Uma teologia do sexo
O
que Deus criou primeiro: a fome ou a comida? Deus fez o homem ter fome e
depois inventou o alimento para saciar a necessidade? Ou será que Deus
primeiro inventou os alimentos
e, em seguida, deu ao homem um apetite que o motivasse a buscar esse
bom presente de Deus? Enquanto nós geralmente criamos uma necessidade
para depois conseguir satisfazê-la, Deus tem um fim antes mesmo do
início. Ele cria bons presentes e, só depois, cria uma necessidade para
eles. Ele não cria uma necessidade para a qual não haja preenchimento. O
tema deste capítulo é, simplesmente, sexo, e quero oferecer uma breve
teologia do sexo e do desejo sexual. Quero ajudá-lo a ver por que Deus
criou o sexo, por que ele criou o desejo sexual, e por que ele
distribuiu o desejo sexual em medida desigual.
Sexo
Deus
nos dá o sexo porque ele tem um poder ímpar de conduzir um marido à sua
esposa e uma mulher ao seu marido. Ele sabe disso porque ele é Quem
inventou isso! Ele o fez de um modo que o sexo é muito mais do que a
soma de suas partes. Poderíamos descrever o sexo apenas em termos de
partes do corpo e hormônios, mas nunca chegaríamos nem perto de entender
o que ele é. É como tentar descrever um bolo
só em termos dos seus ingredientes – farinha, leite, ovos (ou, se
fôssemos descrever a Ceia do Senhor, fazendo referência apenas a comer
pão e beber vinho). Sexo vai muito além do aspecto meramente físico. Ao
contrário, estende-se para o emocional e espiritual. É através da união
sexual que duas pessoas são feitos uma só. É um mistério que só pode ser
comparado, em termos de impacto, com a união de Deus ao seu povo, como
somos enxertados nele.
Deus
deu-nos algo extraordinariamente poderoso e foi sábio em colocar
limites rigorosos sobre isso. Ele tem todo o direito de fazê-lo porque
ele é quem criou o sexo e criou sua função. Sexo, então, é para
ser compartilhado apenas entre um marido e sua esposa, e não pode ser
estendido para outros, quer antes do casamento, quer durante o casamento
(Mateus 5:27,28). O sexo não deve ser despertado até a hora certa
(Cantares 8:4). Sexo é para ser praticado regularmente, durante um
casamento (1 Coríntios 7:1-5). Tais limites não são destinados para
inibir a liberdade, mas para aumentar a liberdade. Quando usamos este
dom como Deus o quer, ganhamos grande alegria e liberdade nele. Quando
utilizamos o dom de forma errada, acabamos sofrendo por tal abuso.
A
finalidade do sexo, então, é fornecer um meio único através do qual o
marido e sua esposa podem conhecer um ao outro, servir um ao outro,
expressar vulnerabilidade, dar e receber. Nenhuma outra área no
casamento oferece tanto a ganhar
e tanto a perder. Nenhuma outra área no casamento põe o casal tão
junto. E nenhuma mensagem poderia estar mais longe do que o que é visto
na pornografia.
Muitos
teólogos têm tentado chegar ao significado mais profundo do sexo. “Sexo
é uma imagem, uma metáfora, para apontar-nos as alegrias do céu”, eles
poderiam dizer. E talvez isso seja verdade. Mas eu não acho que a Bíblia
nos diz isso claramente. Também não estou convencido de que precisamos
encontrar algum significado mais profundo no sexo a fim de afirmar a sua
bondade. Sexo é inerentemente bom, porque foi criado por um Deus bom.
Não é necessário construir uma teologia complexa em torno do sexo como
se ele só fosse bom em algum tipo de sentido secundário. Ele é
perfeitamente bom em si mesmo. Mesmo que seu sentido último não seja
mais profundo do que o prazer e a satisfação mútua, o sexo é bom porque
Deus é bom. Ele poderia facilmente ter decretado que o sexo fosse uma
parte integrante de cada casamento e, em seguida, fazê-lo
intrinsecamente desagradável. Ele não o fez. Ao contrário, ele fez o
sexo quase transcendente no seu prazer. Em seu melhor, o sexo realmente
transcende a maior parte dos outros prazeres da vida. Em sua
singularidade, em sua alegria, em sua liberdade e vulnerabilidade. E
nestas coisas, o sexo põe marido e mulher juntos em uma maneira única e
inigualável.
Quando
você entende isso, você deve também compreende porque o sexo é para ser
desfrutado apenas entre marido e mulher. Você compreende porque Deus
proíbe o sexo pré-marital (fornicação), porque ele proíbe o sexo fora do
casamento (adultério) e por que ele proíbe o sexo egoísta
(masturbação). Todas estas coisas zombam da realidade. Todas estas
coisas são abusar do bom presente de Deus.
Desejo
Juntamente
com o sexo, Deus criou o desejo sexual. Quando jovem, eu, como tantos
outros, lutava com a incapacidade de expressar meu desejo sexual
crescente e até mesmo me lembro de clamar a Deus perguntando por que ele
tinha me dado esse desejo. Muitas vezes o desejo sexual é um fardo
pesado. A resposta às minhas perguntas veio só mais tarde.
Há
alguns que dizem que o desejo sexual existe apenas para motivar a
procriação, que a desejo de fazer sexo vai levar o marido a juntar-se à
sua esposa com o feliz resultado de concepção. Aqui C. S. Lewis aplica
um corretivo útil (em seu livro Cristianismo Puro e Simples). Ele afirma
que a finalidade biológica do sexo é a procriação (e não podemos perder
de vista este objetivo importante do sexo), mas ele traça um paralelo
útil com o apetite que temos para o alimento. A finalidade biológica de
comer é para reparar o corpo e, embora algumas pessoas sejam dadas à
glutonaria, nós sabemos que o apetite vai um pouco além da finalidade
biológica. Um homem conseguiria comer duas vezes mais comida do que seu
corpo necessita para seus efeitos biológicos, mas poucos vão comer isso
tudo.
Quando
se trata de sexo, porém, o apetite excede em muito a sua finalidade
biológica. Se o apetite sexual correspondesse à sua função biológica, a
pessoa só teria desejo sexual algumas vezes na vida, ou então ela teria
milhares de filhos. Será que isso não nos ensina que Deus deseja que
façamos sexo por motivos além da procriação? A única outra alternativa é
que esse apetite é um produto do pecado e deve ser suprimido. Mas não,
isso não pode ser. A Bíblia é clara em legitimar o desejo sexual. O
desejo dentro do casamento e o desejo pelo seu próprio cônjuge são
legítimos diante de Deus.
Deus
dá desejo sexual ao homem, um apetite sexual, porque quer que ele tenha
relações sexuais com a sua esposa. Será que não pode ser simples assim?
E mais, Ele dá um apetite forte que supera qualquer tipo de finalidade
biológica, porque ele quer que o casal a faça muito sexo. Afinal, a
única admoestação na Escritura quanto à freqüência do sexo no casamento é
permitir apenas uma breve pausa, com um objetivo bem definido e, mesmo
assim, apenas para o motivo específico de dedicar tempo à oração (ver
outra vez 1 Coríntios 7), e ainda, mesmo assim, só se ambos estiverem de
acordo. Na verdade, a Bíblia vai tão longe a ponto de dizer que o corpo
da mulher pertence ao marido, que ele tem autoridade sobre o corpo
dela. E que o corpo do marido pertence à sua esposa, ela tem autoridade
sobre o corpo dele. O princípio dominante é que maridos e mulheres devem
ter relações sexuais com freqüência e não recusar um ao outro este dom
especial.
Sexo
é uma parte integrante da relação de marido e mulher de tal forma que
Deus deu o desejo de participar disso, de apreciar esse relacionamento.
Este desejo sexual motiva o homem a buscar uma esposa e se casar com ela
para assim, juntos, eles poderem desfrutar do sexo. Este desejo motiva o
homem a continuar buscando sua esposa, mesmo depois de estarem casados.
Sem este desejo, sem este apetite, seria muito mais fácil para nós
evitarmos cumprimento do dever dado por Deus de ter relações sexuais (e
muitas) e, por meio delas, a experiência da intimidade e da unidade (e
muita). Então Deus dá o desejo que se destina a ser cumprido apenas
dessa forma. Se nós não experimentarmos as dores da fome nós podemos não
comer. Se nós parássemos de comer, nosso organismo iria parar e nós
morreríamos. Se nós não sentíssemos desejo sexual poderíamos não ter
relações sexuais. E se deixássemos de ter sexo, nosso casamento iria
sofrer e morrer. Desejo sexual, então, é um dom de Deus dado não para
atormentar, mas para motivar a obediência. Quando um jovem
inevitavelmente sente o desejo sexual não é um convite à pornografia e
masturbação, mas uma cutucada em direção ao casamento.
Desejo desigual
No
entanto, o desejo sexual, o apetite para o sexo, não é dado em igual
medida. Ele é geralmente dado em maior parte para os homens. Por quê? A
resposta, eu estou convencido, vai direto ao coração do relacionamento
marido-mulher. Deus ordena que os homens, maridos, sejam líderes. Os
homens têm o papel de liderança, enquanto as mulheres têm o de seguir.
Deus quer que os homens tomem a liderança, mesmo no sexo e, portanto,
ele dá aos homens um maior desejo sexual. Desta forma, os homens podem
guiar suas esposas, tomar a iniciativa, tendo o cuidado de amar suas
esposas de tal forma que elas desejem ter relações sexuais com seus
maridos.
De
modo geral, o homem encontra intimidade e aceitação através de sexo,
enquanto a mulher precisa experimentar intimidade e aceitação antes que
ela possa estar preparada para desfrutar o sexo. E assim Deus dá ao
homem um apetite sexual tal que ele possa, por sua vez, fornecer para
sua esposa necessidades antes que ela proveja para ele. Seu apetite
sexual não pode ser separado de sua liderança. Se a mulher estivesse na
liderança a este respeito, se ela sempre fosse a instigadora sexual,
seria muito menos provável que o marido buscaria sua esposa e procuraria
atender suas necessidades exclusivas. Você vê o quanto isso é bonito? O
marido tem um desejo que somente sua esposa pode satisfazer, um desejo
por sua esposa; Portanto, ele assume a liderança na busca de satisfazer
esse desejo. Ele faz isso ao encontro dos desejos de sua esposa que, por
sua vez, leva ela a apreciar e, finalmente, satisfazer seus desejos. E
então, nesse ato de consumação, Deus concede a graça que ultrapassa a
mera união de carne e osso.
Enquanto
o marido lidera, a esposa é chamada por Deus a submeter-se à liderança
de seu marido, mesmo no leito conjugal. Como em outras áreas da vida,
ela é chamada a desafiar tal liderança somente se as exigências do
marido violarem a sua consciência ou a lei de Deus. Podemos ver isso
como uma responsabilidade da mulher, mas também temos de ver isso como
uma responsabilidade particular do marido. Ele deve liderar de tal
maneira que sua esposa não tenha nenhuma razão para recusá-lo. Ele deve
ser sensível às suas necessidades e desejos. Ele deve reconhecer os
momentos em que, por uma razão ou outra, seria muito difícil para ela
doar-se a ele. Ele não deve tentar conduzi-la a atos que iriam deixá-la
desconfortável ou fazê-la sentir-se violentada. Ele precisa exemplificar
a liderança como um servo mesmo ali no quarto. Seus pensamentos devem
ser primeiro a favor dela. O marido pode ter, às vezes, tendência de ser
ou um tirano no quarto, abusando de sua liderança por dominação ou
abdicação. Ele nunca deve fazer isso.
Se
Adão e Eva gozavam sexo antes de sua queda em pecado (eu tenho a
impressão de que a Queda aconteceu pouco tempo depois da Criação, mas
creio que houve algum tempo entre os dois eventos, portanto, eles devem
ter gozado do sexo perfeito por um pouco.) não deve ter havido uma só
ocasião em que Eva recusou Adão porque nunca houve uma época em que ele
não esteve pensando primeiro nela. Que razão teria ela para recusar? Mas
depois que pecou, quando Adão parou de pensar em primeiro lugar em Eva e
quando ela começou a se rebelar contra sua liderança, foi aí que o sexo
tornou-se uma luta. E continua a ser uma luta hoje. Eu sei que a
maioria dos maridos e esposas irá concordar que eles tiveram mais lutas
sobre o sexo do que sobre qualquer outra coisa. O meio de graça mais
especial para um marido e sua esposa se tornou a maior causa de
conflitos. E isto é exatamente o que Satanás pretende. Apesar de Satanás
odiar qualquer tipo de prazer, ele ainda os usa para seus fins. Seu
plano é que as pessoas tenham muito sexo fora do relacionamento conjugal
e pouco dentro da relação do casamento quanto possível. Seu plano é
mascarar, ocultar o verdadeiro propósito do sexo por trás do prazer e o
mostrar como um simples ato físico. É um plano inteligente e que tem
sido provado eficaz repetidas vezes.
Você
vê como a pornografia distorce tudo isto? A pornografia faz uma
zombaria dos propósitos do sexo, do desejo sexual e do desejo sexual
desigual. Enquanto Deus diz que a finalidade do sexo é a construção da
unidade entre um marido e sua esposa, a pornografia diz que é apenas
para satisfazer todo o desejo com qualquer parceiro. Enquanto o desejo
sexual é bom, fazendo um marido buscar sua esposa (e a mulher o seu
marido) pornografia diz que não pode e não deve ser controlada. Todas as
mensagens da pornografia vão diretamente contra os propósitos de Deus.
Podemos
não entender exatamente o que o sexo faz dentro de um casamento, mas
podemos confiar que Deus tem seus motivos para inventá-lo e ordenar que o
experimentemos. O sexo é um chamado para o marido buscar a sua esposa e
para conduzi-la, como servo, para uma compreensão mais profunda e uma
maior apreciação deste dom. É um chamado à mulher par servir o marido,
confiando nele e confiando que os dons de Deus, quando usados como ele
determinou, sempre fazem bem.
Traduzido por Gustavo Vilela | iPródigo
Série originalmente publicada por Tim Challies
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