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Por A. W. Tozer
O que pensamos quando estamos com liberdade para pensar sobre o que queremos ser — é isso que somos ou logo seremos.
A
Bíblia tem muita coisa para dizer acerca dos nossos pensamentos; o
evangelismo atual não tem praticamente nada para dizer sobre eles. A
razão por que a Bíblia fala tanto deles é que os nossos pensamentos
são vitalmente importantes para nós; a razão por que o evangelismo
fala tão pouco é que estamos reagindo exageradamente contra as seitas
do "pensamento", como as do Novo Testamento, da Unidade, da Ciência
Cristã, e outras semelhantes. Estas seitas fazem os nossos
pensamentos ficarem muito perto de tudo, e nos opomos fazendo-os
ficar muito perto de nada. Ambas as posições são erradas.
Os
nossos pensamentos voluntários não só revelam o que somos; predizem o
que seremos. A não ser aquela conduta que brota dos nossos instintos
naturais básicos, todo o nosso comportamento é precedido pelos
nossos pensamentos e deles se origina. A vontade pode vir a ser serva
dos pensamentos, e, em elevado grau, mesmo as nossas emoções seguem o
nosso pensar. "Quanto mais penso nisso. mais louco fico", é como o
homem comum o coloca, e ao fazê-lo, não somente relata com precisão
os seus processos mentais, mas também paga inconsciente tributo ao
poder do pensamento, O pensa¬mento instiga o sentimento, e o
sentimento dispara a ação. Assim fomos feitos, e bem que podemos
aceitá-lo.
Os
Salmos e os Profetas contêm numerosas referências ao poder que o
reto pensamento tem de inspirar sentimento religioso e de incitar a
conduta certa. "Considero os meus caminhos, e volto os meus passos
para os teus testemunhos". "Enquanto eu meditava ateou-se o fogo:
então disse eu com a própria língua. . ." Vezes sem conta os
escritores do Velho Testamento nos exortam ã aquietar-nos e a pensar
em coisas elevadas e santas como fator preliminar para a correção da
vida ou uma boa ação ou um feito corajoso.
O
Velho Testamento não está sozinho em seu respeito pelo poder do
pensamento humano, poder outorgado por Deus. Cristo ensinou que os
homens se corrompem por seus maus pensamentos, e chegou ao ponto de
igualar o pensamento ao ato: "Qualquer que olhar para uma mulher com
intenção impura, no coração já adulterou com ela". Paulo recitou uma
lista de fulgentes virtudes, e ordenou: "Seja isso o que ocupe o vosso
pensamento".
Estas
citações são apenas quatro das centenas que poderiam fazer-se das
Escrituras. Pensar em Deus e em coisas santas cria uma atmosfera moral
favorável ao crescimento da fé, bem como do amor, da humildade e da
reverência. Pelo pensamento não podemos regenerar os nossos corações,
nem eliminar os nossos pecados, nem mudar as manchas do leopardo.
Tampouco podemos com o pensamento acrescentar um côvado à nossa
estatura, ou tornar o mal bem, ou as trevas luz. Ensinar isso é
representar falsamente uma verdade bíblica e usá-la para a nossa
própria ruína. Mas, pelo pensamento inspirado pelo Espírito, podemos
ajudar a fazer de nossas mentes santuários purificados em que Deus
terá prazer em habitar.
Referi-me
num parágrafo anterior aos "nossos pensamentos vo¬luntários", e usei
as palavras de propósito. Em nosso jornadear através deste mundo mau
e hostil, ser-nos-ão impostos muitos pensamentos de que não gostamos
e pelos quais não temos simpatia moral. As necessidades da vida
podem compelir-nos por dias e anos a abrigar pensamentos em nenhum
sentido edificantes. O conhecimento comum do que fazem os nossos
semelhantes produz pensamentos repugnantes à nossa alma cristã. Estes
necessariamente nos afetam, mas pouco. Não somos responsáveis por
eles, e eles passam por nossas mentes como um pássaro cruzando os
ares, sem deixar rastro. Não têm efeito duradouro em nós porque não
são propriamente nossos. São intrusos mal recebidos pelos quais não
temos amor e dos quais nos livramos tão depressa quanto possível.
Quem
quiser verificar sua verdadeira condição espiritual pode fazê-lo
notando quais foram os seus pensamentos nas últimas horas ou dias. Em
que pensou quando estava livre para pensar no que lhe agradasse? Para o
quê se voltou o íntimo do seu coração quando estava livre para
voltar-se para onde quisesse? Quando o pássaro do pensamento foi posto
em liberdade, voou para longe como o corvo, para pousar sobre as
carcaças flutuantes ou, como a pomba, circulou e voltou para a arca de
Deus? Ê fácil realizar esse teste, e, se formos sinceros conosco
mesmos, poderemos descobrir não só o que somos, mas também o que vamos
ser. Logo seremos a suma dos nossos pensamentos voluntários.
Conquanto
os nossos pensamentos instiguem os nossos senti¬mentos, e assim
influenciem fortemente as nossas vontades, é contudo certo que a vontade
pode e deve ser senhora dos nossos pensamentos. Toda pessoa normal
pode determinar aquilo em que vai pensar. Natu¬ralmente, a pessoa
aflita ou tentada pode achar um tanto difícil con¬trolar os seus
pensamentos, e mesmo enquanto se concentra num objeto digno,
pensamentos insensatos e fugidios podem fazer travessuras sobre a sua
mente, como vivos relâmpagos numa noite de verão. Tendem estes a ser
mais molestos do que perniciosos e, no final das contas, não fazem
muita diferença, sejam isto ou aquilo.
O
melhor meio de controlar os nossos pensamentos é oferecer a mente a
Deus em completa submissão. O Espírito Santo a aceitará e assumirá o
controle dela imediatamente. Depois será relativamente fácil pensar
em coisas espirituais, especialmente se treinarmos o nosso pensamento
mediante longos períodos de oração diária. Praticar lon¬gamente a
arte da oração mental (isto é, falar com Deus interiormente, enquanto
trabalhamos ou viajamos) ajudará a formar o hábito do pensamento
santo.
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