O que devemos fazer quando estamos
enfrentando um problema; oramos, oramos e oramos a Deus… mas não
recebemos o que pedimos? Isso ocorre muitas vezes em nossa vida:
simplesmente nossa oração não é atendida. A sensação que temos, nesses
casos, é que Deus ou não nos ouviu ou nos virou as costas. Bem, na
verdade não é isso o que ocorre. Há um acontecimento na vida de Paulo
que pode nos conduzir a uma reflexão bem interessante sobre orações não
atendidas.
Para pensarmos sobre essa questão,
precisamos ler a famosa passagem do espinho na carne. “Conheço um homem
em Cristo que, há catorze anos [...] foi arrebatado ao paraíso e ouviu
palavras inefáveis, as quais não é lícito ao homem referir. [...] E,
para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me
posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a
fim de que não me exalte. Por causa disto, três vezes pedi ao Senhor que
o afastasse de mim. Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque
o poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2Co 12.2-9).
Pense bem: o que diferencia essa
experiência de Paulo da sua experiência pessoal? Vejamos: Paulo tem um
problema. Você tem um problema. Paulo ora a Deus pedindo uma solução.
Você ora a Deus pedindo uma solução. Paulo não vê sua oração ser
respondida da primeira vez. Você não vê sua oração ser respondida da
primeira vez. Paulo persiste na oração, orando uma segunda vez. Você
persiste na oração, orando uma segunda vez. Paulo não é atendido. Você
não é atendido. Paulo ora sem cessar, clamando uma terceira vez. Você
ora sem cessar, clamando uma terceira vez. Paulo não é atendido. Você
não é atendido. Tudo igualzinho, reparou? A experiência do apóstolo em
nada difere da sua. Só que, no caso dele, aconteceu um fenômeno que com
você não acontece. É um detalhe nessa passagem que, a meu ver, é de suma
importância.
Deus explicou.
Estas
palavras de Paulo fazem toda a diferença: “Então, ele me disse…”. Sim, o
Senhor verbalizou ao apóstolo, deu a ele uma explicação audível para o
fato de não ter atendido seu clamor. E isso tirou do coração de Paulo
toda a angústia que sente a pessoa que ora mas não é atendida. Havia uma
explicação. Havia uma motivo cognoscível para aquilo. Mesmo que seu
desejo não tivesse sido satisfeito, Paulo agora sabia a razão. E podia
seguir em paz, pois tomou conhecimento do que levou Deus a não lhe
conceder o que queria. E essa é a grande diferença da experiência de
Paulo para a sua: ele recebeu uma justificativa. Com você e comigo isso
não acontece. Ninguém nos diz por que nosso pedido ao Todo-poderoso foi
negado.
Faça um exercício de imaginação. Suponha
que Deus tivesse ficado quieto e simplesmente não explicasse a Paulo o
porquê de não ter atendido aos seus pedidos. O apóstolo permaneceria
ali, clamando, em angústia de alma, cheio de perguntas na cabeça. “Será
que Deus não me ouviu?”. “Será que Deus só me atenderá daqui a muitos
anos?”. “Será ao menos que Deus atenderá ao meu clamor algum dia, mesmo
que demore?”. “Será que os céus se fecharam a mim?”. “Será que os meus
pecados impedem Deus de atender minha oração?”. Será que o Diabo está
impedindo Deus de atender meu clamor?”. Será, será, será, será, será…?
Paulo poderia ter feito isso, e não seria nenhuma novidade. Afinal… não é exatamente o que nós fazemos?
Deus
decidiu em sua soberania que simplesmente não iria atender a oração de
Paulo. Não teve nada a ver com falta de fé, ação do Diabo, pecado não
confessado, nada disso. Simplesmente o Senhor disse “não” à oração do
apóstolo porque queria proteger seu filho amado de pecar pela soberba. E
é precisamente o que ele faz conosco em muitas e muitas situações
semelhantes. Nós oramos, clamamos, nos esgoelamos, mas não somos
atendidos. E aí os “será” invadem nossa mente e ficamos angustiados,
cheios de conjecturas, sofrendo, questionando até mesmo a onisciência de
Deus: “Será que ele não ouviu minha oração?”.
Claro que ouviu. Deus ouve todas as
orações. E antes mesmo de orarmos ele já sabe o que vamos falar: “Ainda a
palavra me não chegou à língua, e tu, SENHOR, já a conheces toda” (Sl
139.4)“. Essa ideia de que “Deus não ouve a oração” não é bíblica. O que
acontece é que ele decide não nos dar o que pedimos. Ouve, pondera e
responde com um grande “não”. Ponto. Não há fé no mundo que altere a
vontade soberana do Criador do universo. Paulo não tinha fé?
Possivelmente a maior do mundo. Mas Deus quis não atender seus pedidos,
porque, por saber tudo, entendia que, no grande plano de causas e
consequências do universo e da eternidade… não atendê-los era o melhor.
Inclusive, era o melhor para o próprio apóstolo, embora ele não
soubesse, visto que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que
amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm
8.28). A grande vantagem de Paulo é que o Senhor disse de forma
inequívoca que tinha escutado a oração mas não a atenderia. Conosco ele
não faz isso. Temos de nos contentar com o silêncio. Não vem resposta. O
que pedimos não acontece. Ficamos impacientes, como se o Pai tivesse a
obrigação de nos atender só porque oramos com fé. E não entendemos nada.
Em
vez de ficar imerso em “será”, talvez Paulo partisse para a ação se
Deus não tivesse afirmado explicitamente a ele que sua oração não seria
atendida. É possível que orasse uma quarta vez, uma quinta, uma sexta,
uma sétima. Talvez ficasse anos orando. E ficaria a ver navios, porque,
apesar de sua inequívoca grande fé, Paulo estava debaixo da soberana
vontade de Deus – e, para aquela oração, a resposta da soberania divina
era “não”. Se Paulo fosse um crente temperamental ou imaturo, ele
poderia “ficar de mal” com o Senhor ou até mesmo se desviar da fé. Não é
o que muitos de nós fazemos? Como não recebemos de Deus o que pedimos o
largamos para lá? Ou então tomamos as rédeas da situação e agimos pela
força da nossa mão? Quero a cura, mas, como não fui curado, vou procurar
um pai de santo. Quero prosperidade, mas, como não tive um aumento de
salário, vou atrás de facilidades. Quero que liberem o meu processo na
Prefeitura, mas, como não liberaram, vou dar propina. Quero me casar,
mas, como não encontrei ainda a pessoa ideal, vou buscar no mundo. E
coisas do gênero.
Deus é muito sábio. O silêncio dele é
uma maravilhosa maneira de ver que tipo de crentes somos nós. Se o
Senhor explicasse suas decisões e seus “não” a cada um de nós… aí seria
fácil. Mas o fato de ele decidir não atender e – também – não responder
nossa oração mostra o alcance de nossa fé, estimula nossa perseverança e
nos testa, para ver até onde estamos dispostos a segui-lo e servi-lo
tendo somente a graça divina em nossa vida. A graça dele nos basta. Ele
sabe disso; nós é que não nós contentamos com ela, queremos porque
queremos também as bênçãos. O silêncio de Deus ante uma oração não
atendida é a maneira de o Senhor nos mostrar quem nós somos: se
perseverantes, servis, fiéis, homens e mulheres de fé, murmuradores,
interesseiros, compromissados… ou não.
Tenho
visto que o problema maior entre nós, cristãos, não é Deus não atender
nossas orações, mas ele não respondê-las. Como o silêncio divino é a
regra (o que ele fez com Paulo é a exceção), isso nos tira do sério. O
caminho para permanecermos inabaláveis na nossa fé e no relacionamento
com o Senhor é sabermos que ele está agindo por trás do véu do silêncio.
E, se não temos uma resposta, isso absolutamente não significa que ele
não nos ouviu. Devemos abandonar essa ideia infantil. Deus é onisciente,
ele ouve tudo, ele sabe tudo. Mas muitas vezes decide que atender
nossos pedidos não é o melhor. Se confiarmos nele, isso nos conformará e
confortará.“Entrega o teu caminho ao SENHOR, confia nele, e o mais ele
fará” (Sl 37.5). Se não confiarmos… é hora de repensarmos todo o nosso
relacionamento com o Senhor, porque estamos muito longe de entendê-lo.
Deus vai negar muitos dos teus pedidos.
Mas tenha esta certeza: isso não significa que ele não ouviu tua oração.
Foi exatamente o que aconteceu com Paulo. É o que acontece conosco. Num
caso raro, o apóstolo foi presenteado com uma explicação da boca de
Deus. Nós não somos. Diante disso, nosso papel é orar, perseverar em
oração e esperar com paciência. E se, depois de tudo isso, não formos
atendidos, que tenhamos sempre em nossos lábios as palavras de Jó: “O
SENHOR o deu, o SENHOR o levou; louvado seja o nome do SENHOR ” (Jó
1.21). Como escreveu o mesmo Paulo: “Orem continuamente. Deem graças em
todas as circunstâncias, pois esta é a vontade de Deus para vocês em
Cristo Jesus” (1Ts 5.17-18). Orou mas não recebeu o que pediu? Dê
graças. Em todas as circunstâncias dê graças. Ou seja: agradeça. Pois,
se não recebeu, é porque não receber é o melhor. Não receber é pão e
peixe. “Qual de vocês, se seu filho pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou se
pedir peixe, lhe dará uma cobra? Se vocês, apesar de serem maus, sabem
dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai de vocês, que está
nos céus, dará coisas boas aos que lhe pedirem!” (Mt 7.9-11).
Obrigado, Pai, porque minha oração não
foi atendida. Agradeço por isso, pois sei que, se o Senhor decidiu não
atendê-la… o teu “não” é o melhor para mim.
Paz a todos vocês que estão em Cristo.
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