que melhor se aplica a você) perturba o cristão. Está sempre
derrotando-o e rodeando-o de modo que ele aspira por uma libertação
completa. Não apenas isso, ele luta, na verdade, contra esse pecado, ora
e lamenta quando é derrotado por ele. Ao mesmo tempo, contudo, há
outros deveres da vida cristã que ele não leva muito a sério. Pode
passar dias sem desfrutar de verdadeira comunhão com Deus. Pode ler sua
Bíblia de um modo casual, negligenciando a meditação na Palavra de Deus e
gasta pouco ou nenhum tempo em oração.
Estes deveres negligenciados ou executados de modo indiferente na sua vida cristã são pecados (pecados de omissão), mas não o perturbam como o pecado do qual deseja ser liberto. Bem, o ponto que estamos procurando enfatizar é que o cristão não deve esperar obter libertação do pecado que o perturba enquanto não começar a tratar os outros pecados com a mesma seriedade.”
Estes deveres negligenciados ou executados de modo indiferente na sua vida cristã são pecados (pecados de omissão), mas não o perturbam como o pecado do qual deseja ser liberto. Bem, o ponto que estamos procurando enfatizar é que o cristão não deve esperar obter libertação do pecado que o perturba enquanto não começar a tratar os outros pecados com a mesma seriedade.”
Quem quiser
mortificar qualquer forma perturbadora de lascívia na sua vida, de modo
completo e aceitável, deve cuidar de ser igualmente diligente na
obediência a todos os deveres aos quais Deus o chama. Deve, também,
saber que todo desejo pecaminoso, toda omissão no cumprimento do dever,
entristece a Deus.
Enquanto houver um coração enganoso, que esteja preparado para negligenciar a necessidade de lutar pela obediência em cada área, haverá uma alma fraca que não está permitindo que a fé execute toda sua obra. Qualquer alma que se encontre numa condição tal de fraqueza, não tem o direito de esperar o sucesso na obra da mortificação.
Enquanto houver um coração enganoso, que esteja preparado para negligenciar a necessidade de lutar pela obediência em cada área, haverá uma alma fraca que não está permitindo que a fé execute toda sua obra. Qualquer alma que se encontre numa condição tal de fraqueza, não tem o direito de esperar o sucesso na obra da mortificação.
Na continuação do livro, Owen fala sobre
esse desejo em “mortificar o pecado”, como algo egoísta e falho, isso
mesmo, egoísta porque o que queremos é apenas um momento de paz interior
e um alívio para nossa consciência. Por esse motivo, não ganhamos a
guerra contra a carne. Tememos as conseqüências de tal pecado, mas não
observamos o amor de Cristo na Cruz, nem muito menos nos achegamos a um
relacionamento sincero com Ele. Vivemos em função de uma libertação
parcial, e não de uma cura total em nossa vida espiritual.
Potencializamos o nosso pecado de estimação e esquecemos-nos dos pecados
de negligencia com a palavra e oração. Essa negligência leva a frieza e
ao individualismo, nos faz esquecer princípios básicos, e como uma
planta que, quando não regada vai desfalecendo, assim são todos os que
negligenciam a observar a palavra e vida de Cristo.
Se ficarmos bitolados a um pecado, em
algum momento, as nossas forças não irão suportar e cairemos nele,
ficaremos arrasados por ele e poderemos até mesmo, nos entregar a esse
pecado. Não somos fortes o suficiente para vencermos se não estivermos
com a vida alicerçada em Cristo e sua Palavra.
Portanto, assim como Cristo se entregou
por completo, para nos salvar por completo, precisamos fazer morrer o
nosso homem completo! Nossas orações precisam ser direcionadas para toda
uma vida, “para toda uma morte”, pois assim teremos a verdadeira vida.
“purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne, como do espírito,
aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus” (2 Cor. 7:1).
Que Deus nos ajude a deixar de lado o
que maltrata a nossa alma, para que possamos identificar tudo que
maltrata ao Espírito Santo. Que Deus nos ajude, por meio do Espírito a
chorarmos e ficarmos tristes, todas as vezes que passamos o dia sem ao
menos falar com Ele e que isso tenha o mesmo peso, sintamos o mesmo
arrependimento por esse pecado, assim como de outros.
Termino aqui, com o mais um trecho do livro de Owen:
“Pense nas muitas maravilhosas manifestações da providência de Deus na
sua vida. Pense nas provações que Ele transformou em bênçãos para você e
nas provações das quais Ele o poupou. Pense em todas as maneiras como
Deus o tem abençoado. Depois de todas estas manifestações da graça de
Deus por você, poderia continuar a permitir que os desejos pecaminosos
endureçam seu coração contra tal graça? Perturbe sua consciência com a
ajuda de tais pensamentos, e não pare enquanto seu coração não estiver
profundamente tocado pela sua culpa. Enquanto isso não se der, nunca
fará esforços vigorosos para mortificar estes desejos pecaminosos.”
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