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A.W.Tozer
Contrariamente
à opinião popular, o cultivo de uma psicologia da crença acrítica não é
um bem incondicional e se levado longe demais, pode tornar-se
positivamente um mal: O mundo inteiro caiu estupidamente nas arapucas
do diabo, e a arapuca mais mortal é a religiosa. O erro nunca parece
tão inocente como quando se acha no santuário.
Um
campo em que armadilhas aparentemente inofensivas mas de fato mortais,
aparecem em grande profusão é o da oração. As doces noções sobre
oração existentes são tantas que não caberiam num volumoso livro, todas
elas erradas e sumamente prejudiciais às almas dos homens.
Penso
agora numa dessas falsas noções que se acha muitas vezes em locais
aprazíveis, em sorridente consórcio com outras noções de inquestionável
ortodoxia. É a de que Deus sempre responde à oração.
"Assim, quando uma oração não é respondida, ele só tem de sorrir vivamente e explicar: 'Deus disse Não'."
Este
erro aparece entre os santos como uma espécie de terapia filosófica
para todos os fins, para impedir que algum cristão decepcionado sofra
um choque forte demais quando se evidencia que as suas expectativas,
calcadas na oração, não se estão cumprindo. Dá-se a explicação de que
Deus sempre responde à oração, seja dizendo Sim, seja dizendo Não, ou
substituindo o favor desejado por alguma outra coisa.
Ora,
seria difícil inventar um artifício mais bonito que esse para salvar a
situação do suplicante cujos pedidos foram negados por sua
desobediência. Assim, quando uma oração não é respondida, ele só tem de
sorrir vivamente e explicar: "Deus disse Não". Isso tudo é muito
cômodo. Sua hesitante fé é salva de confusão e permite que sua
consciência minta tranqüilamente. Mas eu pergunto se isso é honesto.
Para
receber-se resposta à oração, como a Bíblia emprega o termo e como
historicamente os cristãos o têm entendido, dois elementos precisam
estar presentes: (1) Um claro pedido feito a Deus, de um favor
específico. (2) Uma clara concessão desse favor, feita por Deus, em
resposta ao pedido. É preciso que não haja nenhum desvio semântico,
nenhuma troca de rótulos, nenhuma alteração do mapa durante a viagem
empreendida para ajudar o embaraçado turista a encontrar-se a si mesmo.
Quando
nós dirigimos a Deus a petição de que Ele modifique a situação em que
nos achamos, isto é, de que Ele responda a oração, precisamos preencher
duas condições: (1) Devemos orar segundo a vontade de Deus e (2)
devemos estar naquilo que os cristãos à moda antiga muitas vezes chamam
de "território da oração"; isto é, devemos estar vivendo de modo
agradável a Deus.
É
vão pedir a Deus que aja de maneira contrária aos Seus propósitos
revelados. Para orar com confiança, o peticionário deve assegurar-se de
que a súplica se enquadra na livre vontade de Deus quanto ao Seu povo.
"...devemos estar naquilo que os cristãos à moda antiga muitas vezes chamam de 'território da oração';"
A
segunda condição também é de vital importância. Deus não se pôs na
obrigação de acatar pedidos de cristãos mundanos, carnais ou
desobedientes. Ele só ouve e responde às orações dos que andam em Suas
veredas. "Amados, se o coração não nos acusar, temos confiança diante de
Deus; e aquilo que pedimos, dele recebemos, porque guardamos os seus
mandamentos, e fazemos diante dele o que lhe é agradável... Se
permanecerdes em mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o
que quiserdes, e vos será feito" (1 João 3:21, 22; João 15:7).
Deus
deseja que oremos e deseja responder às nossas orações, mas Ele faz o
nosso uso da oração como privilégio, fundir-se com o Seu uso da oração
como disciplina. Para recebermos respostas à oração precisamos cumprir
os termos de Deus. Se negligenciarmos os Seus mandamentos, as nossas
_petições não serão levadas em consideração. Ele somente alterará
situações à solicitação de almas obedientes e humildes. O sofisma,
Deus-sempre-responde-às-orações, deixa sem disciplina o homem que ora.
Pelo exercício desta peça de lisonjeiro casuísmo, ele ignora a
necessidade de viver sóbria, justa e piedosamente neste mundo, e de fato
entende a peremptória recusa de Deus a responder sua oração como sendo
a própria resposta. É natural que tal homem não cresça em santidade;
que nunca aprenda a lutar e a esperar; que nunca saiba o que é ser
corrigido; que nunca ouça a voz de Deus, convocando-o para ir avante;
que nunca chegue ao ponto em que estaria moral e espiritualmente apto
para ter respondidas as suas orações. Sua filosofia errônea o arruinou.
Por
isso exponho a má teologia em que se firma a sua má filosofia. O homem
que a aceita nunca sabe onde está; nunca sabe se tem a verdadeira fé
ou não, pois, se o seu pedido não é atendido, ele evita a conclusão
certa com o artifício de declarar que Deus fez girar a coisa toda e lhe
deu outra coisa. Ele não se sujeitará a atirar num alvo, de modo que
não se sabe se é bom ou mau atirador.
"Por isso exponho a má teologia em que se firma a sua má filosofia."
De
certas pessoas Tiago diz claramente: "... pedis, e não recebeis,
porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres." Dessa breve
sentença podemos aprender que Deus rechaça alguns pedidos porque aqueles
que os fazem não são moralmente dignos de receber a resposta. Mas isto
nada significa para aquele que foi seduzido pela crença em que Deus
sempre responde à oração. Quando um homem desses pede e não recebe, faz
um passe de mágica e identifica a resposta com alguma outra coisa. A
uma coisa ele se apega com grande tenacidade: Deus nunca manda ninguém
embora, mas invariavelmente atende todos os pedidos.
A
verdade é que Deus sempre responde à oração que se harmoniza com a Sua
vontade revelada nas Escrituras, contanto que aquele que ora seja
obediente e confiante. Além disto não nos atrevemos a ir.
Fonte: [ Bom Caminho ]
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