Cinco Votos para Obter Poder Espiritual.

Primeiro - Trate Seriamente com o Pecado. Segundo - Não Seja Dono de Coisa Alguma. Terceiro - Nunca se Defenda. Quarto - Nunca Passe Adiante Algo que Prejudique Alguém. Quinto - Nunca Aceite Qualquer Glória. A.W. Tozer

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Diz que é predestinado, mas vive uma graça capenga?

Por Antognoni Misael

Apesar do grande inchaço da igreja evangélica no Brasil e proliferação de diversos movimentos neopentecostais e teologias que confrontam a verdade do Evangelho, temos notado uma crescente busca pela teologia reformada e sobretudo pela 'doutrina da eleição'. Isso é muito bom, pois nos remete as bases de nossa fé, a suficiência de Cristo e a exclusividade das Escrituras são determinantes para uma igreja saudável.
O que há de preocupante nisso? O perigo da ausência da ortopraxia! Ou seja, o encantamento pela teologia a ponto de estacionar-se em uma via de acúmulo de conhecimento na literatura cristã, na palavra de Deus, mas sem compunção e transpiração de uma vida de Graça. No ditado popular, muita teoria e pouca prática!
Obviamente podemos destacar algumas referências da popularização de uma teologia equilibrada e sadia como John Piper e Paul Washer, dentre outros. Notar jovens assistindo vídeos, compartilhando mensagens, e experimentando um intenso desejo por Deus não tem preço. Mas ao mesmo tempo também preocupa-nos notar que parte desse mesmo público tão encantado com a doutrina da eleição e super abastecido de literatura e mídia cristã, pouco leu e conhece a Bíblia.
Pensando nesse tema, resolvi comentar um trecho da carta de Paulo aos Efésios, a saber que a carta é divida em duas partes, a primeira sobre nosso chamado e a nossa nova identidade em Cristo, e a segunda sobre as implicações práticas desse chamado. Ou seja, "se sou predestinado não devo viver uma vida anarquizada de Deus", caso contrário, é como diz o adágio popular: "a cruz nos peitos, e o diabo nos feitos".
Vejamos o capítulo 4.1-3, e diante da temática que, farei alguns apontamentos que contribuirão relativamente para a compreensão do que quero concluir. O apóstolo inicia com: 
 
1 Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados,
Lembremos que após Paulo elucidar sobre a doutrina da eleição no primeiro capítulo de Efésios, a nossa nova identidade, a união com os judeus em um só corpo, agora ele vai direto para ortopraxia. Ao iniciar com um “Rogo-vos pois”, o autor leva em consideração tudo aquilo que disse aos seus leitores a respeito da Graça de Deus. Relembremos alguns tópicos que Paulo destacou:
1) Demonstrou que a nossa nova identidade é planejada por Deus, conquistada por Cristo e aplicada pelo Espírito Santo (Ef. 1.2-14).
2) Paulo orou para que os crentes gentios soubessem de forma PLENA e por compunção a vontade do mistério de Deus - isto é, atentassem a antiga condição diante de Deus, o incompreensível amor elegível na revelação de Cristo e o futuro glorioso separado para os eleitos no senhor. (Ef. 1.16-23)
3) Ele retratou de forma dramática a condição individual de judeus e gentios como MORTOS em delitos, separados do Senhor e debaixo da ira de Deus. Desta feita, é determinante que se perceba que, para que entendamos a dimensão imensurável da Graça de Deus é necessário que tenhamos o conhecimento do pecado. (2.1-3)
Portanto, é como se, uma vez cientes de que estávamos debaixo da ira de Deus, devemos entender que pela misericórdia dEle e por causa do grande Amor com que nos amou fomos feito um Novo Homem criados em Cristo Jesus para boas obras (Ef. 1.10). Assim, concluímos que a doutrina da eleição, diferentemente do que alguns maus entendedores o fazem, nos impulsiona a uma vida ativa, comprometida e piedosa diante do Senhor e dos homens, não acomodada, mórbida, apegada na certeza da soberania sem que haja responsabilidade humana, morte e sacrifício, ou, como Dietrich Bonhoeffer chama de uma vida vivida sob uma Graça “Barata”.
Diante da compreensão da predestinação o que nos chama atenção não é o fato de já estarmos prontos e resolvidos diante de Deus, mas sim de buscarmos autenticar nossa vida em Cristo nos tornando santos e irrepreensíveis!
Chamou-nos muita atenção o fato de Paulo se preocupar com o real entendimento dos gentios perante esta rica doutrina. Ao orar por eles ainda no capítulo 3, ele intercede (18-19): “a fim de poderdes compreender, com todos os santos, qual é a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus”. Ou seja, era (e é para nós) de extrema relevância compreendermos a profundidade deste mistério e Amor, ainda que não de forma toten, revelado em Cristo, para que sejamos tomados de toda a plenitude em Cristo e andemos nas obras. Ou seja, não basta compreender teologicamente, é preciso compreender de forma plena e ser tomado com certa compulsividade a viver na direção desta Graça.
Andar na vocação em que fomos chamados é viver diante do mesmo peso pelo qual a Graça de Deus fora revelada.
Voltando a citação feita acima sobre Bonhoeffer, em seu livro Discipulado o autor leva-nos a compreender que este “andar” requer uma compreensão de que a Graça de Deus é alvo mui valioso, é a nossa pérola de grande valor, e que, o que custou caro para Deus não pode custar barato para a sua igreja:
“A graça barata é a graça que nós dispensamos a nós próprios. A graça barata é a pregação do perdão sem arrependimento, é o batismo sem a disciplina comunitária, é a Ceia do Senhor sem confissão dos pecados, é a absolvição sem confissão pessoal. A graça barata é a graça sem discipulado, a graça sem a cruz, a graça sem Jesus Cristo vivo, encarnado.


A graça preciosa é o tesouro oculto no campo, por amor do qual o ser humano sai e vende com alegria tudo quanto tem; a pérola preciosa, para cuja aquisição o comerciante se desfaz de todos os seus bens; o senhorio régio de Cristo, por amor do qual o ser humano arranca o olho que o faz tropeçar; o chamado de Jesus Cristo, pelo qual o discípulo larga suas redes e o segue.” (BONHOEFFER, Dietrich. Discipulado. Pág. 10)
Em suma, o que Bonhoeffer vem nos ensinar é que o convite de Cristo nos implica a toda uma vida de discipulado, seguindo-o e andando de modo digno pelo qual fomos chamados.
Conhecer um predestinado não tem tanto a ver com o discurso teológico do irmão, com a erudição de sua homilética ou com as citações reformadas que ele o faz, mas sim, pelo modo digno com o qual ele se apresenta ao mundo, ao seu próximo e como ele projeta a sua fé.
Ainda, no capítulo 4.2-3, Paulo continua discorrendo como deve ser o “andar” correspondente da vocação: “com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor,esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz.
Ou seja, auto-intitulado eleito primeiramente deve viver em unidade com seus irmãos apesar das divergências, e mais, deve expressar os acessórios desta unidade através da humildade (como a de Cristo), mansidão (gentileza) e a paciência. Para tanto, a força motriz e reguladora do convívio e conduta deste eleito é AMOR -  por isso suportamos, e isso requer esforço, e sacrifício para manutenção da paz entre os irmãos.
Por fim, ratificamos, o crente eleito em Cristo tem esta maior marca: o amor. E ele simetricamente deve ser distribuído para Deus e para com o próximo como resultando da compreensão relevante da nossa nova identidade.
Dizer que é predestinado e viver uma vida "capenga" indigna da vocação pela qual foi chamado, sinceramente, não dá. E lembrem-se, teologia sem piedade pode nos tornar cínicos religiosos, e dos piores.
***
Antognoni Misael, buscando a cada dia andar na vocação digna pela qual foi chamado.
 
Fonte: Arte de Chocar

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