Praticamente todas as pessoas já experimentaram níveis elevados de ansiedade - a propósito da realização de um exame, em antecipação de uma qualquer mudança que, como todas as mudanças, implica o medo do desconhecido, ou em função de qualquer problema cuja resolução não seja clara. Em suma, quando nos preocupamos com a possibilidade de não sermos capazes de superar determinado obstáculo, é normal que os níveis de ansiedade subam. E, até certo ponto, é saudável que assim seja, na medida em que o medo nos protege de cometermos erros. A preocupação e a ansiedade podem ser muito úteis, impedindo-nos de agir impulsivamente, levando-nos a consultar outras vozes quando nos sentimos inseguros em relação a determinada mudança ou empurrando-nos para sessões de estudo intensivo antes de sermos expostos a um exame.
Mas para algumas pessoas a ansiedade
não é momentânea e muito menos protetora.
É uma presença constante, que
atrapalha, que incapacita, que diminui. Nestes casos, falamos de níveis de
ansiedade variáveis, que vão desde a sensação de batimento cardíaco acelerado
logo ao acordar até aos ataques de pânico que podem ou não estar associados a
um evento específico. A preocupação é sistemática mas não é frutífera, na
medida em que não dá azo a respostas ajustadas aos problemas. Muitas vezes os
problemas nem sequer estão claramente identificados. O mal-estar e a sensação
de inadequação é que são perfeitamente identificáveis.
Há com certeza muitas pessoas que
se reconhecem nesta descrição. Infelizmente, o reconhecimento do problema está
longe de produzir os efeitos esperados, já que nem todas as pessoas tomam a
iniciativa de pedir ajuda para tentar ultrapassar uma perturbação que É TRATÁVEL.
Em primeiro lugar, é preciso
reconhecer que qualquer transtorno ansioso é uma perturbação emocional e não
uma cruz que deva ser carregada indefinidamente. Pode ser difícil vislumbrar
uma vida livre de ansiedade, em particular porque os transtornos ansiosos
implicam, na maioria das vezes, uma série de pensamentos negativos, crenças
irracionais, que implicam que o paciente olhe à sua volta e seja incapaz de
reconhecer uma saída. Mais: boa parte destas pessoas vive convencida de que aquele
é o seu estado normal, atendendo ao volume de problemas. Ignoram que o seu
olhar sobre a realidade está muito condicionado pelas lentes pessimistas desta
perturbação.
Só depois de darem o primeiro
passo, que em muitos casos passa por um desabafo junto do médico de família, é
que começam a acreditar que a vida possa ser diferente. Que os problemas até
podem ser reais mas que a resposta tem sido desajustada.
E de que intervenção precisam?
A resposta mais apropriada e mais
segura inclui a MEDICAÇÃO E A
PSICOTERAPIA. Ao contrário do que tantas vezes se supõe, um transtorno
ansioso não se trata com calmantes. É ao médico - de família ou psiquiatra -
que compete fazer uma avaliação rigorosa que permita discernir sobre a
medicação mais ajustada. Em muitos destes casos o tratamento inclui a toma de
um antidepressivo que funcionará como uma ferramenta essencial para que a
pessoa possa sentir-se menos ansiosa. Os ansiolíticos (calmantes) são muitas
vezes prescritos apenas em SOS.
Como a medicação não produz milagres, é crucial que o paciente seja
acompanhado por um psicólogo e que, através da psicoterapia seja feita uma
caminhada que inclua:
❤ a identificação das feridas
emocionais que possam estar na origem do transtorno ansioso,
❤ o reconhecimento de todos os
pensamentos negativos que atordoam aquela pessoa
❤ e, claro, o desenvolvimento de
competências que permitam que as emoções comecem a ser geridas de forma muito
mais saudável.
Como, de um modo geral, estas
perturbações condicionam - e muito - os laços afetivos, é expectável que, ao
longo do processo terapêutico, também essas relações sejam analisadas.
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