Corre
na internet uma "profecia" onde um pastor norte-americano diz que o
Senhor levantaria uma "mulher segundo o coração de Deus" para levar o
Brasil à prosperidade e à paz. Essa pregação, segundo a descrição do
vídeo, teria ocorrido numa igreja brasileira nos Estados Unidos no ano
de 2011.
Bom, muitos evangélicos eufóricos viram em Marina Silva o cumprimento dessa "palavra profética" com toda as aspas possíveis.
Eu
creio em profecias, mas eu não creio em ungidos políticos ou políticos
ungidos. A democracia demanda a ausência de utopias e sacerdotes de
ideologias, mesmo as ideologias religiosas. Não podemos aceitar uma
teonomia e nem uma teocracia e muito menos um messianismo político. O
Brasil não precisa de um Davi. O rei Davi era para a Antiga Aliança. O
Brasil precisa de gente competente...
Bom, por que tudo isso é uma grande bobagem?
a) É muito comum em igrejas neopentecostais as ditas "palavras proféticas" sobre "um novo tempo no Brasil".
Quem acompanhou a candidatura de Anthony Garotinho à presidência em
2002 viu uma série desses espetáculos. A diferença é que não existia
viral de internet na época. Eu era um adolescente recém-convertido e
muito ouvi em 2002 que Deus nos daria "um novo país" com o "primeiro
presidente evangélico". Bom, além da bobagem mística em si, houve até
mesmo um erro histórico, pois o Brasil já teve dois presidentes
protestantes, respectivamente o presbiteriano Café Filho e o autoritário
luterano Ernesto Geisel. A própria Marina Silva foi objeto de profecia
de que seria presidente ainda em 2010, segundo mais uma trapalhada da
“apóstola” Valnice Milhomens.
b) O Brasil não é Israel da Antiga Aliança. É
até possível que um presidente seja reverente e piedoso, mas isso não é
garantia de prosperidade e paz para uma nação. Havia uma relação entre o
líder piedoso e o desenvolvimento do povo na Antiga Aliança, ou seja,
entre Deus e Israel, mas a Antiga Aliança acabou enquanto que "a lei e os profetas duraram até João" (Lucas 16.16).
Muitos evangélicos esquecem esse princípio elementar do cristianismo,
ou seja, estamos em uma nova Aliança entre Cristo e o indivíduo e não
entre Cristo e uma nação.
c) Marina é apenas mais uma candidata.
Caso queria votar nela, vote pelas propostas e pelo projeto político.
Não espiritualize a candidatura de Marina. É muito perigoso para a
democracia uma candidatura espiritualizada por parte considerável da
população. Na história antiga e moderna esse modelo híbrido entre
política e “sujeitos ungidos”
nunca
deu certo. "Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de
Deus”, disse o próprio Jesus em Mateus 22.21. É necessário separar
devidamente o Estado da Igreja.
Marina não é candidata ao ministério pastoral, mas sim à Presidência da República, portanto, trate-a como tal.
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