Devemos sempre buscar a direção do Senhor quando confrontados por ateus, “sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós” (1 Pe 3:15). Talvez você encontre algumas ideias no texto abaixo, extraído de uma correspondência em inglês que tive na Internet com um ateu que sentiu-se ofendido com algo que leu em meu site www.stories.org.br. Seu nome era Adam e transcrevo aqui porções de nossa correspondência traduzidas para o português.
Prezado Adam,
Não compreendo a razão de seu medo.
Não existem ateus. Todo homem nasce com o conhecimento de Deus em seu
coração. Ele pode até se tornar ateu pela razão e argumentação, mas não
nasce assim. Você sabe que existe um Deus, mas você o odeia. Não posso
provar a você que Deus seja real, mas sei que existe. Eu era cego, mas
agora vejo. Foi Deus quem fez isso comigo, não minha razão. Durante um
bom tempo procurei por Deus e não conseguia encontrá-lo até o dia em que
desisti. Então ele me encontrou, e ele irá encontrar você também, se
você permitir.
Se eu estiver errado não tenho nada a
perder. Mas se você estiver errado você perdeu tudo. Peça sinceramente a
Deus que se revele a você. Se o fizer com sinceridade de coração (você
tem medo?) ele irá se manifestar a você. Você sabe disso, mas você tem
medo. Não sou seu inimigo. Se você quiser ter uma conversa franca sobre o
assunto estarei aqui. Respeito sua posição, mas você está equivocado.
Se você for corajoso o suficiente para mergulhar em uma busca real e
sincera, me escreva.
(...)
Desculpe-me por ter demorado tanto
para responder. Não quis fazê-lo com pressa, mas preferi ponderar
cuidadosamente sobre o que escreveu. Mesmo que eu não concorde com você
respeito sua posição pois, ao menos, ela parece mais consistente do que a
que tenho encontrado nos sites de ateus na Web. A maioria dos textos
que vi parecem terem sido escritos por crianças iradas que não têm outro
objetivo senão chocar. Elas parecem ser o mesmo tipo de pessoas que
escrevem em portas de banheiros públicos. Neste sentido você já deve ter
reparado que a Internet não só oferece muitas “páginas escritas”, mas
também muitas “portas pichadas”. Tentarei acompanhar seus argumentos.
Sou brasileiro e por isso você talvez repare que meu inglês não é
perfeito.
[Adam:
Não tenho medo de coisa alguma porque não acredito em um juiz supremo
que irá me mandar para o inferno por causa de minhas ações. Por falar em
medo, por que você não saí por aí e mata alguém? Por que você não
rouba? Eu não faço essas coisas por que eu as considero moralmente
erradas.]
Você possui um padrão moral. Todas
as pessoas têm um. Os seres humanos possuem um padrão moral e ele sempre
está acima de suas possibilidades. Você já reparou que até mesmo os
nativos considerados primitivos pelas modernas sociedades (apesar de não
serem) também têm um padrão moral? Chame a isso de vontade de Deus,
moral ou como quiser, mas é algo que todos possuem. O ponto para o qual
quero chamar sua atenção é que esse padrão moral é sempre mais elevado
do que o homem possa alcançar. Os hipócritas o rebaixam para atender a
seus próprios interesses, mas isto é outra história. Os padrões estão
ali e eles são sempre mais do que os homens conseguem alcançar,
independente do tipo de padrão moral ou de sociedade onde ele é adotado.
Desculpe por eu precisar citar a
Bíblia, na qual sei que não acredita, mas ela é a Palavra de Deus,
portanto o padrão de Deus. Ela diz que os homens sabem que Deus é, não
somente pelo que veem na Criação (Rm 1:19), mas também por possuírem um
sentimento interior a este respeito (Rm 1:21) que o próprio Deus colocou
em seus corações. “Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo; também
pôs a eternidade no coração do homem, sem que este possa descobrir as
obras que Deus fez desde o princípio até ao fim.” (Ec 3:11). É por
isso que você não mata alguém (talvez sinta o desejo de fazê-lo,
começando comigo...) ou não rouba. É porque você sabe que é errado. Mas
onde está o seu padrão? Bem, ele não está na Bíblia mas em algo dentro
de você. Quem o colocou ali?
[Adam: Mas os cristãos se abstêm dessas coisas por terem medo do juízo de Deus.]
Bem, existe cristianismo e
cristianismo. Talvez o você aprendeu na escola dominical não seja
exatamente o que a Bíblia diz. Cristãos nominais talvez se abstenham de
praticar essas coisas por terem medo de algum juízo, mas não é o caso
com aqueles que conhecem a Deus como Pai. Deixe-me explicar. Apesar de
ter em mim esse padrão moral que me foi dado pelo próprio Deus, pois ele
me criou à sua imagem, sou uma criatura caída. Não, eu não comi uma
maçã no jardim do Éden, e nem sequer existe uma maçã na história contada
no livro de Gênesis sobre Adão e Eva. Mas eu sou descendente deles e
herdei o pecado deles. Quando Adão e Eva eram livres para decidir, eles
decidiram ser iguais a Deus. “Sereis como Deus, sabendo o bem e o mal” (Gn
3:5), foi o que a serpente disse a eles. Eles viram naquilo uma carta
branca para viverem do modo como quisessem sem precisarem prestar contas
de seus atos a ninguém. Como costumamos dizer no Brasil, quiseram ser
donos de seus próprios narizes.
Bem, aquilo foi a queda, e o
resultado é que todo ser humano nasce egoísta e em rebelião contra Deus.
Não somos pecadores porque pecamos, mas pecamos porque somos pecadores.
É esta nossa natureza. Pecar é uma consequência natural de sermos
pecadores. É por esta razão que todos nascem endereçados ao lago de
fogo, um lugar preparado originalmente para o diabo e seus anjos
rebeldes, não para seres humanos.
Assim que Adão e Eva caíram em
transgressão, Deus matou um animal inocente para cobri-los com sua pele.
Você pode enxergar uma figura aí? Um ser inocente precisou morrer para
cobrir o pecado do homem. Bem, aquilo que era apenas uma figura seria
mais tarde uma realidade, quando o próprio Filho de Deus se fez homem e
recebeu sobre si o juízo que era devido ao pecado. Não estou esperando
que você aceite isto, pois não aceitará a menos que venha de cima.
Tão logo você recebe o dom gratuito
de Deus ele faz de você uma nova criatura, pronta para o céu. Talvez
você agora consiga entender o que é o verdadeiro cristianismo. Os
cristãos não vão para o céu por fazerem o bem, mas por causa do que Deus
deu a eles por graça. Você merecia morrer e ser condenado para sempre,
mas Cristo morreu em seu lugar para que, pela fé, você pudesse ser
liberto do juízo de Deus.
[Adam:
Acho que você entendeu tudo errado. Veja que toda criança é ateia. Tão
logo começam a falar elas já querem saber coisas como quem fez Deus, e
seus pais não conseguem responder. Eles ensinam essa ‘bobagem’ que você
acredita por serem incapazes de responder uma simples questão. Então
quando aquela criança deveria estar aprendo lógica e como tomar decisões
imparciais e de mente aberta elas são confundidas pelo que seus pais
ensinam sobre o paradoxo do que chamam de ‘fé’. Eu mesmo não consigo
entender a razão de alguém entender em algo que não faz qualquer
sentido... simplesmente porque seus pais e amigos dizem que você precisa
ter ‘fé’. E se um adulto não entende isso, quanto mais uma criança! Os
pais simplesmente confundem seus filhos, portanto se eles ficam confusos
é por causa de seus pais.]
Acho que você está partindo de sua
própria experiência para criar uma regra. É claro que os pais fazem
isso, independente do grupo de pessoas. Não são apenas os cristãos que
fazem isso, mas é um comportamento universal. Este é o ponto para o qual
quero chamar sua atenção. Existe um conhecimento universal de Deus,
independente do modo como é expresso. Você pode lutar contra o
cristianismo, mas você não pode negar que todos os povos têm a noção de
um Criador. Você fala de lógica. Não seria lógico os pais deixarem de
passar para os filhos esse conhecimento que eles naturalmente têm, uma
vez que ele está tão intrinsecamente ligado à própria natureza humana.
Afinal, Deus “pôs a eternidade no coração do homem” (Ec. 3:11).
Sim, meus pais me ensinaram isso
dentro do contexto da religião católica. Mesmo assim eu abandonei aquela
religião quando tinha uns dezoito anos de idade. Não vi lógica nenhuma
nela, como você poderia dizer. Então comecei minha busca que acabou me
levando a desafiar a Deus para que ele se revelasse a mim caso
existisse. Foi um processo doloroso. Não pense que os cristãos que você
vê por aí nasceram assim porque seus pais injetaram cristianismo em suas
mentes. O cristianismo precisa ser pessoal para ser real. Ninguém pode
decidir pela salvação de outra pessoa. Cada um deve ter um encontro
pessoal com Cristo, com o próprio Deus, caso contrário seu cristianismo
será tão real quanto o de um papagaio que aprende a repetir versículos
da Bíblia.
Eu estava na faculdade de
arquitetura quando precisei me curvar à evidência de que existia um Deus
e ele estava muito interessado em mim. Cristo havia morrido para me
salvar, o que provavelmente não faz qualquer sentido para você por não
conhecer a ele pessoalmente. Naquela ocasião eu havia comprado dois
livros, um tentando provar que Deus não existe e outro sobre profecia
bíblica. O primeiro apresentava lógica e razão, mas mesmo assim você
precisa ter uma boa dose de fé para acreditar nos argumentos humanos. O
outro trazia fatos como o acerto de 100% das profecias bíblicas que já
se cumpriram e mostrando das chances de 100% das demais profecias também
se cumprirem. Eu fui convencido por estes fatos — você não acha fatos
razoáveis? — e não por uma decisão cega.
Antes que me pergunte, não sou mais
católico e nem sequer pertenço a qualquer religião tradicional
organizada. Eu simplesmente me reúno regularmente com um grupo de
cristãos para ler a Bíblia, orar e adorar a Deus. Sem clérigos,
denominação ou uma organização eclesiástica.
[Adam:
É triste que o mundo, ou a maioria como os cristão, budistas,
muçulmanos etc., não sejam capazes de ir além de sua fé e encontrar a
razão. De qualquer modo é um consolo saber que as religiões dos romanos,
dos incas, dos índios e tantas outras desapareceram, e o cristianismo
segue ladeira abaixo. Talvez sempre existirão pessoas tolas o suficiente
para seguirem uma religião, ou azaradas o suficiente para terem sido
condicionadas por seus pais e serem incapazes de alcançar um patamar
acima desse condicionamento, como eu e outros conseguimos.]
Você quer meu aplauso? :)
[Adam:
Você escreveu que eu sei que existe um Deus, mas sinto ódio dele. Sua
afirmação é tanto falsa quanto verdadeira. Não, eu não acredito nele,
mas vamos por um momento, e para o bem da argumentação, imaginar que
Deus exista. Então, sim, eu odeio um ser que vê sua própria criação
sofrer de AIDS, câncer, miséria, guerras e solidão apenas para provar
aos homens que eles não são dignos dele segundo sua própria opinião.
Deus matou crianças. Você se lembra do dilúvio de 40 dias e noites? De
Sodoma e Gomorra? Em ambos os casos todas as pessoas que morreram eram
‘ímpias’. Permita-me discordar. Em toda a minha vida eu jamais encontrei
um bebê ou uma criança ‘ímpia’. E mais: eu nunca encontrei um animal
‘ímpio’ na floresta. Mesmo assim Deus os matou a todos nesses episódios.
Sim, se Deus existisse eu o odiaria, pois se você ler a Bíblia com uma
mente sem preconceitos verá que Deus é mau.]
Existem coisas que acontecem em sua
família que você nem perderia tempo explicando para mim pois eu não
entenderia. São assuntos pessoais e somente um membro da família seria
capaz de entender. Não que sejam coisas que exijam um diferente grau de
inteligência, mas é preciso ser membro da família, conhecer sua
personalidade, para entender algumas coisas que são apenas para quem faz
parte dela. O mesmo acontece com as coisas relacionadas a Deus. Há
coisas sobre Deus que você não conseguirá entender a menos que se torne
membro da família de Deus. Eu perderia um tempo imenso tentando explicar
estas coisas a você e de nada adiantaria. Tudo o que você mencionou
aconteceu porque o homem decidiu ser independente de Deus. Um ato de
rebelião sempre traz consequências. O que mais você poderia esperar? Só
para falar dos animais, sabia que eles sofrem por causa do homem? Eu sei
que você tem uma Bíblia, leia Romanos 8:20-23. Não posso provar a você
que Deus é real, isto é algo que você deverá descobrir de si mesmo.
[Adam:
Sim, você está certo, e eu tampouco posso provar que Deus não exista. É
por isso que precisamos de provas para dar suporte a qualquer uma
destas opiniões. O ateísmo diz que não existe nada ali, portanto assume a
hipótese nula, que não depende de prova. O deísmo afirma que existe
algo ali, o que exige uma prova. Até onde sei não há provas nem de um
lado nem do outro. E mesmo você terá de admitir que para uma ou outra
coisa dependemos da razão.]
Talvez eu não tenha usado as
palavras corretamente. Eu não posso provar aquilo que você precisa
descobrir por si mesmo. Mas eu posso mostrar a você fatos, se estiver
interessado. O que dizer das evidências na própria profecia bíblica? Mas
não irei fazê-lo, a menos que você tenha interesse em ouvir. Eu era
cego e agora vejo.
[Adam: Sem querer ofender, acho que podemos seguir conversando sem você citar hinos, ok?]
Não citei um hino, mas João 9:25.
Porém você mencionou um hino e provavelmente foi “Amazing Grace” (“Graça
Sublime”), escrito por John Newton que morreu no início do século 19.
Antes de se converter ele foi capitão de um navio negreiro e você talvez
fique surpreso ao ler o que diz sua biografia: “Ele se lembrava do
que sua mãe lhe ensinava, que se fizesse o que era correto Deus o amaria
e cuidaria dele. Porém sua mãe morrera e já que seu pai havia se casado
com outra mulher John sentiu que já não era bem vindo por seu pai, e
muito menos por Deus. Ele então decidiu que Deus não existia”
(“Slave Ship Captain - The Story of John Newton”, por Carolyn Scott,
Lutterworth Press). Respeito sua posição, mas você está equivocado.
[Adam:
Ah... você soa como um verdadeiro fundamentalista. Você tenta dar a
impressão que conhece seu interlocutor, mas não conhece, pois você tem
uma mente estreita.]
por Mario Persona
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