Disciplina eclesiástica (Mateus 18.15-20) é muitas vezes confusa, custosa e danosa. Quando um crente tem de ser publicamente afastado da igreja local, a dor sentida costuma ser inigualável.
Ainda assim, quando praticada biblicamente, ela é biblicamente
consistente com o amor, o cuidado, e a obediência bíblica a Cristo. Mark
Dever acertadamente afirmou que a disciplina eclesiástica é “um
amoroso, provocativo, atrativo, distinto, respeitoso e gracioso ato de
obediência e misericórdia, e ajuda a construir uma igreja que traz a
glória de Deus”. Nessa mesma linha, um amigo meu foi biblicamente
disciplinado para fora de uma grande igreja, e, até os dias de hoje,
admite que isso foi uma das melhores coisas que já aconteceu com ele.
Mas, mais importante, isso é uma questão não negociável no tipo de
Igreja que Deus deseja.
Agora, a existência da disciplina eclesiástica na igreja não significa
que a igreja seja bíblica. É um processo que é abusado por vezes.
Entretanto, a recusa de usá-lo certamente é um alerta vermelho. Uma
coisa é a liderança de uma igreja que não a pratica e pretende
implementá-la. Outra é uma igreja que se recusa a praticá-la. Essa recusa é sintomática de outros problemas, o que a torna uma igreja insegura.
Aqui vão 10 perigos comuns entre as igrejas que não irão te disciplinar:
1. Um tratamento perigoso para com Deus e com sua Palavra
Deus ordena a prática sagrada da disciplina eclesiástica. Em adição ao
claro ensinamento de Mateus 18.15-20, ela aparece, também, nas passagens
como Romanos 16.17-18, 1 Coríntios 5.1-13, 2 Coríntios 2.5-11, Gálatas
6.1-3, 2 Tessalonicenses 3.6, 14-15 e Tito 3.9-11.
Não há distinção entre como nos aproximamos de Deus e como nos
aproximamos de sua Palavra. A atitude em relação a última é um
termômetro da atitude em relação à primeira (Salmo 119.48, 138.2).
Consequentemente, o problema de a igreja se recusar a praticar a
disciplina é muito maior do que o problema de a igreja se recusar a
praticar a disciplina. Há problemas mais profundos, como suficiência da
Escritura, autoridade de Deus vs. a do homem, a sabedoria de Deus vs. a
do homem. E esse problema não ficará isolado na igreja, assim como uma
árvore envenenada em sua raiz não irá produzir apenas uma maçã ruim.
2. Uma visão errônea da regeneração
A igreja que desdenha da disciplina eclesiástica pode ter um
entendimento diluído do milagre da regeneração. Como? A disciplina, em
parte, tem por propósito demonstrar que o convertido e o não convertido
são duas criaturas completamente diferentes, espiritualmente falando ( 2
Coríntios 5.17). Quando ela é praticada, tanto arrependimento como a
tragédia da disciplina demonstram o que significa “estar em Cristo”.
Por exemplo, quando nos arrependemos, atendendo ao passo um (Mateus
18.15), nossa condição de regenerados fica exposta, pois não haveria
outra maneira de termos tal resposta se não fosse por Cristo, no poder
do seu Santo Espírito. Quando alguém é disciplinado, essa verdadeira
distinção entre regenerados e não regenerados também fica exposta. A
pessoa disciplinada até pode ser regenerada, mas ela será tratada como
alguém que não o é, já que vem agindo como se não o fosse. Logo,
praticar a disciplina eclesiástica é a maneira prescrita para se
demonstrar o milagre radical da regeneração pela fé em Cristo, o que
significa que a recusa de se disciplinar propaga um entendimento errôneo
do que significa ser convertido.
Isso é perigoso pois corremos o risco de darmos falso testemunho de
nossa salvação. E manter a distinção bíblica entre convertido e não
convertido não é deixar as pessoas de fora do céu, mas trazê-las para
ele. Negar a disciplina pode deixar as águas turvas.
3. Uma visão superficial da santificação
Similarmente, a recusa de se praticar a disciplina eclesiástica
demonstra a falta de ênfase em santificação. Se o pecado não será
confrontado, então o pecado não é algo importante, o que significa que
ser como Cristo não é algo importante, logo santificação não é algo
importante, sendo assim, a alma e a eternidade não são importantes. Mais
uma vez, o problema não é isolado. Se a disciplina é menos importante,
apesar do que a igreja professa, também o é andar no Espírito, santidade
pessoal e gerar frutos. E assim como no ponto 2, o perigo aqui também é
o falso testemunho da conversão.
4. A falta de amor pela igreja e pelo não convertido
Em seu excelente livro A Igreja e a surpreendente ofensa do amor de Deus, Jonathan Leeman escreveu:
Disciplina eclesiástica… é uma clara implicação do amor do evangelho centrado em Deus. É uma amorosa ferramenta que é inevitável em um mundo onde o Reino de Cristo foi inaugurado, mas não consumado. Se o amor de Deus fosse centrado no homem, então a disciplina seria cruel – e para aqueles que se mantêm convencidos na mentira de Satanás sobre Deus, ela sempre soará assim. Entretanto, por buscar uma igreja santa, a disciplina eclesiástica é uma recusa de chamar o profano de “santo”. É a forma de se retirar uma afirmação para que o autoengano não reine. Em um radical desafio à sabedoria deste mundo, a disciplina clarifica exatamente o que o amor é.
Isso significa que a acusação de que a disciplina é algo não amoroso
precisa ser repensada. Ela pode ser feita dessa maneira, mas a
disciplina eclesiástica, em si, não é sem amor. Disciplina é a expressão
do seguro, paternal e imutável amor de Deus para com seu povo, para que
se pareçam cada vez mais com Cristo (Hebreu 12.7-11). Além disso, Paulo
chama a igreja de Corinto de “arrogante” (1 Coríntios 5.2) por se
recusarem usar da disciplina eclesiástica. Eu me pergunto: com que
frequência nós usamos o termo “arrogante” dessa maneira? Logo, isso
significa que a recusa de se confrontar amorosamente o pecado, até mesmo
ao ponto da disciplina eclesiástica, é arrogante e sem amor.
Ademais,
a disciplina eclesiástica é um meio de graça que ajuda ao não
convertido, mas professo, a ver o seu estado de perigo. Nesse caso,
recusar a disciplina seria odioso.POR ERIC DAVIS
Traduzido por Victor Bimbato | Reforma21.org
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