O
Sr. Silva (chamemos-lhe assim) chegou ao meu consultório depois de duas
ou três passagens pelas urgências do Hospital. Os sintomas que o levavam
àquela unidade de saúde eram sempre os mesmos: taquicardia (sensação de
que o coração estaria a “mil à hora), suores excessivos, fraqueza nas
pernas e tonturas. Nenhum dos exames efectuados confirmou a presença de
qualquer patologia cardíaca. No entanto, os sintomas teimavam em não
desaparecer.
Rapidamente
se chegou à conclusão de que o problema teria origem nervosa. Os níveis
de ansiedade associados àquela sintomatologia levavam à suspeita de
Síndrome de Pânico.
Para
quem não sabe, os sintomas de uma crise de ansiedade exacerbada podem
ser semelhantes aos de um ataque cardíaco, deixando o paciente com um
medo fortíssimo de que algo grave esteja prestes a ocorrer.
Além
disso, podem surgir outros sintomas “enganadores”. Por exemplo, algumas
pessoas descrevem todos os sintomas característicos de perturbações no
ouvido (o que as conduz a um número infindável de exames de
otorrinolaringologia).
Noutros casos, a descrição aponta para uma sensação de pressão na cabeça, sensação de desmaio ou de que a própria pessoa “não está lá”
(despersonalização), o que pode ser altamente perturbador. Algumas
pessoas têm mesmo a sensação de que estão a perder o controlo, ou que
estão a enlouquecer.
Em
primeiro lugar, importa referir que estes casos são mais frequentes do
que se possa imaginar. De facto, há cada vez mais pessoas (mais homens
do que mulheres) a recorrer a hospitais e consultórios com este tipo de
sintomas. Depois, este não é um quadro característico de pessoas fracas.
As crises de ansiedade e o Síndrome de Pânico podem atingir mesmo
aquelas pessoas que são frequentemente caracterizadas como alguém com
“personalidade forte”.
Mas
a mensagem mais importante a reter diz respeito ao facto de um ataque
de pânico não conduzir ninguém à morte (ainda que os sintomas possam
transmitir a ideia de que se está a morrer sufocado).
E
o que é que pode estar por trás deste tipo de manifestações? As causas
são diversas, no entanto, há uma base comum: estas pessoas estão
normalmente a atravessar uma situação difícil, e não se sentem aptas
para a resolver. Em muitos casos, as dificuldades psicológicas são
camufladas porque a própria pessoa não sabe como lidar com as emoções
negativas.
Por
exemplo, alguns homens demonstram facilmente sentimentos como a raiva
ou a ira, mas nunca exteriorizaram de forma eficaz a sua tristeza, os
seus medos, ou a sua ansiedade.
A
inabilidade para encarar estas emoções acaba por transformar-se em
tensão, com manifestações físicas que dificultam o diagnóstico.
Recordemos
o exemplo do Sr. Silva. À primeira vista, não existiam factores
psicológicos implicados neste quadro de ansiedade: estava satisfeito do
ponto de vista profissional, sentia-se integrado num grupo de amigos e
tinha reatado uma relação amorosa. Ao fim de algumas consultas foi
possível conhecer algumas pistas acerca do contexto do problema:
existência de perturbações fóbicas noutros membros da família,
dificuldade em expressar tristeza (de forma verbal e não verbal), e
absorção de quase todos os problemas da sua família de origem.
Antes
de encarar a hipótese de se tratar de um problema de base psicológica, o
Sr. Silva fez diversos electrocardiogramas, recorreu a vários
especialistas, iniciou uma dieta rigorosa e intensificou o exercício
físico. Apesar de ainda ser novo, temia um ataque cardíaco. Só não
imaginou que tivesse que recorrer a um psicólogo!
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