Há
muito tempo que se ouve falar de pessoas que não lidam bem com a
passagem dos anos e/ou com a entrada numa fase do ciclo de vida mais
próxima da morte. De um modo geral, e apesar de a esperança média de
vida ser cada vez maior, não é só o medo da morte que nos angustia.
Estamos genericamente cada vez mais preocupados com o envelhecimento e
os seus danos, no entanto, há pessoas que se destacam pela angústia e
ansiedade com que gerem estas alterações.
Se,
por um lado, não há nada de patológico no facto de pintarmos o cabelo
ou recorrermos a produtos de beleza que retardem os efeitos da
ancianidade, há claramente casos bastante mais complexos e perturbadores
que envolvem o medo exacerbado de envelhecer. De qualquer forma, há um
elemento comum nestes processos: apesar de cada vez mais homens e
mulheres recorrerem a cirurgias estéticas e tratamentos de beleza
caríssimos, todos travam uma luta inglória, já que é impossível travar o
tempo.
A
gerascofobia define-se como o medo persistente, anormal e injustificado
de envelhecer e acarreta normalmente grande infelicidade. Pode atingir
pessoas que se encontrem de boa saúde do ponto de vista físico,
financeiro, etc.
Tal
como noutras fobias, esta perturbação pode dar origem a sintomas
concretos, como falta de ar, tonturas, sudação excessiva, boca seca,
tremores, palpitações, dificuldade em raciocinar ou falar claramente,
descontrolo, despersonalização (sensação de estar fora da realidade) ou
ataque de pânico.
Há
alguns factores directamente associados a esta perturbação e que estão
relacionados com a história de vida do doente: a existência de outras
fobias ou focos de ansiedade exacerbada, falta de realização pessoal ou
cumprimento de objectivos de vida e até o contexto socioeconómico.
Trata-se normalmente de pessoas ansiosas ou com personalidade narcísica e
que sobrevalorizam os bens materiais. Além disso, o facto (ou a
possibilidade) de perderem os seus atributos físicos e o poder de
sedução constitui uma fonte de angústia e sofrimento. Ao contrário do
que superficialmente se possa considerar, esta não é uma perturbação que
possa atingir qualquer pessoa, já que depende claramente da forma como
cada um amadurece.
Mas
o medo de envelhecer está longe de se circunscrever à estética – a
angústia é generalizável à perda de competências intelectuais e
capacidades físicas em geral. E se há pessoas capazes de gastar
verdadeiras fortunas em produtos sem os quais “não podem viver”, a
prática exagerada de exercício físico e a ortorexia são outras respostas
comuns ao problema.
Outro
padrão comum a estas pessoas é o relacionamento amoroso com pessoas
mais jovens. De algum modo, a capacidade para conquistar alguém
significativamente mais novo confere-lhes a sensação de poder e de
valorização. Para alguns essa necessidade é colmatada através de
comportamentos típicos de um adolescente, como a aquisição de uma mota
depois dos 50 anos. Mesmo que não possam parar o relógio, os
gerascofóbicos adoptam estes comportamentos de evitação porque isso lhes
permite auto-enganar-se sobre a sua verdadeira idade e, assim, reduzir
os níveis de angústia e ansiedade.
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