Os
transtornos depressivos têm sido alvo da atenção dos meios de
comunicação, pelo que, ainda que nem sempre um leigo seja capaz de
entender toda a dinâmica da doença, há à partida alguma sensibilidade
para o problema e para o seu carácter incapacitante. Em relação aos
transtornos de ansiedade o desconhecimento e a desinformação são maiores
e é também por isso que quem sofre deste tipo de perturbações se sente
muitas vezes discriminado. Para a generalidade das pessoas pode até ser
muito difícil compreender e empatizar com as dificuldades de alguém que
aparentemente não consegue levar a cabo tarefas simples do dia-a-dia. Conheço algumas situações de pacientes que se sentiram rejeitados pelas respectivas famílias – alguns foram acusados de preguiçosos e de fingidores.
Mas de que falamos quando falamos dos constrangimentos provocados pela ansiedade social? Imagine alguém que se sente ansioso pelo simples facto de ter de sair de casa.
Imagine que essa pessoa se sente imediatamente acelerada e angustiada
com a mera hipótese de ter de enfrentar os olhares das outras pessoas.
Imagine também que essa pessoa possa sentir-se alarmada só por ter de ir
ver o correio, já que isso pode implicar o contacto visual com
vizinhos. Pode parecer-lhe estranho mas há muitas pessoas que sobrevivem
desta forma. Olham para o chão quando se cruzam com alguém,
sentem-se constantemente observadas e alvo de sátira, mesmo quando
fazem tudo para passar despercebidas, convencem-se de que os risos das
outras pessoas têm a ver com o facto de existir algo de ridículo em si
mesmas e encaram a possibilidade de sair de casa para enfrentar
situações novas como aterradora.
Os níveis de ansiedade são de tal modo elevados que, não raras vezes, o paciente passa pela experiência de despersonalização,
sentindo-se como se estivesse numa realidade paralela, num sonho, em
que se observa a si mesmo. Esta sensação de desconexão é extremamente
desconfortável e pode gerar comportamentos súbitos e estranhos,
contribuindo para a agudização do sofrimento do paciente e para a sua
estigmatização.
Pontualmente
estas pessoas podem ser mais sociáveis, sentindo-se capazes de
interagir em grupo. Fazem-no em particular quando não têm de sair da sua
zona de conforto, isto é, quando estão em casa, rodeadas de familiares
próximos. Mas basta uma solicitação nova, que implique ter de enfrentar
uma situação até aí desconhecida, para que os pensamentos negativos
apareçam em catadupa e o coração dispare.
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